Capítulo - 1

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Fevereiro de 2019

Elisa pedalava incessante, sem saber ou questionar  o trajeto que seguia a mais de duas horas, contudo sua determinação continuava inabalável.  O ar frio da noite em Gravatá já estava congestionando o seu nariz e fazendo-a  espirrar a cada cinco minutos. As estradas não tinha quase nenhuma iluminação, rodeada de árvores e nenhuma civilização, eram de barro e por conta da chuva durante o dia, continha muitas poças de lama.

Seu coração acelerava ainda mais a cada som que as aves faziam e a cada crepitar que as ferragens da bicicleta ecoava no breu , sempre que ela  – sem perceber – atravessava um dos buracos.

— Você não pode me deixar na mão agora, por favor. – olhou para baixo e implorou para o objeto de alumínio.

O que estava facilitando a sua fulga naquele momento era apenas o clarão da Lua-cheia que reluzia impiedosa deixando visível os ferimentos em seus braços. Por um instante ela havia esquecido as marcas, sua pele tão bonita já não era mais a mesma a tanto tempo. E o que diria para sua mãe ao olhar pra ela? Como voltaria para os seus braços e pediria arrego? Receberia o conforto do abraço do qual sente tanta falta?

— Eu não aguento mais ... – diz em um sussurro para si mesma em meio a soluços.

Ela olhou para trás e em seguida para o alto e sentiu as lágrimas queimarem a pele do seu rosto. Cinco longos meses haviam se passado desde que deixou para trás a sua vida na cidade do Recife, ignorando os cuidados e conselhos dos seus pais e de sua melhor amiga.

— Clara, me desculpa...
Diante de todos os conselhos que sua amiga havia dado e todas as vezes que pediu para ela não se envolver nas suas decisões, implorou:
— Por favor, esteja aí quando eu chegar.

A sua liberdade estava a poucos passos de ser alcançada e o seu corpo não podia estar doendo mais do que um dia já doeu. Pensando nisso  e em todas as pessoas queridas que havia decepcionado, decidiu que seria forte, tiraria do seu dicionário a palavra desistir e os seus sinônimos.

Elisa puxou o ar para dentro dos seus pulmões e inclinou-se para forçar suas pernas a pedalarem mais rápido.

— VAI!!! – gritou em desespero cemicerrando os dentes a ponto de ser possível enchergar a veia pulsando em seu pescoço.

Usava um vestido azul feito de linho que ia até a altura do tornozelo. Embora agora posso dizer que a barra do mesmo aparenta nunca ter visto outra cor além da que estava coberto, o marrom do barro.

Com o peso da lama atrapalhando a cada volta no pedal, Elisa decidiu parar a bicicleta para resolver o pequeno problema.  Segurou firme o pedaço do tecido sujo e assim ele foi rasgado até a altura do joelho, ao findar proceguiu por mais duas horas na estrada, alternando entre pedalar e  descansar.

O dia começava a raiar quando ela avistou o amontoado de luz logo à baixo da ladeira e se deslumbrou com o laranja acobreado que pintava o céu naquele momento. Não conteve a emoção, as luzes da cidade pareciam estrelas no chão e os raios de Sol que abraçavam as nuvens pareciam chamas de fogo, quase como um lembrete da natureza pra ela.

Entrou em prantos, se entregou ao choro e aos gritos de vitória, sentindo o pequeno fio de esperança de que tudo ficaria bem.

Ao entrar na cidade de Camaragibe ela não sabia de onde tirar energia para continuar o trajeto. Estava cada vez mais difícil de encontrar o ar; pelo cansaço, o sono e a emoção. As suas pernas doíam, já não aguentavam mais a pressão e suas mãos estavam calejadas pelo guidão da bicicleta. Foi quando por um deslize dos olhos, as pálpebras se fecharam, dois segundos foram suficientes para que todos os músculos do seu corpo adormecessem e perdessem as forças, então ela caiu de encontro ao chão.

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