Capítulo 01 - Não Corra do Vazio

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"Eu preciso de uma outra históriaAlgo para desabafar A minha vida é um poucoaborrecida Preciso de algo que eu possa confessar"

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"Eu preciso de uma outra história
Algo para desabafar
A minha vida é um pouco
aborrecida
Preciso de algo que eu possa confessar"

- Secrets - OneRepublic


Uns meses atrás
San Diego, Califórnia

Eu corro, mas não sei por quê. A estrada à minha frente parece se esticar como se fosse feita de borracha, ondulando sob meus pés. Os postes de luz se erguem no céu como gigantes, distorcidos e intermináveis. Tudo ao redor está envolto em uma neblina, as bordas do meu campo de visão parecem borradas, como se eu estivesse presa em uma fotografia antiga, que perdeu a cor com o tempo.

O vento frio corta o meu rosto, mas o ar está pesado, denso demais. Respiro com dificuldade, como se o oxigênio não chegasse aos meus pulmões. Meus pulmões ardem. Minhas pernas, cada vez mais pesadas, insistem em continuar, impulsionadas por algo invisível, algo que me puxa para frente sem explicação. Não consigo parar.

Olho ao redor, buscando uma saída, um ponto de referência. As formas se misturam. Os faróis de carros distantes piscam no horizonte, parecem tão longe, mas ao mesmo tempo assustadoramente próximos. O mundo ao meu redor oscila, como um sonho que se dissolve antes de ser compreendido.

- O que está acontecendo? - Tento gritar, mas minha voz se perde no ar, abafada, sufocada. Ninguém pode me ouvir. Talvez nem eu mesma.

De repente, vejo.

Faróis. Dois pontos de luz cortando a escuridão, como olhos que me encaram de longe. Eles se aproximam rápido demais. Algo dentro de mim grita, um alerta, uma súplica, mas as palavras morrem na minha garganta. Eu sei que preciso avisar... mas quem? Não consigo lembrar. Meus pensamentos se embaralham. Tudo está errado.

Os carros. Agora consigo ver claramente. Dois carros vindo de direções opostas, rápido demais, como se fossem se fundir. Eles não desaceleram. Não desviam.

- Não! - Tento, novamente, mas minha voz se quebra no vazio.

Minhas pernas travam. O mundo ao meu redor parece congelar, mas os carros continuam. O som dos motores é abafado, como se eu estivesse debaixo d'água. O tempo, aquele traidor, se estica e se contrai, deixando tudo surreal. Eu estou parada. Incapaz de agir.

E então, o impacto.

Não é o som que me atinge primeiro, é o tremor. Uma vibração profunda sobe pelo chão e atinge meu corpo. A explosão de luz e calor se espalha como uma onda, me atingindo de longe, como um soco surdo. Vejo faíscas dançando no ar, a colisão metálica ecoando nos meus ouvidos, mas de um jeito distante, abafado.

O mundo à minha volta se desfaz. Vidro. Fumaça. O cheiro de borracha queimada preenche o ar. Tudo se quebra em pedaços ao meu redor, mas nada faz sentido.

Eu corro, mas não chego a lugar algum. Os destroços estão ali, tão perto, mas cada passo parece me afastar ainda mais. A fumaça me envolve, densa, sufocante, engolindo o que restou. Meus pés se afundam em algo que não reconheço. Não é chão, não é concreto. É como se eu estivesse andando sobre o vazio.

Mistérios Sepultados - Série Sombras Do Passado - 1Onde histórias criam vida. Descubra agora