Um dia antes
"e aí, pessoal!
Preparados pra minha festinha atrasada de aniversário hoje a noite? Não vou bancar a ressecada de ninguém, tragam a bebidinha de vocês. Beijoss"No quarto, Clara enviava mensagens para os seus amigos entusiasmada sobre sua festa. No passado sua infância não foi fácil, embora agora tem um padrasto adorável e uma mãe extraordinária, mais que mãe, também uma amiga. Eles não são do tipo que impede o filho de viver sua juventude, pelo contrário, sempre incentivaram Clara a conhecer a vida e desfrutar da mesma – contanto que fosse de forma responsável.
Nesse dia, eles fariam uma viagem à São Paulo e ficariam uma semana longe de Recife; e como de costume, aconselharam a filha a não encher a casa com os colegas.
"Nem todos são amigos de verdade"
Essa foi a frase que ficou no pensamento da garota. E também foi a frase que fez seu coração se entristecer ao lembrar de Elisa.Fazia alguns meses que sua melhor amiga resolveu que seguiria a vida e deixaria a cidade que viveu a infância inteira para trás.
Clara lembrou da última conversa que teve com Elisa e por um instante seu rosto queimou.— Eu estou apaixonada, Clara!
–Disse Elisa, fitando a garota em sua frente enquanto aguardavam na estação do metrô.— Não estou julgando os seus sentimentos, estou julgado as suas atitudes diante disso. – respondeu.
— Ela mandou você vim aqui? Será que também vou ter que pedir pra você cuidar da sua própria vida? – Elisa falava da sua mãe, àquela altura nem mesmo os conselhos dela haviam a feito desistir.
— Ele não se importa com você.
— E você se importa? – a garota está inquieta e nos seus olhos um vislumbre de angústia.
— Não só me importo... – fez uma pausa, não queria falar o que estava guardando a tanto tempo numa situação como aquela. — Espero que você seja feliz como pensa que será.
— Você não pode querer estragar meu relacionamento só por causa do seu ciúme besta, Clara. Não é porquê a sua vida amorosa é uma merda que a minha também precisar ser!
Clara observou toda a cena com atenção, e as pessoas que passavam por elas também fitavam as duas curiosos.
— Você está decepcionando as pessoas que mais ama você. – falou num tom mais brando. A pele morena do rosto de Clara estava vermelha e volta e meia ela virava o rosto para secar as lágrimas que caiam sem Elisa perceber.
O metrô se aproximou e abriu para os passageiros entrarem nos vagões. Clara simplesmente entrou sem olhar para trás; e antes que o trem desse partida ela ouviu Elisa gritar algo, mas só foi possível decifrar as primeiras palavras. "Vejo você..."
Aquela foi a última vez que que as amigas se viram pessoalmente. Após esse dia, mesmo decepcionada, Clara ligava para Elisa e mandava mensagens, embora quase sempre era Samuel quem falava por ela, o que deixava Clara muitas vezes cismada com as desculpas esfarrapadas.
— Oi, posso entrar? – ela ouve uma voz feminina vindo do outro lado da porta, fazendo-a despertar dos seus pensamentos.
— Claro, mamãe. – respondeu.
A mulher adentra no quarto e seu perfume invade o cômodo. Estava com um vestido leve de alças finas e o seu cabelo cacheado preso em um coque, deixando para fora alguns fios.
— Você tá muito quieta, o que aconteceu? – pergunta assim que se aproxima da filha, que ainda está de costa para ela.— Elisa. – deu uma resposta curta e virou-se para sua mãe.
— Ela não vem? – pergunta demonstrando preocupação na voz.
— Não, mãe. Não vem. Nem com a tia Lúcia ela tem falado.— Eu também já vivi uma paixão assim. O tempo é importante nesse momento, filha. Elisa está no ápice do relacionamento dela e precisa viver esse sentimento, porque é o que a idade dela pede. Quando ela estiver mais adulta, o amadurecimento será inevitável e tudo será esclarecido em sua mente.
Clara já sabia dessa história de cor. Ela tinha apenas seis anos quando viu sua mãe no ápice dessa loucura e carrega consigo as lembranças, além de viver com as consequências até hoje.
— Vou tentar ligar mais uma vez. Preciso esclarecer as coisas, saber se ela está bem. E quem sabe, brigar por ter se tornado uma amiga tão egoista! – cruza os braços e inclina o peito para a frente.
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Querida Linha Tênue
ChickLitElisa estava no último ano do ensino médio quando sentiu pela primeira vez o que chamamos de "borboletas no estômago". E Samuel foi o provedor disso. O relacionamento dos dois pegou todos de surpresa, pois Eliza sempre foi requisitada por seus coleg...