VII

19 3 2
                                    

   Está escuro, tenho certeza de que andei mais de 20km mas não vejo nenhum rastro dele. Me pergunto se foi mesmo uma boa ideia... não, eu quero respostas, isso foi uma boa ideia.
   Estou andando em um bom ritmo, mas acho que terei que achar algum lugar para descansar em breve. A luz da lua fornece o único brilho que me permite continuar na estrada, porém o frio está começando a ser um grande problema. Mais a frente a um espaço regular entre as árvores, é perfeito para descansar e me esconder dos ventos impiedosos dessa noite. Conforme eu me aproximo sinto cada vez mais que não estou sozinho. Com medo de que seja um grande predador pego, desajeitadamente, meu arco. Lentamente me movo em busca do animal. "Creak" eu escutei. Estou suando frio, com medo. Como eu achei que fosse capaz de ir atrás dele se nem mesmo posso me defender de um predador? Sou um idiota. Me sinto gelar ao ser atacado por trás, muito rapidamente sou desarmado, tento pegar uma adaga presa a minha coxa, mas sou impedido. Minha cabeça gira ao perceber que não era nenhum predador, mas um homem, um homem mais alto, mais forte. Deuses, tenham piedade de mim.

   -Quem é você?-Sussurrou.

   Com um pouco de esforço, consigo soltar sua mão de minha boca.

   -Um peregrino.-Menti com a voz trêmula.

   Devo ter sido muito convincente pois o homem afrouxou o aperto por um pequeno momento, o suficiente para que eu tivesse a chance de correr. Me senti tolo, agora sei que o homem também é mais rápido. Não demorou para que eu estivesse em seu aperto novamente.

   -Espera! Fica parado, caramba!

   Continuo me sentindo como um coelho na boca de um lobo.

   -Pátroclo! Para!-E eu parei. Eu parei e consegui perceber que não estou sendo atacado, não estou sendo devorado, não estou em perigo-Sou eu, Aquiles. Por que vc está aqui?

   Não sou capaz de responder, não consigo falar, não consigo me mexer.

   -Isso não importa, você está gelado, precisa vir comigo.

   Segui-o sem falar nada, ele está na minha frente depois de quase 27 dias e eu não consigo falar nada, pedir desculpas. Estamos entrando um uma caverna com apenas uma fogueira, não se parece com a que Aquiles estava indo, mas Quíron estava lá. O loiro falou com o centauro por um momento, parecendo esclarecer a situação, que nem mesmo eu entendo, e o meio cavalo se retirou do lugar.

   O semideus pegou minha mão e me sentou perto da fogueira.

   -O que você está fazendo aqui? Tem noção do quão perigoso é isso? E se eu não fosse eu? Talvez um bárbaro? Você está bem?-na minha frente ele se parece com um parvo eufórico.

  Com muita coragem, de cabeça baixa,  eu digo:

   -Me desculpe.

   Ouvi um longo suspiro e me preparei para ser expulso.

   -Pelos deuses, você está bem ou não?

   -Estou.

   -Eu imaginei que você fosse vir, mas não queria que viesse...-antes que ele pudesse continuar, ameacei me levantar-Espera! Que impaciência-me sento novamente.-Eu não queria que você viesse porque é perigoso... e eu não sei se estou preparado, eu meio que acho que você me odeia agora.-Levanto a cabeça procurando algum tipo de ironia, mas a única coisa que acho é um rosto aflito.

   -E por que eu te odiaria? Eu vim atrás de você.

   -Eu... fugi.

   -Eu provavelmente fui o culpado... devo ter feito algo errado, ou mesmo você nem queria fazer aquilo.

Aristos AchaionOnde histórias criam vida. Descubra agora