GESTAÇÃO

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15° semana de gestação

Pouco mais de um mês após a ameaça de aborto, a barriga começava a aparecer. Uma semana depois de levar Irene de volta pra casa Antônio passou a trabalhar de casa, pois não queria sair de perto da esposa. Petra e Angelina estavam sempre a espreita, vigiando-a como cães de guarda. Nem mesmo Caio a deixava em paz, enteado e madrasta deram uma trégua visando o bem estar da mãe e do bebê, e agora o rapaz a carregava no colo pra cima e pra baixo.

A casa girava em torno dela e de sua gestação. Na 13° semana ela foi liberada pra um repouso leve, podia caminhar um pouco e até sair de casa, mas Petra, Caio, Angelina e Antônio, continuavam tratando-a comose fosse de porcelana, deixando-a tremendamente irritada. O assunto Ágata, morreu, ninguém ousava tocar no nome da mulher, Caio ainda se encontrava com a mãe, e Antônio esteve com ela uma vez apenas pra avisar que havia dado entrada nos papéis do divórcio.

Naquele dia Antônio estava estranhamente eufórico. Descobriram o sexo do bebê e ele andava ansioso de um canto a outro naquela casa, Irene chegou a cogitar a possibilidade de fazê-lo tomar um dos calmantes de Perta, que havia diminuído o consumo dos remédios, tomava um antes de dormir, e outro ao acordar, segundo a psicóloga se ela continuasse como estava, haviam grandes chances de abandonar o vício.

Quando finalmente chegaram ao consultório um burburinho começou, além do funcionários que a atenderam no hospital, e seu obstetra ninguém sabia da gravidez da imperatriz do soja, a mulher pediu sigilo absoluto. Mas agora com a barriga dando as caras seria impossível esconder por mais tempo.

Entraram no consultório empolgados, Antônio e Angelina torciam para que fosse menina, Caio, Luigi e Petra chutavam que seria menino e Irene não tinha preferência. Começaram o ultrassom e parecia que Antônio enfartaria com o suspense do médico.

- Parabéns papais, vocês terão...-Antônio arregalou os olhos e limpou o suor que escorria pela testa, Irene revirou os olhos e reprimiu um sorriso pelo jeito do marido- uma menina.

Antônio caiu de joelhos com os braços estendidos, Irene deu uma gargalhada genuína. Não esperava aquele tipo de reação do marido. Passaram em uma loja com artigos de bebê, e voltaram para casa radiantes.

A noite fizeram um jantar, e entregaram ao demais uma caixinha com um sapatinho Cor-de-rosa e um bilhete escrito " Eu sou uma menina".
Eles comemoraram alegremente, e passaram o resto da noite discutindo possíveis nomes.

19° semana

Aos cinco meses a barriga era perfeitamente visível, Irene já preparava os primeiros detalhes do enxoval, e a pequena já tinha um nome.
 
Se chamaria Mabel.

Mabel  significa amável, amorosa. Irene e Antônio queriam um nome bonito e significativo. A bebê que estava pra chegar uniu  aquela família, restaurou o amor entre eles e fez a harmonia voltar a reinar. Escolheram aquele nome por que Mabel significa amor, e é isso que aquela criança representava.

Era uma noite comum, estavam reunidos na sala tentando decidir o tema do quarto de Mabel, cada um dava uma sugestão, nuvens, céu, unicórnios, fadas, discutiam as inúmeras possibilidades e no fim restaram dois: jardim encantado e céu estrelado.

Enquanto debatiam qual a melhor opção, Irene teve um sobressalto e imediatamente levou a mão a barriga, ato que não passou despercebido aos olhos atentos de seu marido.

- Ô Irene, por que tá com essa cara? Tá com dor quer ir pro hospital?

- Ela chutou Antônio!

- Chutou? - ele levou a mão até a barriga da esposa-  Mabel mexe pro papai, mexe.

Petra e Caio também se aproximaram, queriam saber se a menina mexia. Irene fez todos ficarem em silêncio e relaxou, imediatamente a bebê começou a se movimentar e Antônio conseguiu sentir o chute, ficaram todos abobalhados com a novidade. Mabel nem havia nascido, e já tinha os La Selva na palma das mãos.

27 semanas e 4 dias

Beirando o sétimo mês, Irene já tinha dificuldades para dormir, Mabel ficava extremamente agitada durante a noite, a mãe sempre conversava com ela mas sua voz sempre a deixava mais agitada.

- Mabel a mamãe precisa dormir, se você não ficar quietinha eu não consigo descansar. -

Ela tocou a barriga e mabel, passou a chutar ainda mais, Antônio que havia acabado de entrar no quarto notou o desconforto da esposa.

- O que foi Irene?

- A nossa filha não me deixa dormir. Eu tento falar com ela mas só piora, minha voz é como energético pra ela.

- Deixa eu tentar - ele se sentou na cama e apoiou levemente a cabeça no ventre da esposa- Oi Mabel, é o papai. - a criança chutou - eu sei que você gosta de irritar a sua mãe, mas enquanto você não nasce quem aguenta o tranco sou eu. - Irene revirou os olhos- olha sua mãe fica com um mal humor tremendo quando tá com sono, deixa ela dormir um pouquinho.

Magicamente a criança se acalmou, Irene se acomodou na cama e finalmente adormeceu. Acordou pela manhã quando sentiu a ausência do marido a seu lado. Se levantou tomou um banho rápido e desceu. Estranhou por não encontrar o marido junto aos filhos tomando café.

- Bom dia mãe.

- Bom dia Irene.

- Bom dia! Onde o pai de vocês foi?

- Sei não Irene. - respondeu Caio

- Ele recebeu uma ligação e saiu. Não sai pra onde ele foi.

- Bom, ele deve ter ido resolver alguma coisa na empresa, parece que tem algum problema com a transportadora ele já está a alguns dias tentando resolver.

Nesse momento o celular da matriarca, apitou, era a notificação de uma mensagem. Olhou o número desconhecido e resolveu ver a mensagem mesmo assim.

Abriu as fotos e teve um grande choque, a cor se esvaiu de seu rosto e ela ficou trêmula no mesmo instante. Ela mal podia acreditar no que via.

Em uma das fotos Ágata estava nua e Antônio tinha apenas uma toalha em volta da cintura, na outra eles estavam na pousada de Lucinda sentados em uma mesa um pouco mais distante e a mão dela estava sobre dele em cima da mesa.

Irene sentiu o mundo desabar sob seus pés. Ela realmente havia acreditado na mudança do marido, ele cuidava dela, era atencioso. Ela se sentiu enganada, o gosto da traição era amargo, e ela sentia.
Sentiu ódio dele, de Ágata, sentiu ódio de si mesma por amá-lo tanto e por ter acreditado que ele podia ser diferente.

Mas agora ela estava decidida, não aceitaria mais essa humilhação iria embora daquela casa imediatamente. Ou pelo menos achou que iria. O destino tem essa de nos pregar peças e quando ela menos esperava sentiu um líquido quente descendo por duas pernas.

- A bolsa estourou!

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