Capítulo 15: Sentiu Minha Falta?

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Anderson na Casa...

Sua mão ardia, o pentagrama invertido estava desenhado aos cortes e custou muito da sua pele e sangue, notou que o metal das moedas acentuavam o ardor. Anderson parou de olhar para as borboletas do papel de parede assim que saiu daquele mundo onde ele era o algoz, sem espectros, conseguiu seguir aquela voz, mas não encontrou ninguém, olhou bem para as três moedas, nem mesmo seus fantasmas pessoais estavam lá.

Saiu do quarto, atravessou a porta branca, quando a fechou atrás de si ouviu um som metálico como se um objeto tivesse caído no chão.

Já era noite e a luz da lua em seus feixes brancos faziam o corrimão de madeira brilhar, ele andou em direção à escada. Anderson procurava o objeto de metal, não se apoiou no corrimão, apertou as moedas em sua mão marcada e com a outra tocava o crucifixo invertido, passava os dedos ansiosamente pelo objeto enquanto descia os degraus mesmo com o Grimório atrapalhando, o som metálico se fez ouvir novamente.

Quando desceu as escadas Anderson continuou caminhando ansioso e um novo som foi acrescentado, risos de criança, som de passos alegres vindo da sala, dancing in the moonlight.... A voz infantil cantarolava e assim que ele entrou no novo cômodo sentiu ter quebrado algo, talvez esmagado, viu ali no chão uma peça de plástico, tirou o pé de cima e viu uma boneca de plástico, magra, sem cabeça, risadas infantis ecoaram novamente, a casa ainda estava escura e os raios brancos da lua em seu poder sutil mostrou próximo do brinquedo esmagado um papel amarelo. Anderson pegou, foi aos poucos abrindo, letras vermelhas que perguntavam:

— "Sentiu minha falta?" — Anderson sem entender fechou o papelzinho e guardou no bolso junto com as moedas, sentiu o pentagrama arder levemente em sua mão, fraco, porém marcando presença.

Andou mais um pouco pela sala, olhou as fotos de família perto da televisão, Carlos sorridente abraçando Ana, outra da pequena Pamela ainda bebê, cds e livros, alguns dvds, filmes diversos, desenhos infantis, pegou um dvd com um grande dinossauro roxo e fofinho na capa, pelo menos era o que parecia com a visibilidade da casa sem luz.

Mas Anderson sentia-se observado, pelo menos começou naquele momento perto da televisão, mais à esquerda notou que havia um corredor com uma porta baixa sugerindo um porão, ouviu uma risada de menininha, olhou na mesma hora para trás e viu o vulto sair em disparada da cozinha para a escada e ouviu o barulho dos degraus de madeira respondendo aos passos da criança. O pentagrama ardeu mais forte. Anderson levou as mãos com dvd e Grimório ao peito, bateu assustado, ofegante por conta do barulho repentino, e o som desapareceu do mesmo jeito.

Repentinamente.

Ele voltou a olhar para o pequeno corredor, levou alguns minutos para se acalmar de novo, viu o mesmo papel amarelo perto da porta baixa, não estava ali antes. Anderson se despediu do dinossauro e devolveu o desenho para a coleção, se encaminhou para o pequeno corredor, devagar, o pentagrama ardeu de novo, ele reprimiu a dor e continuou no mesmo passo, cerrou os punhos e seus dedos se umedeceram, quando abriu a mão de novo não percebia as gotas de sangue formando uma trilha, pingava de seus dedos conforme ele se aproximava do novo bilhetinho.

Quando finalmente chegou diante do papel, ouviu a voz do meio da sala:

— Tô com medo, você me ajuda? —  Anderson olhou na direção da voz, Pamela cabisbaixa, tão triste.

— A mamãe não conseguiu me proteger da mulher feliz, me ajuda moço, por favor, me ajuda — sua voz aguda começou a atingir um tom médio —, Me ajuda moço — voz ainda média —, Moço eu preciso dela moço, me ajuda por favor — voz grave. A criança foi se aproximando e levantou a cabeça que revelaram os olhos brancos, olhos que choravam sangue:

— EU PRECISO DA SUA ALMA —  voz distorcida, pentagrama ardendo forte na mão de Anderson.

— Rápido se esconda aqui — Anderson reconheceu a voz que veio do porão, a criança malévola e irreconhecível chegava mais perto dele com os olhos brancos fixos na mão marcada, aberta como se pudesse impedir Pamela que estava determinada em levar Anderson.

Mas do jeito mais rápido que seu pavor lhe permitiu, Anderson chutou a pequena porta e a despedaçou com a sorte do primeiro golpe, sem pensar se jogou para dentro. Pamela passou tão rápido, certa de que poderia levá-lo.

Anderson sentiu a terra velha que cobria a escada, sentiu as teias de aranha conforme entrava no novo cômodo, rolando por cima dos braços, machucando-se pelos degraus, quando por fim sentiu a última pancada podia ver a escada inteira e o vão da porta aberta, viu a criança parada, levou a mão esquerda, intacta, sem marcação, ao crucifixo invertido, fechou os olhos, viu seu espectro atirando na cabeça de uma menininha, abriu novamente, sem criança. Sentiu o bilhetinho quando apoiou as mãos no chão para se levantar com dificuldade:

— "Sentiu minha falta?" —

Mais um ataque contra sua sanidade.

E agora ele não fazia ideia de onde estava seu Grimório.

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