Quando Eve me disse que faríamos um ritual, a primeira coisa que eu pensei foi "Eu vou estragar tudo". Lembro-me do exato momento do aniversário da minha mãe, onde precisei discursar, e eu gaguejei e saí correndo. Lembro-me do meu primeiro dia na escola das fadas, explodi o cabelo da professora com minha varinha, me lembro de quando contei um segredo imenso para a pessoa errada... Resumindo, eu SEMPRE estrago tudo.
Evermore sempre foi a melhor na magia, não que eu não seja boa, mas sempre precisei me esforçar pra ser, já ela é e sempre foi extremamente talentosa e poderosa. Ela inventou diversos feitiços só com 19 anos e a maioria das bruxas levava 19 para criar apenas um. Ela pode se declarar como fodida da cabeça mas ela tem potencial para ser a maior magista que toda Wildvale já viu, isso se ela conseguir voltar, é claro. A não ser que ela voltasse após o maior ato heroico possível, nossa mãe, Artemísia a Rainha das Fadas, jamais permitiria que ela saísse do castelo.
A bruxa me leva em silêncio até sua casa, onde pega alguns instrumentos mágicos e diz:
- Agora vem a parte difícil Lorie, precisamos ir até o Precipício Betty.
O Precipício Betty, o lugar mais alto de toda Wildvale, tinha uma vista íncrivel para a praia, mas as criaturas iam até lá 90% das vezes para realizar um feitiço importante. Tinha esse nome graças a uma lenda antiga, sobre uma fada chamada Betty que se matará após meses de sofrimento depois de descobrir que seu noivo a havia traído. Eve pegou sua vassoura e disse que era hora de irmos. A luz do lua no céu, decidi quebrar o silêncio.
- Então, como tem passado Eve? - ela hesitou em responder.
- Sabe Lorie, no início foi muito difícil, viver com só com a companhia das árvores, corujas, raposas e alguns insetos. Era perturbador e em algumas noites eu não conseguia dormir pensando em diversas coisas. Mas com o tempo, se tornou a melhor experiência da minha vida, longe daquele castelo, da mamãe, dos olhares de julgamento por simplesmente ser quem eu sou. Uma bruxa fodida da cabeça.
Novamente Eve se refere a si mesma com esse apelido idiota. Em algum baile ou evento importante a alguns anos, as emoções dela explodiram no salão de baile, e quando digo que explodiram quero dizer que tudo começou e pegar fogo após um grito que durou uns 11 segundos. E alguém começou a gritar que foi tudo culpa da princesa fodida da cabeça.
- Ela merece ser queimada!!!!!!
- UMA BRUXA NUNCA DEVERIA SER PARTE DA NOSSA REALEZA!
- Ela queimou meu vestido de pétalas de rosa!!!!
- BRUXAS SÃO COMPLETAMENTE LOUCAS E DESENCAMINHADAS!! - e alguns gritos muito piores que estes. Até que Evermore correu até mim.
- LORIE O QUE EU FIZ????? - eu peguei a mão dela e a levei voando para os lagos. Ela não falou mais nada ou sequer chorou, acho que essa é uma das questões de Eve, ela não se permite expressar as emoções e em algum momento ela explode. Desde então o apelido pegou em todo o reino e minha irmã refere a si mesma sempre que possível.
- Mas e você, certeza que sente muito a minha falta.
Eu poderia dizer a verdade, dizer que a pressão aumentou após a partida dela. Dizer que mamãe falou que se a achar vai tranca-la na masmorra. Dizer que nem as bruxas estão do lado dela. Dizer que eu choro toda noite desde de sua partida sabendo que ela não pode voltar. Mas ao invés disso digo:
- Você está certa. - Eu não minto para ela, só não digo tudo. - Eve... Me desculpa, eu sei que todos aqueles anos com a mamãe foram um inferno pra você, ela era a droga de uma narcisista e te torturou por tanto tempo e eu... Eu não conseguia te ajudar, você teve que fugir e sinceramente foi q melhor decisão que já tomou e eu sinto TANTO a sua falta... Lembra do plsno de fuga? - a poesia viva riu. - Nós aprenderíamos a te clonar, enganaríamos a mamãe com ele e jamais contaríamos a verdade pra alguém e então, nós a levaríamos até a porta. A porta de saída de Wildvale e você descobriria todos os segredos do universo. Nossa Eve, sinto saudades.
Assim que terminei de falar chegamos no penhasco. Ela me abraçou, foi o melhor abraço que tive em anos.
- Eu te amo Lorie. - eu sabia que Eve queria chorar, mas ela não se permitiria, pelo menos não hoje, logo depois ela me soltou - Então, ah, é melhor, começarmos.
A bruxa tirou da sua bolsa todo tipo de cristal, desde de um simples quartzo até rubis, esmeraldas e é claro, aquamarines, a pedra de Taylor. E começou a fazer um circulo com elas, bem na beira do precipício, depois fez uma estrela de 5 pontas com galhos de canela, com 5 velas douradas em cada ponta, acendeu uma fogueira bem no centro e me chamou para dentro do círculo, ao seu lado havia alguns saquinhos com ervas que ela me pediu para jogar um punhado de cada na fogueira enquanto ela sussurrava algo que não entendi.
- E agora, o que fazemos? - perguntei.
- Minha parte favorita, dançamos. - Ela levantou o dedo indicador, uma arpa e uma flauta se materializaram fora do círculo.
Dançar, em ritual de BRUXARIA, se nossa mãe pudesse nos ver agora, diria que foi roubado das antigas tradições das fadas. Foi maravilhoso, glorioso, encantador, fantástico, apenas incrível. No meio de nossa dança, Evermore sussurrava, e a fogueira crescia e crescia...
" Taylor, Grande Deusa, se faça presente, nos abençoe com sua presença divina, com sua esperança, fé e magia, SE FAÇA PRESENTE"
"SE FAÇA PRESENTE"
" SE FAÇA PRESENTE"
" SE FAÇA PRESENTE"
"SE FAÇA PRESENTE"
"SE FAÇA PRESENTE"
" SE FAÇA PRESENTE"
" SE FAÇA PRESENTE"
"SE FAÇA PRESENTE"
"SE FAÇA PRESENTE"
"SE FAÇA PRESENTE"
"SE FAÇA PRESENTE"
"Se faça presente, que assim seja e assim será. Taylor eu q invoco."
A esta altura a fogueira já estava bem mais alta que a gente, ela começou a ficar diferente, mais calma, até que um rosto se formou no seu topo. E uma voz, a voz mais linda que já ouvi, tão docil e... maternal.
- Folklore e Evermore. Hum.
- Taylor... É uma honra. - disse me curvando, Eve por outro lado fez cara de decepção, como se quisesse explicações da Deusa.
- Como achamos Este?
- Só tem direito a uma pergunta filhas, tem absoluta certeza que será esta Evermore?
- Absoluta.
Eve foi fria, é claro, é claro que ela estava revoltada com Taylor, Eve nunca pode ser ela mesmo dentro daquele castelo, e agora ela não podia nem sair de um esconderijo se não teria a cabeça cortada em praça pública. Eu amava tanto Eve e me odiava tanto por não poder fazer nada.
- Para acharem Este, vão precisar de um cajado, o cajado da meia-noite. - O cajado da meia noite, antes dos 7 anos quando mamãe nos tratava da mesma forma ela nos contava a mesma história antes de dormir, sobre a arma, ou presente, mais poderoso de todos, um cajado de meia lua que realizaria qualquer desejo desde que fosse puro de coração, que por direito deveria ser dela, já que ela era a fada das estrelas cadentes, mas uma bruxa o destruiu e escondeu as três partes em lugares secretos, deixando apenas uma profecia, antes de se matar, uma história um tanto assustadora para crianças de sete anos. - Acredito que conheçam a profecia?
- Sim. - dissemos ao mesmo tempo.
E de repente sua imagem se transformou em chamas novamente. Eve estava sorrindo, eu sabia o que ela estava pensando, era a missão perfeita para que talvez, só talvez, ela sentisse orgulho de si mesma e parasse de se referir como fodida da cabeça. E só anos depois que pelo menos naquele dia, eu não estraguei tudo.
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No Body, No crime
FantasyEvermore tem potencial para ser a bruxa mais extraordinária de toda Wildvale se ela acreditar em si mesma, assumir seu poder e parar de referir a si mesma com um apelido maldoso. Folklore é a fada mais fantástica, porém ela se acha tão fantástica...