Prólogo - A Tempestade Está Próxima

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"Cavaleiros na tempestade
Nesta casa nascemos
Neste mundo somos lançados
Como um cão sem osso, um ator emprestado".

- Riders on the Storm - The Doors

Brownwood, Texas

A noite envolvia a cidade com um frio inesperado, o tipo de ar gelado que faz você encolher os ombros sem perceber. Ainda estou me ajustando à mudança brusca; o sol parecia tão insistente de manhã, e agora, tudo que resta é essa brisa cortante que escapa pelas mangas da minha jaqueta. Algo me incomodava, uma sensação estranha, como se tivesse esquecido alguma coisa importante, mas não sei o quê.

Foi necessário voltar à universidade para resolver umas pendências chatas e dar uma olhada nos dados que solicitei. Trabalho diretamente nas salas de aula e isso me dá acesso a algumas informações que podem ser a peça-chave para o que estou tentando desvendar. Saí mais tarde do que planejava. A investigação me mantém alerta, curioso. Mal posso esperar para chegar em casa e explorar tudo o que coletei durante o dia.

No carro, a música que havia escolhido era suave, mas minha mente estava longe. Minhas mãos no volante estavam um pouco mais tensas do que deveriam, e eu forço os ombros a relaxar. O céu está escuro, sem estrelas, e as ruas quase vazias. O vento balançava as árvores à minha volta, e por um segundo, parecia que elas estavam sussurrando algo, contando segredos que não consigo entender.

A cidade à noite tinha um silêncio diferente, uma tranquilidade que, às vezes, me confortava. Mas hoje, não conseguia desligar meus pensamentos. Meu coração batia rápido, e eu me perguntava se é só o cansaço ou a ansiedade de estar tão perto de uma resposta. O caos dentro de mim nunca se dissipava completamente. Sempre existia uma parte de mim que parece agitado, inquieto, como uma criança impaciente antes de um grande evento.

O silêncio é uma ilusão. Parece tranquilizador, mas não engana por muito tempo. Minha mente não parava, nunca parava. Mesmo quando tudo ao redor se aquieta, dentro de mim é sempre turbulência. É como tentar respirar embaixo d'água, o caos constante sufocando. Eu tento, por alguns segundos, fingir que estou no controle. Mas sei que é passageiro, porque o caos... ele sempre volta. Ele é parte de mim, como uma doença crônica que não dá trégua.

Ela sabe disso. Sempre soube. Desde o momento em que nos conhecemos, o momento que conhecemos a nossa verdadeira face. Aqueles olhos dela se fixaram nos meus, e eu senti. Ela enxergou através das máscaras que construí. Aquelas máscaras frágeis que só me protegem dos outros, não de mim. Ela me lê sem esforço, sem dizer uma palavra. É exaustivo. Cada vez que nossos olhares se encontram, sinto uma pontada no peito, uma mistura de desconforto e desejo. Ela me vê de uma maneira que ninguém nunca viu. E isso me destrói, ao mesmo tempo que me atrai.

Meus dedos estão rígidos no volante, os nós dos dedos brancos. Tento me concentrar na estrada à frente, mas minha mente insiste em voltar para aquela última conversa com ela.

"Você não vai falar sobre o que está acontecendo, vai?" Ela pergunta, sem rodeios. É direta, o tom levemente irritado.

Eu solto o ar, pesado. "Não tem nada pra falar."

Ela bufa, aquele som seco que ela faz quando está perdendo a paciência. "Você nunca fala. Sempre guarda tudo pra si, como se fosse resolver as coisas sozinho."

Engulo em seco. As palavras dela perfuram. Sei que ela está certa, mas não consigo mudar. Não consigo parar de construir essas barreiras. "É o jeito que eu sou," murmuro, minha voz mais áspera do que eu pretendia.

Mistérios Sepultados - Série Sombras Do Passado - 1Onde histórias criam vida. Descubra agora