Capítulo 31 - Coração resiliente

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Ao ficar abraçada com sua cabeça encostada no peito dele, Camila sente as batidas aceleradas.
- Você está bem?
- Estou sim, muito bem. Por quê?
- Seu coração está batendo muito rápido, qualquer coisa procura um médico, já que estamos num hospital...
- Cami... - Ele diz com a voz mais firme, e segurando a mecha de seu cabelo e a pondo atrás de sua orelha, prossegue. - Eu estou bem.

Camila fica tensa, mas acredita nas suas palavras.
- Ok, mas me promete que se sentir mal, me avisa?
- Aviso sim. - Ele sorri e a abraça mais forte.

Camila se afasta um pouco para poder tirar o colar que Marilak lhe deu.
- Guarda com você pra mim?
- Guardo sim.
- Vem, se abaixa um pouquinho. - Ao fazer o que ela pediu, Camila põe o colar no pescoço dele. - Ficou lindo em você.

Woosung fica surpreso, no pescoço dela, o pingente de cristal estava rosa. E ao pôr no seu, a cor mudou para azul.
- Ele muda de cor de vez em quando, ainda não sei todos os significados das cores, mas Ma disse que é um amuleto de proteção.
- Gostei, será que também vou ganhar um desses?
- Quer ficar pra você?
- Não, não... Presente é presente. Nunca lhe pediria para me dar algo que ganhou de alguém, principalmente da Ma.
- Vejo que Ma lhe causou uma boa impressão.
- Ela me lembra minha falecida avó.
- Sinto muito.
- Tudo bem, já faz algum tempo. Sinto muito a sua falta, mas não vamos falar de acontecimentos tristes.
- Está bem. - Camila o abraça novamente. - Obrigada!
- Pelo o quê?
- Por estar na minha vida e por ter salvo a da Maya. Sou grata por ter me impedido naquela noite. Se eu tivesse feito aquela loucura, não estaria aqui para ajudar a Maya.
- A vida nos prega peças e o destino escreve de um jeito que nunca vamos entender.
- Você acredita que o destino cruzou as nossas vidas por um propósito?
- Sim, ou até mesmo por vários. - Responde ao passar as mãos nos cabelos dela.
- E um deles é a Maya.
- Provavelmente. Aquela menininha é formidável, ao pensar nela, fico imaginando em como seriam os nossos.

Nesta vida, ela nunca desejou ser mãe, mas ao ouvi-lo falar desse jeito, a fez sentir grande tristeza.
- Como seriam? - Camila sente um nó na garganta.
- Perdão, mas a minha realidade não me permite planos para um futuro mais distante.
- Vamos continuar tendo esperança, milagres acontecem.
- No meu caso um milagre, para outra pessoa significa morte. Não sei se veria isso como benção ou fardo, pois precisar que alguém morra para que eu possa viver, me parece tão injusto. Deve ser por isso que na maioria dos casos de transplantes, não informam identidade do doador.
- Quem foi mesmo que disse para não falarmos de acontecimentos tristes?
- Fui eu, desculpa.
- Eu entendi o que quis dizer, mas me prometa que não vai recusar quando um coração compatível surgir?
- Prometo, mesmo pensando o que eu disse, o meu momento atual muda a configuração de muitas coisas. Antes eu não tinha para o que lutar, hoje tenho você ao meu lado.
- Juntos vamos ver o milagre, acredite.

Woosung segura o rosto dele e afirma.
- Vou aprender a acreditar com você, está combinado assim?
- Está.
- Eu te amo... - Diz antes de beijá-la.

Uma hora depois, os exames chegaram na mesa do Doutor Elias. Com os resultados satisfatórios em mãos, ele deu a ordem para os preparativos do procedimento. E apesar da insistência dela para que Woosung estivesse presente, o médico apenas permitiu a presença dele no momento da anestesia, por entender a sua fobia de agulhas e acreditar que ao atender parcialmente o pedido dela, Camila vai se sentir mais segura e seu medo será controlado.

Deitada na cama no Centro Cirúrgico, Camila segura forte a mão de Woosung, que está fria não só pelo ar condicionado, mas por ela estar completamente apavorada. Após aplicarem a anestesia, aos poucos ele sente a mão dela soltar a dele.
- Por favor senhor, não há como ficar com ela?
- Não posso permitir isso, poderia ser perigoso pra ela mesma. Todo procedimento cirúrgico tem seus riscos e já nos arriscamos permitindo a sua presença até aqui.
- Entendo, obrigado por isso.

Woosung se levanta da cadeira que estava sentado e sai da sala. Ele tira a máscara, a touca, o avental e por fim, as luvas descartáveis. Com passos lentos e pesados, anda em direção ao banheiro próximo à sala de espera.

Rafael que estava sentado ali, ao vê-lo o cumprimenta.
- Oi Woosung! - Mas Woosung o ignora totalmente e entra no banheiro. Ele acha estranho, porém continua ao de está.

Confuso, lava as mãos e o seu rosto. Ele mesmo percebe que está muito pálido, suas mãos estão trêmulas e muito frias. A sua mente está uma bagunça, o que acabou de ver lhe trouxe pensamentos estranhos. Cenas sem nexo em sua cabeça estão surgindo como flashes de memória. Inicialmente como se fossem de algum filme e depois como se ele realmente as tivesse vivido.

"O quê está acontecendo comigo?"

Lembrando novamente da cena da mão de Camila soltar a sua ao adormecer, ele lembra do seu antigo sonho, onde uma linda princesa dava seu último suspiro de vida, soltando a sua mão da mesma maneira.

"Não posso perdê-la mais uma vez, precisa evitar isso!"

Uma voz masculina ressoa na sua cabeça.

"Eu devo estar com algum tumor cerebral, que voz é essa falando comigo?" Pensa ao abrir a torneira.

Woosung lava o rosto novamente e ao se olhar no espelho, se assusta ao ponto de quase cair. Isso não aconteceu, porque ao dar passos para trás se choca com a porta da cabine de um dos sanitários.

Ele fica assombrado com o que vê, o seu reflexo não está mais lá. No lugar dele, ele vê no espelho a imagem de um homem asiático, alto, cabelos medianos, parcialmente presos. Ele está usando vestes antigas que lembram as dos imperiais da Ásia. Sua pele branca como de porcelana, orelhas pontudas, lábios carnudos e olhos tristes, chamam a sua atenção. Além do medo, Woosung é invadido pela sensação de familiaridade.
- Quem é você? - Pergunta sem esperar resposta, já que acredita que aquele homem só pode ser fruto da sua imaginação.
- Você.

Ao ouvir a resposta, Woosung corre até a porta do banheiro. Ao pegar na maçaneta para abri-la, está trancada. Ele olha para o espelho e o tal homem continua o observando.
- Não adianta fugir de você mesmo, deveria saber disso Woosung. - Ele diz serenamente.

Woosung volta e pára diante do espelho.
- Eu morri?
- Não, ainda não.
- Então... Enlouqueci.
- Dependendo do ponto de vista de quem nos vê, somos todos loucos.
- Quem é... Não, o quê é você? Não venha com esse papo que você sou eu! - Diz ao cerrar os olhos e se aproximando mais do espelho, procurando enxergar melhor.
- Sabemos muito bem que sabe a resposta desta pergunta.
- Lee Jong-Suk. - Ao dizer seu nome, a imagem no espelho sorri de canto e desaparece, fazendo retornar o seu reflexo atual.

Woosung fica ofegante e extremamente aflito ao ser bombardeado pelas suas lembranças como Jong-Suk. A dor do luto pela sua Moon Seori no passado, está agora o atormentando com a mesma intensidade ao rever a visão que teve nos seus pesadelos com Camila, onde ela estava coberta de sangue, morrendo em seus braços.

As fisgadas em seu coração o fazem se curvar, e ao pôr as mãos no peito, cai de joelhos. Quando ele abre sua camisa arrancando os botões em busca de ar, o colar que Camila pediu para guardar fica à mostra. Ele percebe que o pingente mudou de cor, antes estava azul e mudou para o vermelho sangue.

Na sala de espera, Rafael apesar de conhecê-lo há algumas horas, fica preocupado com a sua demora no banheiro.

"Ele não parecia bem quando passou por mim, nem me viu e nem me ouviu." Pensa.

Incomodado, Rafael se levanta e vai ao banheiro para ver o que estava acontecendo. Ao abrir a porta, vê Woosung inconsciente no chão.
- Woosung! Droga, meu Deus o que faço? - Pergunta com as mãos sobre a cabeça.

Rafael abre a porta do banheiro e aos gritos pede por socorro. Dois enfermeiros e uma enfermeira vai até ele e ao examinarem Woosung, a enfermeira sai correndo para buscar mais ajuda.
- O quê ele estava sentindo?
- Não sei, ele passou por mim com o rosto pálido, como ele demorava aqui, entrei e o encontrei no chão.
- O senhor o conhece? Sabe se ele tem alguma doença crônica? - Pergunta novamente enquanto o outro enfermeiro está realizando os primeiros socorros.
- Não sei de nada, o conheci hoje. Ele é o novo namorado da minha amiga que está doando a medula para minha filha.

Chegam mais enfermeiros com uma maca. Eles põem Woosung nela e às pressas o levam para a emergência.
- Senhor, entre em contato com alguém que o conheça e mande vir urgente para o hospital.
- O quê ele tem?
- Ele sofreu um infarto.

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