Consequência

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Paraíba

Em menos de 10 mínutos, eu já estava no carro e a santinha, estava me levando para o hospital, disse que se eu não fosse, ficaria uma semana sem falar comigo, vê só a chantagem emocional?
Que eu caí perfeitamente, por que mesmo não gostando de admitir em público, não fico sem meu dengo.

Ela dirigia ferozmente, enquanto mandava o áudio mais assutador que eu já ouvi no grupo dos estados, pelo celular que estava com o áudio ativado, pendurado no paínel do carro.

- "E DIGO MAIS, SEUS JAGUARA, EU SÓ NÃO DOU UMA CAMAÇADA DE PAU EM VOCÊS TODOS POR QUE DIFERENTE DE VOCÊS EU TENHO NOÇÃO!" - Eu tentava não rir mais era impossível, já viram o sotaque de uma catarinense brava, é de lascar.

- E TU NEM OUSE RIR! - olho para ela ainda rindo, por que aqui tem coragem e aí que a bicha ferve mesmo.

- CONTINUA RINDO, CONTINUA VAI BONITA!

- Ave Jesus Cristo tá com a febre do rato mulher? - Pergunto rindo e vejo ela me fuzilar com os olhos, eu juro que acho que ela estava me fritando com os olhos. Ela envia o áudio e segue até o hospital furiosa, sem pronunciar uma palavra.

Quando chegamos lá, passo pela triagem e logo sou chamada pelo médico, que analisa e pede alguns exames, demoramos cerca de umas 3 horas e durante as 3 horas ela sorriu apenas para o médico, para mim apenas grunhidos nervosos.

No fim eu tive uma contusão muscular por causa do impacto e teria que ficar 2 semanas sem fazer exercícios de grande impacto, me alongando e tomando alguns remédios para dor. O médico explicou que eu iria sentir dores e o movimento da perna ficaria afetado por um tempo, mas que não era nada grave, nesse momento vi o rosto da Catarina aliviar e finalmente ela me encarou agora mais calma.

Na saída do hospital em direção ao carro, ela deixou que eu me apoiasse nela e me colocou no banco, nós fomos em silêncio até um pedaço do caminho onde ela se pronunciou:

- Desculpa por ter ficado nervosa ibinha, mas não suporto quando tu coloca sua vida em risco e tu tem essa santa mania de querer ficar provando força e mostrando que é corajosa e como tu diz porreta, mas meu coração chega sai pela boca. Sei que tu acha na cabeça, que tu é o símbolo de coragem do Brasil, mas tu tem que ver sobre a sua saúde. Tu não sabes o quão preocupada eu fiquei quando vi aquela cena. Sei que é exagero, pois você sabia o que estava pensando, mas por um momento só conseguia pensar e se tudo desse errado e tu se machucasse gravemente ou eu perdesse você?

- Que isso Catarina, eu só pulei de uma cachoeira...conheço aquele lugar.

- Eu sei! Mas se tu errasse? E se tu se desequilibra? E se qualquer um de vocês se desequilibra mas principalmente você? Que ainda foi primeiro! Como que eu fico sem você? Como eu fico vendo tu toda machucada? Tu sempre se mete nessas coisas, é um ombro deslocado, é uma luxação no pé, é um braço quebrado, e essa mania que tu tem de entrar em briga? Não sei quantas vezes eu tive que fazer curativo em você, por que tu se enfiaste em alguma confusão. Meu amor, tu é corajosa, todo mundo sabe disso, mas ficar fazendo isso não prova nada, só me deixa preocupada pensando se você vai voltar bem para mim ou não. Você confia muito na sorte vida.

De repente sinto um peso nos ombros e começo a refletir. Quando eu escuto ela falar de novo:

- Sei que é parte de você essa personalidade que ama desafios, mas pense antes de aceitar, não é fraqueza negar um desafio, é entender quem tu é, e tu é corajosa e forte e linda, e se o desafio não for te machucar ou te colocar em perigo eu até torço para ti, te ajudo a vencer. Mas antes de aceitar qualquer coisa, peço que pense na sua saúde e se achar que vai aguentar, peço que pense no meu coração, será que eu aguento ver os possíveis resultados?

Fico encabulada e disfarço a lágrima que queria cair, mulesta, eu amo essa mulher.

- Desculpa meu bem, eu realmente não pensava nessa parte, eu juro que vou pensar antes de fazer essas coisas, eu amo você visse?

- Também amo você ibinha, mas anote, da próxima vez, eu não vou ser tão paciente, se tu fizer mais uma besteira, se tu chegar com mais um arranhão, tu vai ficar com o triplo do medo que tu sentiu hoje.

- Oxente, mas eu nem senti medo.

- Ah não é? Bom saber, se tava tremendo era de dor né ibinha?

- Que tremendo o que, eu sou forte, tu me respeite mulé. - Digo flexionando o braço.

- Tudo bem, tudo bem, nem importa se tu tava tremendo ali não, te faço tremer em outro lugar. - ela diz me olhando com a sobrancelha arqueada e um sorriso ladino no rosto.

E eu correspondo com a mesma feição, é hojeeeee!
Quando chegamos em casa, já saio seguindo ela em direção a porta e quando eu vou puxar ela pela cintura, assim que ela finalmente destranca a porta, ela se vira e fala:

- O que tu pensas que estás fazendo?

- Oxente, tu não deu a deixa?

- Que deixa ibinha? Nada disso, duas semanas sem exercícios de alto impacto. Tu que lide com as consequências.

Arriégua, Deus só pode estar de brincadeira comigo visse?

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