IV

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   Acordo com o sol incomodando os meus olhos, e procuro por Aquiles no quarto. Não o vejo então me sinto aliviado, lidar com ele é difícil. Mas não deixo de me sentir preocupado, afinal sou uma boa pessoa. Me levanto e vou andar pelo castelo a procura de Aquiles. Vou no jardim, muito bem cuidado, por sinal, vou para o salão principal, a sala onde Aquiles costuma tocar sua bela lira, e nada dele. Decido então procurar na praia, e chegando lá percebo que o céu, que era para estar claro e radiante, está escuro e mórbido. Escuto vozes então decido me esconder atrás de uma pedra, e olhando para frente vejo Aquiles e uma mulher. Uma mulher pálida, magra, cabelos escuros e dedos tão longos quanto os galhos das árvores. O ar ao redor dela parece frio, doloroso. Tétis, mãe de Aquiles, sem dúvidas. Não é possível escutar o que eles estão conversando, mas ela está com uma posição rígida, e ele está com a cabeça abaixada, parece uma bronca. Ela se vira para trás e começa a andar na direção do mar, Aquiles olha para trás antes de seguir ela. Aos poucos os dois desaparecem no mar. Tétis é uma ninfa do mar, uma das cinquenta nereidas filhas do antigo deus marinho. Quando descrita como uma nereida, Tétis era a filha de Nereus e Doris, e neta de Tétis, a titânide. Teve vários filhos e entre eles, Aquiles. Isso é tudo o que sei sobre ela. Não há muito o que eu possa fazer por ele, muito menos sei se ele precisa de ajuda. Só me resta voltar para o castelo e esperar por ele.
   O desjejum está sendo servido, alguns meninos já estão sentados em suas mesas de costume esperando para que possam comer. Me sento em um lugar diferente hoje, um pouco mais afastado dos outros, já que estou sem a presença do príncipe. Um ou outro garoto vem se sentar comigo, afinal também sou um príncipe. Falando nisso, faz um tempo que não vejo meu pai, eu acho que é melhor assim, nós nunca tivemos uma boa relação, ele sempre me bate e diz que sou inferior a ele e a meus irmãos, diz também que nunca vou assumir o reino dele. Não entendo exatamente o porquê disso, mas ele sempre fala que sou fraco e esguio como uma garota, uma vergonha para sua linhagem. Não a muito o que se possa fazer. Me acho bonito, olhando para meu corpo eu gosto de minhas curvaturas.
   Começo a comer, pego pães, frutas e um copo de suco. Me preocupo com Aquiles mas esse sentimento some assim que o vejo entrar pela porta do salão. Ele está mais seco do que eu imaginei que estaria, mas isso é só um detalhe. Ele olha por todo o salão, me prorando eu acho. Confirmo minhas dúvidas quando ele vem até mim.

    -Pátroclo, bom dia-diz abatido.

    -Está tudo bem? Não te vi hoje cedo-a mesa começa a se encher por conta da presença de Aquiles.

    -E você se preocupa desde quando?

    Não respondo nada, eu só estava tentando ser legal com ele. Aquiles, o príncipe arrogante.

    -Me desculpa, eu só estou cansado.

    -Mais tarde a gente conversa. Coma por enquanto.

    Comemos o resto do desjejum sem falar mais nenhuma palavra, nem mesmo os garotos que estavam a nossa volta tiveram a coragem de abrir a boca. Eles devem saber de algo que eu não sei. Já deve ser por volta das oito horas, já que Aquiles se levantou da mesa e foi para sua rotina de costume. Durante o dia nós não conversamos muito, ele passa a manhã e a tarde treinando sozinho. Sua mãe o deixou proibido de treinar com outra pessoa, algo haver com sua profecia, aristos achaion, então todos os dias ele se isola em alguma parte do castelo e passa o dia treinando. Eu, como um convidado, não tenho muito a fazer.
   Estou andando pelo castelo quando sou parado por um serviçal. Ele abaixa a cabeça e começa a falar:

   -Senhor, seu pai lhe espera no salão do rei.

   -Meu pai? Está bem, eu já vou.

   O que ele quer comigo? Certamente o rei também estará lá. Me sinto nervoso, nunca é coisa boa. Chegando no salão do rei, vejo meu pai e Peleu conversando sobre algo, mas logo a atenção deles se volta para mim.

Aristos AchaionOnde histórias criam vida. Descubra agora