27 - OBSERVATIONIS

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OBSERVATIONIS (s.f) do latim significa observação. Ação de considerar com atenção as coisas, os seres, os eventos; ato ou efeito de obeservar(-se).



Júlia

Sabe, é muito difícil entender que a mamãe sumiu um tempão e depois voltou querendo ver a gente, será que ela só teve saudade agora? Porque eu tenho saudade todos os dias! Eu sei que aconteceu um monte de coisa, e parece que nem a mamãe Rosa nem as titias querem ela pertinho da gente, mas é a minha mamãe e eu estou feliz que ela voltou, mesmo sem entender porque ela sumiu. A dinda disse que ia conversar com os adultos pra me dizer, a mamãe Rosa não fala nada, e a tia Carol só diz que vai me contar e nunca conta.

Eu sou criança, mas eu sei que a mamãe Rosa não está bem, eu escuto ela falando no telefone com a vovó Adelir, e eu já ouvi ela falando muitas coisas de adulto. Por isso que eu fico triste, querendo comemorar que a mamãe Carol voltou, mas eu sei que ela fica triste e o irmão também.

É muito difícil isso, sabe? Eu só queria ver a mamãe, porque eu acho que ela quer ver eu também. Então porque é triste e ruim? Essa parte de ser criança é que não é legal, eu queria muito entender tudo melhor.


Estela

Olha eu posso dizer de verdade? É muito legal ver a dinda perto de novo, parece que eu tenho cinco anos de volta, quando ela me levava pra tomar sorvete, e também levava eu no cinema pra ver desenho junto com o João e também levava gente pra ver o jogo do Galo. Agora que ela está mais perto de novo e parece que curou da depressão, tudo parece que vai voltar ao normal, mas ao mesmo tempo a mamãe Carol dá confiança, mas a mamãe Nani não, então eu fico pensando, eu estou feliz, mas se a mamãe não está, é porque alguma coisa ainda está errado. Só que ela disse que eu podia gostar da Dinda de volta, então eu estou feliz e pronto, eu estou torcendo pra ela poder me levar no cinema de novo, sempre tinha chocolate quando ela levava e a mamãe não deixa eu comer chocolate, mas a dinda sempre deixou.

E se tem outra coisa que me deixou muito feliz, foi ver a Júlia feliz de novo. Ela é quase um bebê, e piorou quando a dinda sumiu, várias vezes ela me falava que estava com saudade e que não falava nada com o João, porque ele dizia que não gostava mais dela. Acho muito estranho ele não gostar da mãe dele, eu amo as minhas duas mães igual. Nem imagino um dia sem elas, sem gostar delas, estranho... Mas eu entendo ele, desde o dia que ela esqueceu de pagar o lanche dele na cantina, ele ficou triste ué, depois a tia Rosa foi ficando doente, a gente bateu o carro, ela ficou mais doente e a dinda sumiu. Pensando como adulto, eu acho que também não gostaria mais dela depois de tudo isso. Então se o João não quer mais falar com ela, tudo bem. Eu tô com ele, ué.

— Estela, vem jantar filha! — Voz da mamãe Naiane, é melhor eu ir, ela anda brava ultimamente.

— Já tô indo! — Respondi correndo pra sala, ela não gosta de falar duas vezes não. — O que é o jantar? — Perguntei já chegando na cozinha e mamãe me olhou de cara feia.

— Que história é essa? — Ela subiu a sobrancelha — Independente do que for, você vai comer!

— É hambúrguer de grão de bico, Tetê. — A mamãe Carol me respondeu, eu fiz que sim e sentei. — Bom apetite, amor.

— Obrigada. — Sorri e comecei a comer, elas também. — Mãe, — cutuquei a mamãe Carol por baixo da mesa. — o João não quer falar com a dinda né? Mas eu quero! Se ela me chamar para o cinema, eu posso ir?

— Podemos conversar sobre isso depois, tá bom? Eu prometo.

— Porque eu estou ouvindo vocês cochichando? — Minha mãe perguntou séria. — Posso participar também?

— Naiane, podemos conversar depois sim? Precisamos!

Vi a mamãe fazer uma careta, mas mesmo assim fez que sim com a cabeça. Eu terminei de jantar elas pediram para eu ir escovar os dentes que elas iam fazer coisa de adulto.


João

Não sei o que se passa na cabeça da minha mãe Carol. Não consigo ver esse movimento dela como algo natural, depois de tudo que já passamos por causa dela, tudo que eu consigo pensar é em qual vai ser o próximo problema que ela vai trazer pra gente.

Por mim, eu não teria mais contato nenhum. Demorei muito a conseguir voltar a falar com meus avós e entender que eles não tinham culpa pelas coisas que ela fez. A mãe Rosa precisou conversar muito comigo, e agora estou um pouco melhor com eles, mas com ela eu acho que não vai dar. Eu até que tento às vezes pela minha irmã, dava pra ver a felicidade dela em ter a mãe por perto mais uma vez, e como ela disse que só ficaria feliz se eu também quisesse, e percebi um olhar de pedido da mãe Rosa para mim, achei justo fazer por elas. A felicidade delas é o que me importa.

— João, ajuda a sua mãe, meu bem. — A tia Marcela foi me buscar hoje e fomos almoçar juntos — Eu sei, quer dizer, faço ideia de como você está se sentindo e não tiro a sua razão de maneira nenhuma, mas você sabe da sua influência com a sua irmã. E se você não se abre, filho, ela não vai conseguir fazer a mesma coisa. — Eu dei de ombros — E sua mãe Caroline está tentando, João. Pensa nisso!

— Tia, me desculpa, mas nem ideia a senhora faz. Porque não viveu tudo que a gente viveu, a minha mãe esqueceu que tinha filho, família, a minha mãe Rosamaria ficou meses no hospital, e a única vez que ela foi lá, fez para piorar tudo que tinha acontecido. — Engoli um pouco seco, não ia chorar por ela não vale a pena — Eu posso ajudar a minha mãe, a Júlia, mas não me pede para esquecer. É impossível, eu não sinto verdade nela, não me faz bem.

— Tudo bem, meu amor! Vai no seu tempo, só pensa no que eu te falei. — Assenti voltando a comer, na verdade eu queria ocupar a boca para não precisar responder. Estava de saco cheio desse assunto.

Eu não via a hora de ir pra casa, eu gosto de passar o tempo com minhas tias, mas ultimamente tudo se trata de falar da mãe Caroline, e isso estava me irritando. Quando cheguei em casa, achei que ia conseguir me acalmar novamente, mas pra minha surpresa a mãe Rosa e a tia Carol estavam já em casa e conversando sobre uma viagem que ela precisaria fazer e onde eu e Júlia ficaremos nesse tempo.

— Eu não quero ficar na minha mãe, sem chances! — Falei chegando perto delas. Minha mãe bufou e me encarou séria.

— Não é uma opção João, eu preciso ir e vocês vão precisar ficar com ela. A Caroline é mãe de vocês, e está livre, vocês vão para a casa da Cida e vão ficar com ela. Já está decidido.

— Não sei porque foi que ela voltou, ninguém estava sentindo falta... — Resmunguei e fui para o meu quarto.

Parece que estão todos me obrigando a esquecer de tudo como se eu fosse a Júlia, e fingir que ela é a melhor mãe do mundo depois de ter zoneado toda a nossa vida. Mas tá bom, não adianta falar com a mãe, eu posso até ir, mas vou ignorar qualquer coisa que venha dela. Vai ser do meu jeito!


***

Capitulo mais curto porém com um pouquinho do que esta passando na cabeça das crianças também!

Estamos de volta, e se tudo der certo sem mais interrupções!

Contem para gente o que vocês esperam que aconteça daqui em diante


Beijos, Fla e Lau


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