Ⅰ.

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G.

Me chamo Guilherme Rodrigo, meu nascimento foi no dia 03 de maio de 2007, em Recife. Sou irmão do meio de três crianças. Na minha família, minha mãe achava que o motivo do relacionamento fracassado com meu pai eram seus filhos, o que gera uma relação complicada entre nós. Mas o problema não é que ele decidiu voltar para a França e se casar com uma francesa, jamais.

Minha progenitora vivia reclamando dele, dizia que iria sair de Recife de vez, esquecer todas as lembranças, mesmo que ele nem aparecesse para nos ver, o máximo que fazia era uma mensagem dando feliz aniversário, quando lembrava. E agora, ela ficou louca, decidiu se mudar para João Pessoa, uma cidade vizinha a nossa.

Sempre fui um aluno nota dez, não era queridinho dos professores, nem possuía muitos amigos, eu era invisível, ninguém nunca me notou. Talvez por ser irmão do meio, ou por ser tímido, mas jamais alguém chegou em mim e perguntou: "E ai, cara. Você tá bem?" Por que ninguém nunca notou algo diferente em mim, eu sou insignificante demais para ser notado, os únicos que me notavam, eram os garotos que faziam bullying comigo no terceiro ano, e até eles desistiram quando o quinto ano chegou. Não que eu sinta falta, nunca, quero mais é que eles se fodam! Não vou sentir falta de nenhum!

Abri os olhos lentamente, enquanto ouvia o alarme tocar, de novo. Estava torcendo para que meu celular descarregasse, o som não soasse e eu não precisasse ir para a escola nova.

Escola nova, com gente nova, com coisas novas e até com cheiro novo! Imagina se as pessoas da minha sala fedem! É bem provável.

Não sei quem teve a ideia ridícula de juntar um monte de adolescentes, todas as manhãs, durantes 5 dias na semana, para assistir pessoas, que também não queriam estar ali, falar. 

Levantei da cama, já questionando se eu realmente precisava ir, ou se eu faltasse alguém perceberia. E durante o meu breve caminho ao banheiro, eu vi que sim, alguém notaria, minha irmã mais velha, Maria Gabrielle, ou como eu chamo, Gabi.

 - "Já acordou, bela adormecida?" - Eu revirei os olhos, e a loira mantinha um sorriso no rosto. Ela estava sentada na mesa da cozinha, tomando café com minha mãe do lado. Nós dois sempre tivemos uma boa relação de irmãos. Ela é totalmente o meu oposto, é alta, popular, engraçada, centro das atenções e é muito bonita. 

- "Vai se arrumar logo, Gui!"- Ouvi meu irmão mais novo, Caio, gritar, enquanto saía do banheiro, enrolado em uma toalha. Até senti uma mínima vontade de rir, pela bagunça, mas lembrei que agora era a minha vez de me arrumar para O Inferno. Caio sempre foi o mais bagunçado, sempre fazendo todos rir, bem popular, mais elétrico e irritante também.

Talvez eu tenha vindo com defeito de fábrica.

Entrei no banheiro e tranquei a porta. Encarei o espelho enquanto já escovava os dentes. Caminhei para dentro do box, liguei o chuveiro e senti a água gelada escorrendo pelo meu corpo, odeio banho de água gelada.

Terminei meu banho e fui em direção ao meu quarto, coloquei a farda do colégio. Uau, que farda ridícula! Vermelha?! Até isso é ruim nessa escola.

Ouvi minha mãe me chamar, peguei meu celular, fones e a minha mochila correndo, e logo fui em direção ao carro. E não deu tempo nem mesmo de abrir a porta do veículo, só deu tempo de eu virar em direção ao grito, que veio uma bola de futebol bem no meu rosto.

Mas que merda! Esse dia não pode piorar!

- "Mano, me desculpa!" -  Olhei com o rosto vermelho, tanto de raiva, e de vergonha. Meus irmãos não paravam de rir e a minha mãe ficava gritando para eu entrar logo dentro do carro. Bufei irritado vendo o grupo de garotos caminhar na minha direção. 

- "Que droga." - Disse baixinho, me abaixando para pegar a bola.

- "E ai, cara, tudo bem?" - O mesmo garoto que pediu desculpa, agora estava na minha frente, com um olhar preocupado, talvez ele fosse o único com bom senso ali. Os amigos dele estavam lá atrás rindo dele.

- "Relaxa." - Resmunguei, bravo, entregando a mesma coisa que atingiu minha face para ele.

- "Não, mano, foi mal mesmo. Eu te atingi sem querer." - Quando ele falou isso, vi seus amigos se aproximando e já parando de rir. - "Ah, você também estuda no Pot? Talvez a gente se esbarre lá."- Eu estava tão consumido pela raiva que nem notei que ele usava a farda da escola nova. 

Não consegui nem responder, pois a minha mãe me chamou para entrar no carro logo, ameaçando me deixar para ir andando. Eu nem me despedi do garoto, simplesmente entrei no carro e coloquei meus fones.

- "Parece que já fez amigos, né." - Gabi disse rindo, ela é tão irritante.

- "Cala boca." - Resmunguei, colocando meus fones e deixando Ghost Town tocar bem alto em meus ouvidos. 



Amores Opostos (PAUSADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora