Capítulo1

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  • Dedicado a Rebeca S. Melo
                                    

O raio de sol entrou pela grande janela do quarto, tocando devagar pelo seu trajeto a parede cor de rosa com adornos em forma de flores tons de ouro, os pés da cama luxuosa e seu cobertor, alcançando os fios dourados de um esguio corpo que ainda dormia. Até que a luz tocou sua pálida, mas linda face e seus olhos verdes cheios de vida se abriram.

Ariela levantou com cuidado, seu corpo estava demorando a responder e ainda se sentia fraca pela crise da noite passada. Mesmo assim caminhou até o espelho e se olhou. No reflexo uma jovem magra de pele muito branca e com algumas sardas, olhos grades cheios de expressão, cabelos compridos e com ondas cor de mel. Se acharia até bonita se não fosse a aparência frágil e debilitada. Uma tristeza já conhecida por ela veio a tona. Sempre a mais fraca, aquela que não podia sair do castelo, aquela que não possuía força para nada ou saúde para qualquer coisa. Tentou rapidamente mudar o rumo de seus pensamentos e se concentrou na tarefa de se arrumar. Por fim, calçou sua bota favorita e colocou um manto sobre os ombros antes de sair pela majestosa porta do quarto.

Ainda estava muito cedo e o castelo dormia. Apenas os criados passavam apressados e alguns soldados circulavam fazendo a ronda, nenhum que fosse atrapalhar seus planos de chegar até o estábulo sem ser notada. Ela conhecia cada detalhe daquele imenso lugar, sabia os lugares que precisava evitar, onde pisar, quando correr e quando se esconder, por trás de quais esculturas ficar e por quais portas podia passar. Finalmente alcançou a janela do lindo e vazio salão de festas, ela estava sempre aberta esse horário - Para que o vento possa circular- imitou o sotaque francês da governanta rindo do seu próprio timbre. Foi até a janela e passou por ela, no momento em que sentiu o gramado molhado sob as botas, o cheiro do orvalho fresco da manhã e o calor do sol sobre a pele, relaxou. Liberdade.

Ariela correu pelo jardim, apoiando-se nas árvores sempre que seu passo vacilava, passou por uma macieira e pegou uma de suas maças vermelhas num pulo, caminhava rápido concentrada em não perder o fôlego. Agora faltava pouco, podia ver o imponente estábulo adiante, entre três campos verdes, ansiosa podia sentir o coração acelerar ainda mais no peito. Ela tinha que evitar a guarda do castelo que já estavam treinando desde a madrugada no campo aberto. Depois do anúncio de guerra há dez anos, tudo que ela via era eles treinando, partindo para a batalha e famílias sendo destruídas sem seus filhos porque simplesmente não voltavam. E quando voltavam havia relatos de que não eram mais os mesmos. Mas havia um em particular que ela queria evitar. James Chestislav. Ela pensou em seu nome e logo seu rosto veio em sua mente. Era o primeiro tenente do exército de Miríade, nome dado ao reino devido ao grande número de pessoas responsáveis por sua criação na velha Era. James havia assumido o posto há pouco tempo, com 25 anos era considerado jovem para o cargo, forte e leal, foi escolhido pelo Rei para escoltar Ariela por todos os cantos. E por essa razão ela tomou certa antipatia e desprezo por ele. Não suportava a ideia dele a ver perambulando pelo jardim aquela manhã e muito menos que contasse ao seu pai.

O estábulo estava como sempre aconchegante, o cheiro de palha era terapêutico para Ariela. No momento em que entrou já se sentia mais calma e relaxada, caminhou pelas baias cumprimentando cada cavalo, Doceflor, uma égua bege relinchou quando ela a afagou com carinho.

-Bom dia pra você também moça- Ariela riu.

Até que finalmente chegou perto do seu querido, Chance, da raça Quarto de Milha de cor chocolate e manchas brancas nas patas e uma peculiar no rosto que ia da orelha esquerda até o focinho rosa. Ele era lindo, de todos, era o que Ariela mais amava, havia uma conexão entre os dois, ela o tinha visto nascer, dar os primeiros galopes e antes mesmo de ser domado, Ariela o havia montado. Sim. Os dois tinham muitas histórias e aventuras juntos.

-Mamãe está aqui! Ah, meu querido Chance, só você me entende...

E enquanto falava com ele, foi passando as mãos delicadas pelo seu pelo brilhoso, quando terminou de cela-lo, o montou e saiu estábulo a fora.

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