.capitulo sete - melodia;

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Assistia atentamente Michikatsu tocando em sua bela guitarra vermelha, o professor havia cancelado de última hora a aula por conta da chuva, mas queria a todo custo treinar. Douma concordou em acompanha-lo em seu ensaio, também dava algumas dicas, não era o melhor, mas sabia tocar vários instrumentos. Por ter tido uma educação mais rígida, ainda criança, praticava muitas aulas extracurriculares de esportes, música, arte e muito mais, seu pai queria que fosse conceitual.
Estava sentado esparramado no sofá do clube pontuando os mínimos detalhes para ajudar o moreno, não queria falar, mas ele era péssimo. Nada que algumas aulas não resolva.

–Não precisa pressionar tão forte as cordas, vai machucar seus dedos - alertou.

O rapaz apenas assentiu com um joinha.

Estava tudo tranquilo, até aquela mesma garota chegar, abrindo a porta com força anunciando sua presença irritante. Chegou agarrando o rapaz e lhe roubando um beijo. Sem reação, Michikatsu apenas a afastou delicadamente, sem parecer mau educado.

–Mukago, precisa de algo? - perguntou olhando firmemente a garota, não estava confortável e nem um pouco contente com o que ocorreu.

Enquanto a conversa desenrolava entre os dois, Douma quase rasgava o estofado do sofá. Encarava o fundo da alma da grisalha, até que a mesma notou.

–Quem é aquele esquisitão? - perguntou apontando para si. Imediatamente mudou seu humor para alguém mais agradável e divertido, disfarçando muito bem o que realmente sentia.

–Haha, professor substituto - brincou acenando para a garota. A mesma não pareceu gostar da brincadeira, fechou a cara e fez uma expressão de nojo.

Desagradável, palavra que define muito bem Mukago. Uma playboy de família muito bem sucedida no Japão, gosta de se achar a rainha do colégio, que pode destratar quem quiser e que todos têm a obrigação de vislumbrar sua existência insignificante. Um total de zero pessoas gostam dela, consegue ser tão desprezível que conseguiu conquistar o ódio de praticamente todo mundo, apenas Michikatsu a suporta por simplesmente ser educado demais para dar um corte. Na cabeça da garota, os dois são namorados, mas isso não é verdade.
O loiro arqueou as sobrancelhas e retribuiu o olhar, se ela quer ser babaca, Douma consegue ser o dobro.

–Depois eu quem sou o esquisito, não é mesmo? - ao dizer isso, moreno atrás da garota começou a fazer sinal de "cala boca", adorava uma confusão, mas o rapaz que tanto admirava estava desesperadamente fazendo sinais para ficar quieto e ignorar.

–Mukago, que tal irmos tomar um café? - tentou amenizar a situação. Quando a garota ameaçava iniciar uma confusão, fazia as vontades da mesma para evitar uma gritaria desnecessária. Mas esquecia de um ponto muito importante, alimentava ainda mais a paixão e obsessão.

–Vamos! - puxou o rapaz pela manga do uniforme, antes de sair da sala fez uma carinha debochada para o amigo para que ele entendesse o que estava prestes a fazer – Você tem que parar de arrumar amizades insignificantes e estranhas!

Ao ver que estavam numa distância razoável, pegou o celular que estava em seu bolso entrando na conversa de Michikatsu, mandou um áudio para o mesmo.

–Que merda! O esquisito é você que se mete com essa gente!

Ficou deitado no sofá do clube por um bom tempo, até ter iniciativa de ir para seu dormitório.
Atravessou o pátio correndo tentando escapar da chuva, mas nada adiantou, chegou encharcado em seu dormitório, que por sinal estava vazio. Tirou as vestes ficando completamente nu, deixando o uniforme molhado no chão. Entrou no banheiro e ficou um tempo se encarando no espelho.

–Vagabunda. - tudo que não pode dizer na hora, dizia para o espelho.

Ligou o chuveiro no quente e logo em seguida entrou para baixo da água. Sentiu a água morna deslizar pelo seu corpo, ficou de olhos fechados aproveitando a sensação relaxante. A água descia pelo ralo junto com seus pensamentos raivosos. Passeava com sabonete pelo seu corpo, sentindo os próprios músculos, não era exagerado, era o corpo perfeito para um jovem de dezessete anos. O leve tanquinho, pernas fortes, uma boa estrutura corporal, nada desproporcional. Se admirava mentalmente somente para aumentar seu ego; era lindo, ninguém tiraria isso de sua cabeça. Olhos de coloração rara, um verde claro com manchas azuis, e perto da pupila, manchas amarelas, uma heterocromia setorial extremamente linda. Cabelo loiro sempre cheiroso e muito bem hidratado, os cílios grandes que invejava qualquer garota que gasta mensalmente em aplique de cílios postiços. Uma aparência angelical.
Depois de um longo tempo se admirando, saiu do banheiro somente com uma toalha amarrada na cintura. Havia esquecido de pegar suas roupas. Diferente de antes que estava sozinho, agora não estava mais.

i'm not a angelOnde histórias criam vida. Descubra agora