16 - CONSECUTIO

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CONSECUTIO (s.f) do latim significa consequência. Resultado natural, provável ou forçoso de um fato, dedução tirada por meio de raciocínio de um princípio ou de um fato, conclusão dimanada das premissas, importância, alcance.

Rosamaria

Eu já estou há dois dias no quarto novo, e como isso me deu uma outra energia, as pequenas coisas estão fazendo a diferença, como por exemplo, ver uma novela na televisão, no isolamento eu não tinha oportunidade de fazer isso. No primeiro dia aqui, a enfermeira que trouxe o meu almoço, disse que voltaria para me levar até o jardim interno para que eu pudesse caminhar um pouco e ver outras pessoas, me animei profundamente e comi todo o meu almoço na esperança de que ela não demorasse para voltar. Nesse meio-tempo de espera, outra enfermeira passou e me explicou que essas primeiras 24 horas seriam de adaptação ao quarto novo e ao maior fluxo de pessoas que iriam circular por aqui a partir de agora. E pareceu que elas tinham combinado, porque assim que uma pediu licença para sair, a outra chegou trazendo uma cadeira de rodas, eu nunca fiquei tão feliz por andar em uma, o combinado foi que eu iria até a parte do jardim na cadeira, mas que lá eu poderia caminhar livremente pelo espaço. E assim aconteceu, eu não sei precisar a alegria de estar vendo outras pessoas, vendo o céu, depois de tanto tempo presa ali dentro, a enfermeira foi uma querida comigo, conversamos um pouco e ela deixou que eu ficasse descalço por pouco mais de dez minutos explorando o espaço arborizado. Acreditem, isso era muito satisfatório, como eu disse, pequenas coisas que faziam grande diferença para um paciente psiquiátrico, que é o que eu me tornei.

Hoje Roberta e Gabriela viriam para uma conversa, que elas disseram ser padrão pós adaptação de mudança espacial e tudo mais, no entanto eu só conseguia pensar que eu não vejo a hora de ver meus filhos, ordem um de prioridade era vê-los e abraçá-los. Depois do almoço, as duas chegaram enquanto eu penteava um pouco os meus cabelos, pois tinha tomado uma medicação que me deixa sonolenta, então eu praticamente comi e dormi, e elas me alcançaram com sorrisos no rosto e esperaram que eu acabasse o que estava fazendo, para que pudéssemos conversar. Gabriela trocou dois ou três olhares com Roberta e me encarou antes de começar.

— Bom, eu não sei guardar segredo. — Gabriela disse e Roberta negou com a cabeça — A nossa paciente mais querida e procurada está muito bem e hoje merece uma surpresa.

— A partir de hoje as visitas já estão liberadas, Rosa! — Meus olhos se encheram de repente — A assistente social já avisou a todos os familiares, estão todos lá fora te esperando e principalmente seus pequenos.

Eu não estava conseguindo responder, estava muito emocionada, eu esperei tanto para ver o João e a Júlia, e parecia que esse dia não ia chegar nunca.

— Aí, — Limpei rápido meus olhos com as costas das mãos — poxa, por favor! Pede pra eles entrarem, por favor!

— Calma! — Gabriela pediu sorrindo — Se acalma, nós iremos trazê-los. Só mais uma coisa, você autoriza a vinda da sua esposa? A gente precisa saber, para liberar que a assistente social faça a ligação e avise à ela.

— Sim! Autorizo, agora não vejo problema em recebê-la. — Afirmei convicta. — Agora por favor, tragam as minhas crianças.

— Certo, nós vamos lá buscar os dois, mas se lembra que você está sendo monitorada, fique calma se não o oxímetro vai apitar e bom, você sabe, a gente vai precisar acalmar você. Tudo bem? — Assenti. — Jóia! Já voltamos.

Assisti em silêncio as duas saírem do quarto e tratei de me levantar para ver o meu reflexo na televisão, queria estar bem apresentável para vê-los. Fiz uma trança lateral nos meus cabelos, bebi um pouco de água e sentei no sofá para esperá-los, também não queria que eles me vissem na cama. Meu coração estava a mil, e eu tentava respirar fundo e devagar para não ter nenhuma alteração e estragar meu encontro com meus filhos.

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