Capítulo 1

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Chovia àquela hora da noite e Raphael caminhava à beira mar. Ia remoendo seus pensamentos quando chegou à um sinal de trânsito. A passagem para pedestres estava aberta e, do outro lado, vinha uma garota vestida toda de preto. Raphael olhou para seu belo rosto e ficou encantado enquanto ela se aproximava. Era como se ele já a conhecesse, mesmo sem nunca a ter visto.

Ele sentiu todo o seu corpo se entorpecer. Olhou para o lado e viu um par de faróis vindo a toda velocidade, em direção à garota. Tentou correr para tirá-la da frente do carro, mas era como se seu corpo estivesse completamente submerso. Seus sentidos estavam lentos, ele conseguia ver as gotas da chuva paradas no ar.

"O carro vai pegá-la, ela não vai sobreviver", seus pensamentos eram quase um mantra em cima dessas palavras, cada vez mais rápidos e mais fortes. Até que ele gritou:

— NÃÃÃÃÃOOOOO!!!!!!!

Toda a resistência cessou, o carro passou a mil por trás da garota e ela simplesmente começou a cair, bem na frente de Raphael, que conseguiu ampará-la.

— Ei, você está bem? — Perguntou Raphael enquanto tentava acordá-la. Mas ela não reagia, mal era possível sentir sua respiração.

Ele sentiu algo grudado em sua mão, algo viscoso. Olhou, e viu o vermelho sobre as luzes dos postes. Olhou mais atentamente para ela, e pôde perceber as inúmeras perfurações à faca em seu corpo. O coração de Raphael parou em choque. Sentiu um nó na garganta.

— Eu tenho de te levar a um hospital. — Disse enquanto levantava o corpo da garota.

— Não... Não me... leve... hospital não... me esconda... Os Alquimistas...— disse a garota, com a voz fraca, prestes a desmaiar.

— Você vai morrer se não for para um hospital.

— Eles vão... me achar e... terminar... de me... matar... Só me esconda... dos Alqui...

— Mas seus ferimentos!?

— Não... deixe... eles... me... acharem...— A garota pediu, e após isso, desmaiou.

Raphael não sabia o que fazer, precisava levar a garota para o hospital urgentemente. Mas, e se o que ela disse fosse verdade? E, se ao levá-la para o hospital, ele a estivesse entregando aos seus assassinos?

Raphael olhou para o seu rosto e sentiu a familiaridade daqueles traços, não sabia de onde, mas já a conhecia, e decidiu acreditar na garota e escondê-la. Ele pensou onde poderia esconder aquela estranha tão familiar quando resolveu levá-la para seu apartamento. Quando levantou seu corpo, reparou em como ela era leve e pequena. "Pelo menos isso", ele pensou.

Chegando ao seu apartamento, ele a levou direto para o quarto, e a deitou no box do seu banheiro. Tanto ele quanto ela estavam cobertos de sangue dos ferimentos. "Preciso cuidar de suas feridas.".

— Me desculpe por isso. — Disse, mais para si mesmo do que para ela.

Ele levantou a blusa dela para olhar os ferimentos em sua barriga. A garota tinha a pele pálida, como se nunca houvesse tomado sol. Ele congelou. Onde estavam as feridas? Seu corpo estava perfeito, sem ferimentos, nem mesmo uma cicatriz era visível. A garota acordou e olhou diretamente em seus olhos, mas ao perceber o estado lastimável de suas roupas, levantou-se e começou a tirá-las ali mesmo.

— Eu estou ensopada. Você poderia me passar uma toalha por favor? — Disse a garota, acabando de rasgar o restante da roupa que cobria seu corpo.

— Ah, claro, eu estava...— Raphael se atrapalhou com as palavras, ele estava visivelmente constrangido com aquela situação. Uma garota que ele nunca havia visto estava nua em seu banheiro, naquele momento.

— Seus ferimentos? Você estava mortalmente ferida. Como? — Ele, entregando-lhe a toalha.

A garota pegou a tolha sem dar importância se Raphael olhava ou não para o seu corpo nu. Começou a secar seus cabelos enquanto falava.

— Não é fácil matar uma vampira, ainda mais depois que você quebrou a magia deles. Eles fugiram com medo do que poderia acontecer.

— VAM, VAM, VAM, VAM, VAMPIRA?!??!!?!? — Gritou Raphael, com surpresa.

Raphael começou a se afastar do box do banheiro, enquanto a garota terminava de se secar. Ele andou de costas até tropeçar e cair no chão do quarto.

— Vai me dizer que não percebeu? — A garota, sem entender.

— Como assim????? Vampiros não existem!!!!

— Claro que existem, e vocês também...

— Não, isso é impossível, vampiros não podem ser reais. — Raphael parou e olhou para ela sem entender — Espera aí? Como assim vocês? Do que você tá falando?

— Sim, ou não sabe que é um anjo?

— QUÊÊÊÊÊ!!!!????

As Chaves de AbadonOnde histórias criam vida. Descubra agora