Capítulo 2

171 19 2
                                    

Apreciando a xícara de chá de maça, o rei contemplava o campo e o jardim ao redor da varanda aberta em que estava, um momento raro já que a todo momento problemas e preocupações o atormentavam, preocupação que sempre se voltava a filha e com o pensamento chamou seus criados. O momento havia acabado.

- Com licença, alguém sabe se minha filha já levantou? Poderiam pedir para que dessem uma olhada nela? Quero saber se esta melhor.

Os criados que o serviam na varanda lateral do castelo assentiram e três deles partiram para cumprir a ordem real.

Como um pressentimento Ariela se colocou de pé, pegou sua manta estendida e a colocou novamente nos ombros. Estava na hora de voltar, as sombras das árvores falavam, muito tempo já havia passado e em seu devaneio ela não tinha percebido. Os criados iriam procura-lá e pior... seu pai já devia estar dando falta dela.

-Chance, meu querido, precisamos ir- Disse Ariela ao montar o belo cavalo e partindo em um rápido galope de volta ao castelo.

Ao pegar o caminho pelo pomar de macieiras afim de evitar o campo aberto e a guarda, Ariela puxava as rédeas de Chance, desviando das mulheres que estavam fazendo a colheita, algumas gritavam com o susto outras apenas olhavam assustavas para a princesa inconsequente que passava como um flash por elas. Ariela ria batendo o calcanhar e fazendo Chance acelerar ainda mais o passo, o som do vento cantava em seus ouvidos, os cabelos indomáveis ao vento e a dor que sentia no peito pela conhecida falta de ar devido a euforia não era nada perto do prazer daquele momento. Sim. Valia muito a pena.

E em frações de segundos o tempo parou, em câmera lenta Ariela viu Chance parar subitamente ao perceber e ser atacado por uma cascavel, o solo se aproximar assustadoramente, as rédeas fugirem de suas mãos que rapidamente travaram ao redor da cela, as pernas contraírem em reflexo, o ar sumir dos seus pulmões e uma dor lancinante tomar conta de sua testa. Chance recuperou o passo vacilante mas seu coração estava a mil com uma carga de adrenalina reagiu ao ataque e disparou sem controle.

Ariela agarrou-se mais anda a cela, todo seu corpo doía com o esforço de permanecer montada em Chance que galopava sem controle em direção ao castelo, cortando caminho pelo campo aberto e assustando a todos. Ela sabia que tinha que conseguir pegar as rédeas e puxa-lo para o lado, forçando um círculo e assim para-lo, mas não tinha forças pra isso, estava concentrado o pouco que ainda restava em todos seus músculos para simplesmente não cair.

-Chance! Chance calma! Chance!- Ela tentava gritar assustada e tensa com os dentes semicerrados.

Isso não pode estar acontecendo! Socorro...

O rei levantou de sua cadeira, aterrorizado com o que seus olhos viam, Ariela montada sem controle das rédeas sobre um cavalo disparado, atravessando o campo em frente a varanda onde estava. Seu corpo todo tremia, levou a mão até o coração e foi descendo as escadas em direção a filha.

Um vulto conseguiu alcançar eles, James também a galope conseguiu pegar rédeas de Chance e em uma manobra inteligente foi direcionando o assustado animal em direção a parede do castelo que aos poucos foi diminuindo o passo. Quando finalmente pararam, James desceu de seu Quarto de Milha indo rapidamente ao auxílio de Ariela.

-Não me toque!- Ariela esbravejou no momento em que viu os braços de James a envolverem. Ela se contorceu e ao descer caiu na grama ainda úmida pelo orvalho.

Atordoado com a reação da princesa, James recuou e se arrependeu amargamente em seguida ao vê-la cair. Aquele rosto rosado, a pele fina e o corpo frágil, por que se ariscava tanto? Por que gostava tanto de torturar as pessoas que a estimavam com tanto apreço!?

-Princesa, por favor... me deixa ajuda-a.- Ajoelhando-se ao lado dela, ofereceu apoio para levantar.

Ariela aceitou relutante, seu peito queimava clamando por ar, sabia que devia estar deplorável pois ele a estava olhando com aquele cara de pena que tanto odiava. E novamente quis se afastar. Sua cabeça doía, mesmo assim lhe deu ordens.

Lírios de FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora