Capítulo 5

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O carro parou próximo à entrada de uma velha propriedade. Parecia vazia. Ágatha desceu do carro e entrou na casa decrépita. Raphael a seguiu em silêncio, quase não tinham se falado na última hora.

Ele imaginava que era tudo um pesadelo. Vampiros, elfos, ele sendo um anjo. A coisa toda parecia uma viagem de algum cartunista chapado de cogumelos e muitas outras drogas. Ágatha chamou sua atenção, e ele afastou esses pensamentos.

— Fica de olho e me diga se alguém aparecer. — Ágatha disse enquanto localizava a porta de um alçapão.

— Aonde você vai? — Raphael, vigiando a porta e olhando para ela.

— Pegar o mapa. — Disse Ágatha, descendo pelo alçapão.

Raphael esperou por um tempo que lhe pareceu horas. Finalmente, Ágatha surgiu pelo buraco em que havia entrado. Ela trazia uma caixa suja de terra.

— O que é isso? — Perguntou Raphael olhando para o estranho objeto de madeira.

— Uma caixa Gregoriana. Os monges usavam para esconder textos proibidos pela igreja, assim eles podiam estudar os manuscritos profanos sem serem descobertos.

— Muito esperta você, vampira. — Uma voz que Raphael reconheceu. —Usar uma caixa Gregoriana... Por isso não podíamos rastrear o mapa.

Em uma parte da parede, um brilho opaco revelou o elfo que eles encontraram na garagem do prédio.

— Me entregue o mapa e sua morte será rápida, assim como a de seu amigo. — Disse o Elfo.

— Como você nos encontrou? — Ágatha, que tentava esconder a caixa atrás de si.

— Simples. Seus feitiços a protegem de ser localizada, mas o seu amigo não foi encantado ainda, foi fácil rastreá-lo com isso. — O elfo, mostrando o copo de refrigerante que Raphael jogou nele. — Sua energia ainda está no copo.

Raphael olhava a tudo atônito. Pensava no que poderia fazer para deter o elfo, mas não tinha armas. Não tinha nem mesmo um pedaço de madeira que pudesse usar como arma. Decidiu se jogar sobre ele, assim Ágatha poderia fugir com a caixa. E assim ele fez, mas quando deu o primeiro passo, as palavras do elfo foram mais rápidas.

— IMPACTO LUMINOSO!

Raphael sentiu como se um carro o tivesse atingido e o jogado contra uma parede. Algo sólido e luminoso acabava de acertá-lo com muita força. Sentiu seu corpo todo doer, uma leve ardência na pele. Estava bem, atordoado com o golpe que recebeu, mas estava bem.

— Achei que era um vampiro, assim como a sua amiguinha. Vejo que não, pois essa magia é fatal para a raça dela. Mas lhe garanto, você não vai sobreviver a outro.

— PARE!!! — Gritou Ágatha. — VOCÊ NÃO PODE MATÁ-LO!

— ME ENTREGUE A CAIXA! — Gritou o Elfo.

— NÃO FAÇA ISSO!!! FUJA!!! — Gritou Raphael.

— CALE A BOCA!!! IMPACTO LUMINOSO!!! — O elfo, que dessa vez jogou uma magia muito mais forte sobre Raphael.

— NÃÃÃÃÃÃOOOOO!!!! — Gritou Ágatha enquanto a esfera de luz atingia Raphael, envolvendo-o num grande globo luminoso.

O elfo não se deu ao trabalho de olhar para o corpo de Raphael, ele sabia que o homem estaria morto depois da intensidade da magia que o atingiu. Não havia possibilidade de ele sobreviver. Concentrando outra magia na mão e apontando-a para Ágatha, ele disse:

— Vai ser um prazer retirar a caixa do meio de suas cinzas.

O elfo sentiu algo lhe acertando as costas, a ponta de algo que o perfurou, sentiu a dor de anos a fio lhe invadindo as entranhas. O objeto o atravessou e saiu de seu peito. Algo com uma leve luminescência púrpura, quase translúcida, apenas uma energia densa na forma de uma lâmina lhe abria um buraco que foi envelhecendo e apodrecendo, até não existir mais nada.

— Como?!?! — Perguntava o elfo atônito, olhando para o próprio peito.

— Não é fácil matar um Anjo. — Disse Raphael, piscando para Ágatha.

Ele puxou sua arma e o elfo se virou, viu a espada que estava nas mãos de Raphael e olhou para ele surpreso.

— Você condensou o tempo até formar uma espada... Como fez isso? —Disse o elfo, com as mãos sobre o ferimento.

— Não sei, apenas fiz, e agora, adeus. — Falou Raphael, que após isso, decapitou o elfo com um único golpe. A cabeça caiu no chão, e em poucos segundos, sobravam-lhe apenas a pele ressequida e os ossos. Seu corpo seguia o mesmo caminho.

— Você... AINDA BEM QUE ESTÁ VIVO!!! — Gritou Ágatha, largando a caixa e pulando nos braços de Raphael. — Mas como você sobreviveu?

— No momento que eu seria atingido pela magia, o tempo parou, e eu encontrei o meu antigo eu, o que deveria ter despertado. — Raphael disse olhando para a garota... — Ele disse que não estava na hora de despertar ainda, mas que me liberaria parte do meu poder e conhecimento.

— Claro, que estúpida que fui, a habilidade de anjos, nefilins. Eu me esqueci completamente dela.

— Sim, e tem mais uma coisa que não entendi. Ele o mandou dizer que estava feliz por você ter sobrevivido à Viena...

Ágatha se afastou surpresa ao ouvir essas palavras.

— Viena!!! Isso foi há cem anos ou mais, antes da primeira guerra, como você... — Ela se calou e olhou para Raphael de cima a baixo. — Mas claro, agora faz sentido. O beijo, a atração mútua...

— O que faz sentido? — Disse Raphael, sem entender.

Ágatha começou a rir sem parar.

— O que foi???

— Você vai se lembrar. Mas nós éramos namorados, ficamos juntos por oitenta anos.

— O quê? Quantos anos você tem? — Raphael perguntou.

— Aproximadamente uns duzentos.

— Duzentos anos????

— Está surpreso por quê? O coroa aqui é você. Pelo que me disse, você teria mais de dois mil, isso naquela época.

— É informação demais...

— Sim, mas temos que sair daqui, antes que os amigos dele cheguem. E temos que desvendar esse mapa.

Ágatha abriu a caixa e tirou um rolo fechado.

— Abre, vamos ver logo esse mapa. — Raphael.

— Não posso, está selado magicamente. — Ágatha. — Temos que descobrir uma maneira de abrir antes que os alquimistas nos achem.

— Vamos logo fugir daqui, tem muita coisa para você me explicar.

Ágatha abraçou Raphael e lhe deu um longo e caloroso beijo.

— Claro, meu anjinho. — Ela disse, com um grande sorriso. — Eu estava morrendo de saudades de você...

Os dois entraram no carro.

‒ Para onde? ‒ Raphael perguntou enquanto ligava o carro.

‒ Precisamos ver alguém, mas teremos de achá-la antes.

‒ Como?

‒ Siga para Santana Das Quedas, lá tem um bar, lá acharemos respostas.

As Chaves de AbadonOnde histórias criam vida. Descubra agora