Capítulo 0.0 - Tormentum

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—PRIMOGÊNITO Enfer. está atrasado. — declara o alto homem encapuzado de voz misteriosa. quero dizer, era quase impossível dizer com certeza, mas poderíamos supor que se tratava de um homem por baixo das volumosas camadas de roupas, capas e máscara.

acabava de entrar no recinto um jovem, vestido em roupas bufantes, reminiscentes do século XIX, como se tivesse saído de um romance de época. parecia exausto, as mechas de cabelo que escapavam por sob os lados de sua máscara da cor de um vermelho puro que remetia a um escarlate estavam ligeiramente úmidos de suor, o'que denunciava um cansaço considerável. apoiava-se nos próprios joelhos, ofegante, inspirando longa e profundamente várias vezes, numa clara tentativa de acalmar-se.

No entanto, após um breve momento, o rapaz corrigiu sua postura, erguendo-se como se de repente se lembrasse de manter uma certa etiqueta ou decorum. Pela maneira como ajustava sua postura, ficou claro que, apesar de sua aparência desgastada, ele ainda prezava pelo comportamento adequado e pela cortesia, algo que se acrescentava a sua figura elegante nas roupas estilo século XIX.

Com um suspiro profundo e uma tonalidade que evidenciava a angústia e o receio, o mais novo diz: — humildemente imploro pela sua misericórdia, meu Conde. Houvera certos... contratempos com meus familiares.

O homem ao qual se dirigia balançava a cabeça com uma expressão resignada. — Parece que problemas com sua família são uma constante, não é? — questiona com um tom de desaprovação. — Eu tinha expectativas de que você seria diferente, que seria a exceção à regra, mas pelo visto, o senhor é uma réplica exata de seu pai. — Dito isso, o homem o encara pela última vez, parecendo lançar um desafio, uma crítica, talvez ambas as coisas. Em seguida, vira-se e dá início a uma marcha determinada. Ele não se vira para trás, contudo, no contexto da situação, é como se ele implicitamente esperasse que o rapaz de máscara o seguisse. — Senhor Enfer, você está numa competição, — Ele lança por cima do ombro, num tom firme e indiferente. — E o que você deve almejar é a vitória, nada menos do que isso. Não me preocupo com o que acontece com seus irmãos, pais ou ainda menos, com seu adversário de sangue. Se você não é capaz de superar esses obstáculos, seria sensato considerar a renúncia imediata.

A palavra "renúncia", um termo que instigava tanta emoção e temor, simplesmente não se fazia presente no vocabulário de nenhum dos indivíduos presentes naquela sala. Era uma ausência sentida, um conceito ignorado, pois para eles, renunciar era sinônimo de encontrar a morte.

Ao ponderar sobre isso, o jovem se vê involuntariamente engolindo em seco, uma reação instintiva de seu corpo perante o perigo. Porém, para sua fortuna, a máscara que utilizava servia como uma camuflagem eficaz, escondendo a expressão que havia surgido abruptamente em seu rosto, uma mistura conflituosa entre raiva, insatisfação e um pavor profundo. — Sim, meu conde. Entendo perfeitamente. — diz ele, a voz soando mais firme do que ele realmente se sentia.

—Hm, eu realmente duvido disso. — o Conde responde, sem qualquer traço de humor por detrás de suas palavras. — Mas isso não é um problema agora. Tua mente ainda é jovem e ela, eventualmente, irá compreender. E se não compreender... bem, não é necessário debater sobre isso nesse exato momento.

—Sim, meu Conde. — é a resposta final do jovem, as palavras ressoando na longa viagem até o outro lado da paragem. Era uma jornada silenciosa, com cada um perdido em seus próprios pensamentos.

***

— Pois bem. peço desculpas a todos vocês, meus companheiros. Enfrentamos alguns imprevistos em nosso caminho.. — O homem começa a falar. Eles haviam chegado a um ambiente que parecia ser uma sala ou um salão, localizado em um lugar indefinido. O único iluminado proveniente de velas espalhadas pelo local, que eram acentuadas por uma decoração pomposa e extravagante em tons de vermelho, marrom e preto.

Longas mesas estavam posicionadas paralelamente no amplo salão, e as vozes de homens e mulheres criavam uma cacofonia de sons indecifráveis para o jovem mascarado, que estava hipersensibilizado pela presença da multidão de pé, cada uma segurando taças e copos elegantes cheios de vários tipos de bebidas alcoólicas. ao som da voz de seu conde, entretanto, as vozes se calam, transformando-se apenas em sussurros causados pelo vento.

Com a chegada da dupla, todos os presentes voltaram sua atenção para eles. A multidão de pessoas mascaradas, com predominância de máscaras de gás, se viraram em uníssono, como uma onda gigante vindo do mais distante dos oceanos. Todos, ainda de pé, não proferiram uma única palavra a mais para os colegas antes de, sincronizadamente, se virarem e sentarem juntos, como se formassem um exército.

O eco dos passos do homem alto e encapuzado ressoava pelo ar, com todos presentes ouvindo distinta e claramente cada um de seus movimentos lentos, amplos e meticulosamente planejados. Ele era seguido pelo seu protegido, que claramente não compartilhava o mesmo nível de determinação e confiança, embora fizesse um esforço para acompanhar a postura imponente e autoritária, algo que ainda não se adequava à sua personalidade jovem e imatura.

Com uma ordem assertiva, o homem encapuzado indicou ao seu pupilo para sentar-se ao seu lado em um palanque elevado, posicionado estrategicamente à frente de todas as mesas. cerca de doze homens e mulheres sentavam-se em cadeiras luxuosas no palanque, observando aqueles abaixo de si mesmos com curiosidade.

— Hoje, apresentaremos Tormentum Enfer. A cerimônia de oficiação está prestes a começar. — iniciou seu discurso. Sua voz era dominante, embora não tanto que soasse como a de um ditador. Foi mais um caso de exigir respeito implicitamente, e não abertamente. Suas mãos gesticulavam em sintonia com cada palavra pronunciada, e sua linguagem corporal era quase provocativa. A energia que ele irradiava era tão palpável que os presentes podiam quase senti-la emanando dele.

—Como imagino que já tenham notado, o jovem que se encontra à vossa frente já adota a usual máscara de sua persona, oque configura quebra de regra para a cerimônia final. — apontou em direção ao rapaz com uma precisão eloquente. Ele possuía a habilidade de saber exatamente quando interromper seu discurso por breves instantes, dando-lhe uma qualidade dramática e atraente.

—É claro que não espero que se sintam à vontade com uma quebra de tradição tão grande de nossa parte. Desejávamos sempre seguir os rituais à risca. Entretanto, chegou ao meu conhecimento que temos alguns convidados... não membros, poderíamos dizer, participando de nosso encontro noturno. Não membros muito particulares, na verdade — disse com um sorriso que transbordava malícia e excentricidade. — Portanto, considero que não valeria a pena correr o risco. — Tormentum definitivamente nunca havia visto aquela expressão no rosto de seu Lorde antes.

Não, definitivamente a situação não estava se desenvolvendo conforme o escasso planejamento que Tormentum havia traçado. 

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apenas algo no qual estou trabalhando para o mês de novembro. primeiro capitulo ligeiramente curto, tenho ciencia, mas eles ficaram mais longos com o tempo, tenham a certeza.

Sejam bem vindos a ordem #####, pequenos apprenticii. que sua estadia como tyto seja confortável.


Às sombras da seita 11.37Onde histórias criam vida. Descubra agora