A jovem se aproximou da mesa, notando o olhar peculiar da princesa.
-Aldora.- Ariela cochichou.
Aldora se inclinou um pouco mais para a princesa enquanto a servia e assentiu demostrando que a ouvia.
-Hoje a noite depois que assumir o trabalho de Palmira venha conversar comigo depois da meia noite.
A moça se virou e deu uma piscada em sinal de confirmação e saiu como se não tivesse acontecido nada de estranho ali.
Para o meu plano dar certo, preciso que ela confie em mim. Ai Deus, me ajude.
O dia passou devagar, Ariela cumpriu todas as suas tarefas mas andava ansiosa e quanto mais pensava em seu plano mais a duvida a assombrava. De fato seria muito arriscado, mas muita coisa estava em jogo. Participou da despedida de Palmira com os empregados e sentiu um peso no coração ao vê-la partindo. Assim que Palmira deixou o castelo sua sobrinha Aldora assumiu suas funções e logo foi para o lado de Ariela.
Ao cair da noite Aldora ajudou Ariela a se trocar, desfazer as tranças e se aconchegar na cama para dormir servindo uma xícara de chá de cidreira, em todo esse processo nenhuma palavra sequer foi dita entre as duas. Aldora lançava apenas alguns olhares curiosos para a princesa mas continuava discreta em seus afazeres. Por mim se despediu.
-Aldora?- Ariela cochichou antes da jovem sair pela porta.
Aldora se virou e apenas assentiu afirmando que não havia esquecido o combinado. E assim se retirou.
Enquanto esperava o tempo passar deitada na cama, Ariela fitava o teto e enquanto reparava nos desenhos de passaros voando em um céu azul cheio de nuvens fofas uma estranha melancolia a atingiu.
Vou sentir falta desse céu. Deu tudo... papai. Palmira...Chance. Será que se eu...
Nesse momento um ranger suave de porta desviou seus pensamentos. Era Aldora entrando sorrateiramente no enorme quarto. Já era meia noite.
-Princesa?-Aldora chamou baixinho.
-Estou acordada, venha logo.- Cochichou Ariela de volta.
Aldora caminhou até a cama da princesa, guiada pela chama de aldroz em sua lamparina. Uma espécie de fogo utilizada como fonte de energia e luz que peculiarmente também emitia vida própria e alterava de cor e intensidade de acordo com o humor e intenções de seu manejador ou local. Naquele momento a chama refletia sua ansiedade pela cor azulada.
-Venha, sente aqui comigo, preciso te contar muita coisa.- Ariela sentou enquanto dava mais espaço para Aldora fazer o mesmo.
-Em que posso ajudar princesa?- Perguntou a jovem apos se sentar na beirada da cama e apoiar a pequena lamparina em seu colo.
-Então... Vou falar logo de uma vez porque não há mais tempo. Preciso fugir para as terras de Dancaster, me encontrar com Elliot e me casar com ele. Assim dar um fim a essa guerra e ao mesmo tempo experimentar algo que nunca me deixaram aqui. Liberdade. Posso contar com a sua ajuda? Quero partir essa noite. Com... as suas vestes.
Aldora arregalou os olhos e tentou pensar em alguma resposta para a princesa. De fato sabia do sofrimento e das privações dela, mas aquilo era insano. Depois de alguns segundos fitando Ariela no escuro ela respondeu.
-Não posso. O Rei me mandaria para o exílio eu...- E Ariela a interrompeu.
-Ele jamais saberá! Eu roubei suas roupas e fugi por conta própria. Por favor Aldora.
-Mas princesa, se houvesse essa alternativa por que então seu pai nunca a sugeriu? E mesmo assim quais seriam suas chances de cumprir essa viagem? Atravessar a floresta, os muros da fronteira, as tropas, a própria guerra! Ficou maluca!? E a sua doença?
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Lírios de Fogo
RomanceEm um mundo diferente do que nós conhecemos uma história de honra, amor à natureza e a vida, uma alma aprisionada pelas circunstâncias e um coração que ainda precisa descobrir o mundo vão iniciar sua jornada. Protegida apenas por sua fé e coragem e...