Capítulo 3 - O encontro

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Montienie 09/05/2006 19:58

Minha mente acordava do apagão, vendo pequenos feixos de luz consigo aos poucos recuperar meus sentidos. Minha cabeça latejava, estava dolorida, aos poucos abria os olhos, consigo enxergar mais ao canto August e mais duas pessoas conversando, ao olhar para frente vejo mais uma pessoa.

Tento me mexer mas logo percebo estar amarrado, mesmo já tendo recuperado parte de meus sentidos ainda estava falho, tão falho que não consigo entender oque falavam, tão falho que não percebo a chegada de August.

Meu pescoço é virado brutalmente, August cuspiu em minha cara, aos poucos minha audição voltava, e de um ruído comecei a ouvir as coisas que falavam.

Mais ao fundo ouço comentários do tipo "bixa", "viadinho"...

Logo sinto uma dor imensa em meu estômago, havia levado um soco,  ao ter recuperado parte de minha audição ouço uma das coisas que Stanler me falava.

— Quantas vezes se masturbou enquanto eu dormia? Ein? Quantas vezes pensou em mim te fudendo? — dizia em um tom rígido e frio enquanto gargalhava.

Minha cabeça não raciocinava, talvez eu só estivesse esperando meu destino, o farfalhar das árvores parecia gritante, os cachorros latindo eram o barulho mais árduo da noite, a tempestade que se ameaçava cair era a mais turbulenta.

Me senti empurrado, ao bater as costas na madeira em pedaços gemo de dor, sentia as farpas atravessando meu moletom.

Olho para August em ironia, mesmo machucado e sem raciocínio, sabia do ego dele, tudo que ele queria era que alguém batesse uma pensando nele. Mas ele sabia que minha resposta não lhe agradaria, talvez, por isso ele tenha amarrado minha boca com um pano.

Ele parecia furioso, me olha e não diz nada, apenas lança um forte soco em meu nariz que logo começa a sangrar.

Um de seus capangas se aproxima, uma faca lhe é dada e logo ele a aponta embaixo do meu olho.

— Preparado para ser mais uma vítima da Besta de Montienie? — Seu riso era possível de se ouvir, sarcástico e cruel, assim como quem o produzia.

A lâmina logo é colocada mais a fundo, não chegava a fazer um corte, mas se fosse mais pra frente perfuraria.

— Acho que a tia não sentiria falta desses olhos esquisitos. — As pessoas na sala riam, eu o olhava com desgosto, não acreditava que aquele era meu melhor amigo...

A lâmina entrava em contato com minha pele, lhe dando um perfuro superficial.

Mas, antes que algo pior acontecesse, todos vimos as luzes do teto piscarem enquanto o chão balançava, August sai de perto de mim abaixando a faca, ao olhar para a janela do local foi possível se ouvir um barulho estranho, não era um uivo, nem um rugido, era simplesmente indecifrável.

Os capangas foram até a área externa, não demorou muito para que o sangue deles ficassem na janela, August deu um pulo para trás assustado, a porta do local se abria em um som estridente, era ensurdecedor.

Aos poucos uma imagem branca foi aparecendo, sua boca estava coberta de sangue e alguns pedaços de roupa, ele se aproximava de August, rugindo, o outro não demorou muito para correr pela porta dos fundos, mas isso não foi o suficiente, a verdadeira besta correu atrás dele, eu não consegui ver oque aconteceu, ambos já estavam fora do meu campo de visão, mas logo vejo a fera reaparecendo.

Ele me olha e eu consigo ver seus olhos heterocromaticos, eram simplesmente como um labirinto mortal, eu acho que nunca esqueceria deles, seus brilhos eram intensos, quase sufocantes.

A fera se aproxima. Eu, que já estava sem me movimentar, simplesmente travo,  mas me surpreendo ao ver a fera indo para trás de mim, sinto sua baba em meus pulsos e logo eles são soltos, a fera havia me soltado, olho para trás, os mesmos olhos ainda me encaravam, ele se aproxima e da uma lambida em meu olho ensanguentado, não faço nada, estava como uma pedra.

Minha cabeça doía, sentia que a qualquer momento iria desmaiar, quase desmaiei, a fera veio se aconchegando, lhe faço um carinho e ele apenas deita em meu colo, fico levemente assustado, talvez eu tenha morrido e esse seja meu sonho alucinógeno.

Aos poucos me encosto na madeira junto a fera de pelugem branca, logo adormeço, e a última coisa que sinto são as pelugens macias e claras.

"Jovem desaparecido é encontrado após 12h próximo a fazenda Clint..."

Minha cabeça doía, a única coisa que eu ouvia eram sirenes, olho para meus braços e a fera não estava mais lá, minha ferida já parava de sangrar, olho para o lado de fora antes de adormecer novamente.

Montienie 10/05/2006 8:30

Acordo em uma cama de hospital, minha cabeça latejava, sinto mãos em cima das minhas, após recuperar um pouco dos sentidos percebo ser minha mãe, aperto sua mão, ela me olha, estava chorando.

Apartir daí coisas aconteceram, eu não havia esquecido da besta, de como ela me tratou e de como me livrou da morte.

Eu a protegi, escondi a verdade por trás de tudo, falei oque August havia feito, e disse que um lobo da área havia o assustado, mas antes de entrar novamente a porta havia se fechado. A polícia acreditou, prenderam August e a vida continuou.

Após isso a irmã de Stanler veio falar comigo, me pediu desculpas por tudo que o irmão fez, principalmente as ofensas já que a própria era da comunidade.

Era algo que poucos sabiam, mas Alicia irmã de August tinha um relacionamento com Valéria, a recepcionista de uma doceria da área, ambas namoravam desde o ensino médio e atualmente moram juntas.

Eu procurava a besta depois do acontecido, todo dia após a escola eu dava uma escapada para a floresta, olhava, procurava, gritava, mas nada, eu não havia encontrado-o.

Perguntava sobre, já estava ficando óbvio que eu sabia de algo, mas sempre conseguia engana-los, eu sempre estava me perguntando, onde estava a besta de Montienie?

Nós rugires da noite, uma alma acinzentada surge, trazendo consigo, angústia, morte e sangue.

A besta de MontienieOnde histórias criam vida. Descubra agora