19 - RETRORSUM CONVERTI

652 118 39
                                    


RETRORSUM CONVERTI (v.t.) do latim significa retornar. Voltar de onde partiu, regressar.


Carolana

O último mês foi um misto de emoções, as crianças estavam à flor da pele, nós estamos tão igual ou mais. A função de ser responsável legal delas não influenciou em nada na nossa rotina, somos família, nada mudou, a única coisa que aconteceu foi uma adaptação de uma casa que antes tinha uma criança só e passou a ter três temporariamente, porque a minha amiga logo vai estar em casa conosco, tenho certeza. Dividimos os cuidados com Adelir e Roque, não que os outros avós não participem, eles estão sempre muito presentes, porém do jeito deles, dando total espaço às crianças. Os pais da Rosa nos ajudam principalmente por causa da rotina de terapia das crianças, decidimos Naiane e eu que seria importante que Estela também iniciasse um processo terapêutico, ela está presente nisso tudo e viveu o trauma do incidente. E de certa maneira, mesmo com menor intensidade, também sente a rejeição da madrinha. Fora que apesar de não parecer, nossa filha é uma criança que precisa de cuidados.

Fora isso, nós tentamos da melhor forma possível criar novas rotinas, já que apenas as extras escolares que eles tinham não eram suficientes para que ao menos tentassem se distrair um pouco de todos os problemas que estavam rondando. Então, para isso, criamos a noite dos filmes, a noite dos jogos, a noite das meninas onde a Júlia e Estela escolhiam o que iríamos fazer, e a noite do menino onde João é quem mandava na programação. Isso foi muito importante para que conseguíssemos amenizar um pouco todo o sofrimento, algumas vezes Roque e Adelir nos acompanhavam nesses dias, outras vezes Cida e Maurício, mas esses em menos quantidades já que o João principalmente ainda não queria muita proximidade. Confesso que espero muito que possamos manter esses momentos após minha amiga voltar para a casa, vai ser bom para ela e para todos nós poder compartilhar desses momentos e fazer o que foi uma fuga para nós, se tornar um lazer em família.

No dia que recebemos a incrível e esperada notícia de que amanhã a Rosamaria receberia alta, as crianças, é claro, não pensaram duas vezes antes de dar a ideia de uma festa de boas vindas a ela. E eu não poderia de forma alguma negar aquilo a elas, que a tanto tempo não demonstravam um sorriso tão genuíno e uma felicidade tão sincera como estão desde então. Como hoje era domingo, combinei com as crianças nossa ida ao shopping após o almoço para comprar as coisas da festinha, e tudo foi feito com a maior alegria do mundo por todos nós, nem parecia que já estávamos cansados de tanto andar, o motivo valia qualquer coisa. Ao voltarmos para casa, mandei as crianças para o banho e combinei que assim que terminassem nós iríamos ao apartamento deles começar a organizar tudo, já que ainda não tínhamos certeza do horário que a Rosa viria pra casa.

Entre muitas gargalhadas e brincadeiras, tínhamos um bolo feito e decorado por Júlia e Estela, além de balões e cartazes com mensagens colados por toda a sala. João foi prendendo um a um, é claro que seguindo exatamente as orientações de uma Júlia perfeccionista que queria tudo exatamente do seu jeitinho para a chegada da mãe. E o João como um irmão excelente e ainda mais protetor agora, em momento nenhum tentou contrariar a empolgação e ordens da pequena.

Quando foi anoitecendo, tudo já estava pronto e nos encontrávamos jogadas no sofá. João tinha um sorriso no singelo em seu rosto, Júlia um brilho novamente em seus olhos e Estela olhava para os dois com um sorriso de orelha a orelha. Eu tenho certeza que minha filha sentia ainda mais que nós a tristeza deles. Nosso momento foi quebrado com a porta abrindo e minha esposa entrando, olhando tudo à sua volta, e é claro deixando um sorriso e uma lágrima, que ela logo tentou esconder, escapar.

— Dinda, olha o que a gente fez pra mamãe. — Júlia falava enquanto pulava no sofá apontando para todos os lados. — Será que ela vai gostar? A gente fez bolo também, mas tá na geladeira, não pode abrir ainda.

SKYLINE.Onde histórias criam vida. Descubra agora