03 de maio de 2022
Os sons ficavam cada vez mais altos, as sirenes dos carros da polícia invadiam meus pensamentos me deixando completamente perdida e atordoada, eu estava inerte, não podia mexer nem se quer um dedo, meu corpo não estava mais sobre meu controle, os olhares de pena me destroçavam de dentro para fora, me tirando a paz e a alegria, e então, a cena mudou. Eu andava pelos corredores da escola, vários rostos conhecidos, dos quais tenho memórias de sorrisos e gargalhadas, agora, me olham com desprezo, nojo, pena e até medo.
Sinto o vento frio me consumir quando corro, corro e corro, sem saber a direção, até chegar naquele lugar, as árvores novamente cobrem completamente a luz escassa da lua, me deixando em uma completa e vazia escuridão. O medo toma conta de meu corpo quando sinto o toque de uma mão fria em minhas costas, um tremor percorre meu corpo, impedindo-me de me mover.
— Marina...- Uma voz me chama, eu a conheço, e quero segui-la, mas o medo me agarra, me impedindo de sequer respirar
Tento me mover, mas é como se meus músculos estivessem tão pesados que não consigo erguê-los
— Marina... abra os olho!- Sinto um toque novamente, dessa vez mais calmo, quente e reconfortante- Por favor...
Finalmente consigo me mover, quase como se as correntes que me mantinham presa ao chão tivessem se quebrado e me libertado. Corro, simplesmente continuo a correr como se minha vida dependesse disso.
— Acorda Marina- Sinto as mesmas mãos de antes agora me entornando por completo, um abraço quente e reconfortante, me fazendo fechar meus olho- Pode abrir os olhos... está tudo bem...
Os sussurros em meu ouvido fazem minha pele se arrepiar, me fazendo abrir instintivamente os olhos e encarar a escuridão de meu quarto, sendo anulada somente pelo meu abajur e a luz da lua passando pela minha janela, que muito provavelmente esqueci de fechar antes de dormir.
— Tudo bem?- Escuto a mesma voz de antes, me encontrando um rosto conhecido
— Antone?- O encaro sentindo suas mãos ainda me segurando, só então vejo que os travesseiros e lenções estão completamente jogados e revirados pelo carpete do chão.
Oi...-Ele acaricia meu cabelo, sinto seus dedos dividindo as mechas e as passando por entre eles- Está tudo bem?
— Acho que sim- Digo confirmando com a cabeça- Eu fiz muito barulho?
— Não, na verdade, eu nem teria escoltado caso não tivesse passando em frente a seu quarto para ir lá em baixo.
— Pelo menos dessa vez eu continuo em minha cama.
— Com quanta frequência isso ocorre?
— Os pesadelos?- Ele confirma com a cabeça- Quando eu era mais nova aconteciam quase todas as noites, mas com o tempo parou, na verdade, era quase um evento acontecer isso nos últimos anos, mas há cerca de um mês voltou a ser ridiculamente frequente.
— Sinto muito
— Não sinta, não é culpa sua- Respiro fundo, puxando todo o ar que posso para preencher meus pulmões- Na verdade, isso nem é uma coisa tão séria assim
— Como assim, não é séria?- Ele diz ficando muito mais sombrio- Você estava se contorcendo enquanto chorava e implorava por ajuda, como isso pode não ser nada de mais?
— Eu me acostumei com isso a muitos anos Antone, não precisa se preocupar, assim que eu for embora dessa cidade as coisas vão se acalmar e tudo vai ficar bem.
— Nós dois precisamos falar sobre isso uma hora ou outra Marina- Sei que ele está falando muito seriamente, afinal, o mesmo raramente me chama de marina.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um Assassinato Esquecido (Concluído)
De TodoDe todas as maneiras possíveis, a verdade sempre vem a tona, mesmo que demore dias, meses ou anos, e quando ela chega, te arrebata como um furacão depois da calmaria, e quando você menos espera, te afoga em um turbilhão de tristezas e arrependimento...