Capítulo 6

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Querido papai,

Passei horas pensando no que escrever e como começar essa carta, juro que rescrevi umas nove vezes até por fim desistir e ser apenas sincera com o senhor e comigo mesma.

Antes de mais nada gostaria de lhe pedir perdão. Me corta coração imaginar a dor que está sentindo ao ler essa carta sobre minha partida. Era necessário pai, por anos vi o senhor me amando e me protegendo de tudo e de todos, mesmo agora, com o reino em guerra o senhor sempre zelou com meus cuidados e sou muito grata por isso.

Porém já não suportava viver em uma gaiola de tijolos e muros, esperando e rezando para que o amanhã não fosse meu último amanhã, algo que toda sua preocupação e cuidado não me deixavam esquecer, precisava viver, desesperadamente precisava seguir o meu coração. Lembra-se de Elliot? Filho do nosso atual inimigo... Os Petrônios. Acredito que ao selar uma aliança com ele, toda essa guerra terá fim e então toda essa dor que agora sente não será nada além de uma lembrança vaga.

Eu ficarei bem, prometo meu querido pai. E antes que me esqueça, seja misericordioso com Aldora, tenho certeza que a essa altura o senhor já entrevistou todos os empregados e soldados e já deve ter chegado a ela. Fui eu quem a obrigou em me ajudar, ela não teve escolha, estava obedecendo a sua futura rainha e caso este ainda não seja um bom argumento para não jogá-la na prisão, lembre-se que eu a amo como irmã e toda mulher tem seus meios de persuadir uma amiga-irmã-criada, por essa razão lhe peço que a livre da culpa. O senhor é bom papai, sei que fará o que é mais certo e justo.

Espero ver o senhor em breve, casada e em tempos de paz.

Com muito amor e já com saudades,
Sua querida filha
Ariela.

As mãos que seguravam a carta agora levemente amassada e com borrões causados por lágrimas, ainda tremiam ao reler as palavras de sua filha. Por certo ela o conhecia muito bem e por pouco realmente não mandou Aldora para a prisão. Ainda estava tentado ao fazê-lo, mas sabia que no fundo o grande culpado era ele e não a guerra ou qualquer outra coisa. Tinha a sufocado.

Ao entrar no salão de guerra, o local não parecia o mesmo no qual James sempre havia estado para responder as ordens do rei e ouvir seus planos de ataques ou resistência. Estava repleto de livros, mapas e papéis por todos os lados, no chão, mesas e cadeiras, como se um tornado houvesse passado por lá. Em frente a ele, estava o rei, sentado em sua exuberante poltrona de couro marrom por de trás da enorme mesa e sua pilha de papéis e mapas, apático e com uma expressão distante e sofrida segurando uma folha simples nas mãos, uma carta talvez, pensou James.
Ao seu redor, oficiais, conselheiros e alguns criados assustados com a situação, oferecendo constantemente uma xícara de chá para o rei, que parecia ter envelhecido mais trinta anos com a dor da partida de sua filha. James mal podia se conter para o ouvir suas ordens de busca, também ansiava pelo paradeiro de Ariela, seu coração saltava no peito toda vez que pensava nela e agora podendo estar em perigo ele gritava para que James corresse porta afora, montasse qualquer corcel e galopasse a procura de sua... Da princesa de Miríade.

Notando a aproximação de Chestislav, o rei olhou para seu fiel tentente. Com olhos marejados e ainda segurando a carta de Ariela, se levantou de sua poltrona.

- Tenente?! Soube de alguma noticia?! Quero toda Miríade vasculhada, ela não pode ter ido muito longe, não deve ter chegado a fronteira,  não pode chegar!

- Por enquanto não majestade, mas deixei a postos todo o pelotão, temos ainda os jovens recém convocados que...

- Quero todos! Preparados ou não, temos que achar a princesa!

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