Aristos Achaion

III

   Este já é o terceiro dia aqui em Fítia, o jantar já está acabando, e agora percebo que nunca vi Aquiles com alguma mulher desde que cheguei. Estou na mesa de costume com os vários meninos por perto. Olhando ao redor alguns já saem da mesa após trocar olhares com uma criada. É assim todos os dias, os meninos, no auge da sua puberdade, fazem o que bem entendem com as criadas do castelo. Um menino de cabelos escuros como o carvão, e pele clara como a neve, se levanta da mesa e vai em direção a uma criada, aparentemente com 14 ou 15 anos, nova. Ele cochicha algo em seu ouvido e ela começa a segui-lo. Quantas vezes essa criança já passou por isso? Sempre que termino de comer, Aquiles me puxa até seu quarto e passamos a noite brincando. Ele nunca leva uma criada até a cama, pelo menos eu nunca vi. Irei perguntar sobre isso mais tarde.
   Quando me levanto para irmos embora, Aquiles segura minha mão e diz:

   -Espere! Veja isso.-Aquiles pega quatro maçãs, e me joga duas-Quando eu falar já você deve me jogar uma maçã, entendido?-fiz que sim com a cabeça-Ótimo.-Aquiles começa a fazer um tipo de malabarismo com as maçãs, e percebo que alguns garotos param o que estão fazendo para olhar-Me jogue uma-eu jogo mais uma para ele, e Aquiles a pega com perfeição, a incluindo em seu truque-Outra!-agora Aquiles tem quatro maçãs em suas mãos-Legal não é? Vamos, me jogue mais três!-pego outras maçãs em cima da mesa e jogo para ele. Seus cabelos estão um pouco grudados em seu rosto e totalmente desajeitados, e suas mãos são bem ágeis com as maçãs. Aquiles me joga duas de volta e para o malabarismo, alguns batem palmas para isso-Gostou, Pátroclo?

   -Talvez.

   -A poxa, assim você me deixa triste.-Disse com um bico.

   -A gente pode ir logo para o seu quarto?-me sinto desconfortável com todos olhando dessa forma.

   Silêncio. Eu disse algo errado?

   -Aquiles?

   -Você... você disse que vai para o meu quarto sem que eu tenha que insistir por pelo menos dez minutos?-É uma coisa boba, mas me sinto rubro por isso.

   -E-eu? Eu só estou te dando uma chance de ser menos arrogante.

   -Não, me perdoe, arrogância minha achar que vossa alteza estaria tão disposto à vir até meus aposentos-disse em tom de deboche.

   -Ok, já que é assim vou para meu quarto.

   -Não! Espere, por favor-ele pega em meu pulso e me puxa até seu quarto.

   -Ótima forma de ser menos arrogante. Esplêndido mesmo.

   Estamos na cama, e por alguns segundos nada é dito, então me lembro do questionamento que tive hoje mais cedo. Não sei se deveria lhe perguntar isso, mas uma pergunta tola como essa não para de me perturbar, me trás certa angústia. Pigarreio e digo:

   -Por que nunca te vi com uma mulher na cama?

   -Sinceramente se eu fosse fazer sexo com uma mulher não o faria na sua frente.

  Percebo o que disse e me sinto envergonhado, tolo.

   -Mas entendo o que quis dizer, e a resposta é que eu não sei. Pode ser um problema que eu tenho? De fato eu não sei. Tenho a disposição as melhores mulheres do reino, loiras, rubras, morenas, mas nenhuma me chama atenção, nem a mais bela meretriz. Não levo mulheres para a cama porque nenhuma me interessa.

   Outra pergunta vem a minha mente, essa é sem dúvidas mais descarada que a outra.

   -Só isso?

   -Não...

   -Então diga-disse como uma ordem.

   -E um homem? Já levou um homem a cama?