Entre o mar da imaginação.

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A minha vida é bem sem graça.
Caminho para a escola e volto para casa me deitando na cama cansada e tentando fechar os olhos para que consiga mergulhar na imaginação para que possa poder viver onde me sinto viva.
As histórias onde a imaginação inventa, sou útil e participo de aventuras nas quais sou a mais forte e sou em que continuo com determinação fazendo os desafios serem ridículos perante minha presença, mas quando abro os olhos... Estou novamente no meu quarto cor de rosa sem graça vivendo nessa vida onde apenas é importante notas, dinheiro e reputação do que sua saúde ou até mesmo sua felicidade.

Ridículo não é?
É totalmente engraçado ver em que vivemos numa sociedade onde a imaginação é algo que quase não existe, principalmente em crianças, pois todos querem se tornar adultos antes da hora fazendo coisas que lhe levam a locais horríveis.
Queria poder dizer que ainda tem uma parte boa nesse mundo que lê os livros com gosto e vivem felizes, mas hoje apenas somos como máquinas que temos que funcionar todos os dias sem poder reclamar.

É sempre assim, então procurei meios de poder fugir dessa realidade que nos prende em cadeiras para que possamos ouvir da boca de adultos o que nós não vamos lembrar depois ou que depois não vai servir para nada.
Mergulhar na imaginação.
Há anos que não conseguia criar histórias, às vezes me sentia até mesmo vazia caminhando como se não existisse uma alma dentro de mim, até que encontrei um pequeno refúgio em minha cabeça para que pudesse esquecer todo o estresse e poder fertilizar minha cabeça.

Tive muitos traumas na minha vida em que mesmo entrando nesse mundo de fantasia, ainda não consigo esquecer.
Aquelas fotos que papai guardava no computador de mulheres que não era a minha mãe...
A ausência dele em casa.
O bullying que eu sofri na escola porque meus dentes eram expostos e porque eu era muito peluda.
A rejeição que sofri de minha própria mãe com a descoberta de eu também gostar de meninas.

Existem vários e eu sei disso, mas minha cabeça na tentativa de me proteger, me fez esquecer a metade de toda a minha infância.
Quando vejo as crianças brincando, me sinto triste e sinto também um tipo de raiva.
Por que não tive o mesmo que elas têm?

Para falar a verdade, sempre fiz essa pergunta para tudo.

Nunca tive sorte no amor, meus relacionamentos foram um lixo.
As pessoas que eu queria nem sempre gostavam de mim e ficavam com outras que eram próximas de mim.
Tudo isso me fez ter medo de amar, medo de falar o que sinto e medo também da rejeição.
Isso pode ser drama, mas acabo sempre fazendo a mesma pergunta...
Por que eu não tenho o mesmo que eles?
O que há de errado comigo?

Uma coisa que me preocupa é se um dia eu conseguirei trazer orgulho a minha mãe que por mais que muitas vezes tenha me machucado, me ajuda em muitas coisas e sua presença e amor é tudo o que tenho. Queria poder lhe trazer orgulho, mas sei que não vou conseguir lhe trazer muitas coisas que ela desejou.

Quando penso sobre tudo isso, minha cabeça automaticamente entra na fantasia onde penso que posso ser uma princesa amada, uma guerreira feroz ou até mesmo uma grande maga sábia que passa por aventuras incríveis e nunca perde sua determinação. Histórias de fantasia sempre me atraíram, viver num mundo de fantasia e magia é o que me faz todos os dias sorrir e mergulhar cada vez mais no mar da minha imaginação e poder aproveitar os vários universos em que criei onde todos posso sentir felicidade.

Mesmo que isso seja uma mania antiga, sempre faço mesmo já estando quase saindo da adolescência, que é colocar os fones e entrar no mundo da fantasia com músicas incríveis que me fazem até mesmo falar sozinha e sonhar alto. É uma sensação tão boa por um momento imaginar que você teria uma vida incrível nesses mundos cheios de magia, mas logo toda essa imaginação acaba me trazendo de volta pra realidade e me fazendo pensar nas coisas de forma mais realista.
Caso eu realmente fosse pra esses universos de magia, não teria coragem nem mesmo de enfrentar algum ser e iria virar petisco de dragões de maneira fácil. Se eu tivesse um poder, provavelmente seria o mais inútil possível.

Quando entro na piscina, gosto de pensar que estou lentamente afundando, mas não nela e sim na minha vasta cabeça conturbada que não consegue mais diferenciar a felicidade e tristeza, que não consegue parar de me fazer invejar os outros que conseguem amar a si mesmos.
Estou lentamente afundando no mar de desgraças que eu mesmo fiz sem nem mesmo perceber, tudo isso é culpa minha e sempre será.

Estou lentamente chegando no fundo das profundezas desse mar violento sentindo meus pulmões e meu coração arderem como se estivessem sendo queimados de dentro para fora, essa sensação é pior que tomar veneno. Essa sensação de cansaço está me fazendo tomar decisões horríveis para que no mínimo consiga sentir ainda a felicidade.
Tenho medo do que essa tristeza pode me transformar...

Enquanto ainda afundo, sempre tento voltar para a superfície quando lembro de meus amigos e de meus irmãos. Prometi vê-los e agradar a todos, mas toda vez que penso nisso acabo afundando mais.
O medo e a insegurança são dois dos meus demônios que apenas continuaram me afundando até que eles retirem todo o oxigênio de meus pulmões e invadam meu corpo e rasguem cada pedacinho do meu ser.

E novamente pergunto para mim mesma...

Esse mar de imaginações vai conseguir me trazer de volta pra superfície ou ele irá me enlouquecer?

Apenas pensamentos... -⁠☆Onde histórias criam vida. Descubra agora