[Andamento]
"Monster"
Eu observo sua respiração curta e erradica bater furiosamente contra sua caixa torácica.
Pela expressão de seu rosto eu poderia jurar que ele sente dor ao respirar.
O barulho alto no andar de baixo, faz ele pular na cama e su...
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"Às vezes eu posso sentir Sua respiração na minha nuca me fazendo desejar coisas estranhas"
🦋 Butterfly 🦋
A primeira lembrança que meu cérebro registrou assim que eu acordei, foi o seu toque. Real e quente.
Ainda de olhos fechados eu escorrego minha mão lentamente pelo tecido macio do meu cobertor. Eu tento me manter imóvel tempo suficiente para tentar descobrir quem está no meu quarto.
Alguém me observa.
Meu corpo está virado para a parede como sempre, um hábito que adquiri desde criança. Se eu não olhar para a porta, eu não a verei aberta no meio da noite, não importa se eu a fechei e escondi a chave.
Ele sempre consegue abrir, não importa quantas vezes eu troque a fechadura, ele sempre consegue entrar. Mas agora que sei que ele é real, algo está errado.
Durante anos eu encarei sua presença como algo sobrenatural e desumano. Ele era um fantasma, um monstro, o bicho papão que eu inventava para não reconhecer meus erros.
Fruto da minha imaginação doente.
Mamãe dizia que ele poderia ser meu gêmeo mau. Eu nunca a rebati. Até porque eu sabia que todos nós podemos ter o nosso lado mau, todos nós podemos fazer pequenas maldades.
Eu mesmo fiz algumas vezes.
Quantas vezes derrubei as maquiagens da minha mãe sem querer e quebrei seus perfumes caros.
Eu abro os olhos lentamente e busco pelo canto do olho o vislumbre de sua forma alta e imponente nas sombras ao lado do meu guarda roupa. Ele parece estar me vigiando enquanto durmo, eu me mantenho em silêncio mesmo que minha mente grite para que eu o confronte.
Eu sinto um arrepio vertiginoso quando percebo que ele está se movendo. Eu fecho os olhos e sinto o meu coração bater loucamente, ele é um homem de carne e osso. Uma pessoa que tem me aterrissado por todos esses anos, alguém que sempre esteve dentro da minha casa.
Eu permaneço de olhos fechados sentindo meu corpo tremer terrivelmente. Se ele finalmente me machucar? Se agora que sei que ele é real ele esteja disposto a me calar?
Eu sinto quando ele se debruça sobre mim.
— Shh, não chore, butterfly.
Uma voz grave sussurra em meu ouvido. Eu abro os olhos mas ainda sou incapaz de girar o rosto para confrontá-lo. Lembranças da noite anterior me vem à memória. Eu apaguei assim que toquei nele, uma picada e o mundo todo escureceu para mim.
Seu hálito quente tocou minha bochecha e um soluço escapou dos meus lábios. Ele pode fazer o que quiser comigo e ninguém nunca saberá. Todos esses anos ninguém nunca acreditou no que eu dizia, todos, absolutamente todos, sempre me viam como um menino com problemas emocionais como minha mãe.
