15 - EFFUTTIO

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EFFUTTIO (v.) do latim significa desabafar. Ato de destapar, dizer o que sente, desafogar.

Roberta

O tratamento da paciente Rosamaria está correndo de maneira muito melhor do que nós esperávamos. Já não precisamos mais deixá-la com os braços presos, Dra. Gabriela já mandou diminuir a dosagem dos calmantes e conversamos sobre o processo de iniciação do tratamento terapêutico. Que para ela, achamos muito necessário ser algo menos invasivo possível, iniciamos com a aromaterapia acompanhada com a terapia cognitiva comportamental, com indicações de continuidade depois da alta da paciente, agora já com sua terapeuta familiar. Escolhemos juntamente com o neurologista os primeiros óleos a serem utilizados por ela no primeiro momento e seria dessa forma até que pudéssemos fazer uma próxima avaliação neurológica. Rosamaria vem respondendo muito bem, e nós estamos com as melhores expectativas para esse tratamento, entendemos que é muito importante para ela que dê certo, para que ela possa voltar para o convívio dos filhos e nós faremos o possível.

Para que eu possa entender melhor tudo que de fato levou ela a chegar a esse ponto, e saber como guia-lá e até mesmo passar as informações para a terapeuta dela, hoje eu teria conversas com seus familiares e amigos, para entender como cada um representa e se sente com tudo isso acontecendo e como era até chegar onde estamos. Os adultos eu conversaria em pares, mas as crianças para não correr o risco de omitirem alguma coisa pela presença do adulto, estarão sozinhas em uma sala infantil, para que a conversa flua de maneira informal e eu consiga que elas se abram o máximo possível.

Como eu não tinha avisado com antecedência, hoje poucos da família estavam transitando pelo hospital. Quando cheguei na recepção, chamei os pais dela para conversar e ao final perguntarei pelos outros.

— Olá, bom dia! Me chamo Roberta, e como vocês sabem eu sou a psicóloga que tem acompanhado o caso da Rosamaria. — vi seus olhares se arregalarem como se estivessem com medo da notícia que poderia vir — Calma, não aconteceu nada. Apenas faz parte dessa nova fase do tratamento que vamos entrar agora, uma conversa minha com todos os familiares e amigos próximos, ok?

— Que susto! — Roque falou enquanto soltava o ar que tinha prendido — Tudo bem.

Comecei com eles repassando que tinha acontecido no dia do acidente, e depois pedi para que eles me falassem um pouco sobre como era a filha deles desde criança, como eram seus relacionamentos, suas relações e como Rosamaria estava nos últimos tempos, os dois iam modulando a respiração ao passo em que eu ia perguntando e eles foram de um largo e bonito sorriso, para rostos carregados de preocupação. Adelir respondeu primeiro:

— Nós temos duas filhas, é impossível falar da Rosamaria sem citar a Paula. — A senhora começou e de novo colocou um sorriso afetuoso no rosto. — Elas sempre foram muito amigas e por conta disso depois de nós, a Paula foi a primeira pessoa com quem a Rosamaria teve uma relação de cumplicidade, parceria e cuidado. As duas sempre se protegeram, se defendiam e foi assim por boa parte da infância da minha filha, na adolescência essa relação permaneceu firme, contudo a pouca diferença de idade fez com que nessa fase cada uma buscasse suas coisas, mas no final do dia, eram as duas juntas e mais ninguém.

— A Paula mora em Santa Catarina hoje, mas mesmo assim elas estão sempre em contato. — Roque continuou — São muito parceiras, e a gente sabe que a Paula foi importante para a nossa filha em momentos que poderiam ser muito difíceis, como a descoberta da sua sexualidade. Paulinha foi a primeira para quem a Rosa contou, e foi junto dela que a nossa caçula veio conversar conosco. E depois ao longo da sua vida, e até antes dela vir para cá por conta da universidade, ela foi tendo bons colegas, uma ou outra namorada, alguns namorados e tudo sempre foi muito bem resolvido.

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