Professor Clyde

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Estávamos andando pelos corredores de Sant'Mary discutindo alguma forma para por nosso plano em prática.

- Precisamos chamar a atenção deles - disse-lhe

- Eu sei, mas como?

- Talvez se acontecer alguns ataques, os caçadores virão investigar

- Eu não posso machucar ninguém

- Não estou te pedindo para machucar ninguém, só assustá-las

- Acho que não tenho tanto controle assim

- É por isso que precisamos de um plano melhor.

Chegamos no corredor de nossas salas e cada um entrou em uma. Desde que tive aquela ideia não parei de pensar um só segundo, talvez fosse meu instinto "detetive" agindo novamente, mas duvidei que fosse, desta vez era diferente, eu sentia a necessidade de ajudar Nolan. Depois de tanta coisa que teve que passar, ele merecia ter de volta aqueles que amava, pelo menos parte deles.

Quando bateu o sinal para a última aula, o professor Clyde dise:

- Nolan, Kristel, preciso que fiquem aqui

Assim que todos foram embora, mandou que sentássemos de frente pra sua mesa, seu olhar era sério

- Sinceramente? Achei que fossem mais espertos. Atrair caçadores para Maryhills?! Machucar pessoas?! Vocês perderam o juízo? Logo você Kristel! Além disso, você deveria saber os perigos que isso pode te oferecer, Nolan. Ainda discutem isso para que todos possam ouvir! Tenham santa paciência! - Nós dois olhamos assustados um pro outro

- Descul..pe pro..fessor, eu não ent.. - gaguejou Nolan

- Sim, eu sei o que você é, Orsen. Ou melhor, Artchald. - ficamos boquiabertos com aquilo. Como poderia o Sr. Clyde saber disso?

Ele pôs suas duas mãos sobre a mesa e suspirou. Depois, olhou-nos e disse:

- Eu sou um caçador, bom, pelo menos costumava ser. - Conseguimos arregalar os olhos ainda mais, eu olhava confusa para o Sr. Clyde, como poderia ser caçador o meu professor de inglês tão culto, intelectual e ... comum? - Pra vocês entenderem melhor,é o seguinte; eu havia nascido com a sina de ser um caçador, o meu único propósito era erradicar as bestas deste mundo, não conseguia enxergar uma vida diferente. Não sei se sabem mas algumas vezes bruxas e caçadores se aliam, foi assim que conheci Isabel, minha esposa - senti uma tristeza vinda de seu olhar, lembrar dela devia ser difícil, afinal pelo que sei, ela havia falecido. - Nós nos apaixonamos. Buscar por criaturas da noite já não me causava tanto interesse mais, eu queria ficar com ela mas ainda carregava a maldição do caçador, mesmo não querendo mais aquela vida eu era repelido para continuar, era como lutar contra uma correnteza. Até que eu pedi a ela que desativasse a maldição com um feitiço, então nós fizemos, eu me livrei de toda a obseção que possuía. Mas era contra as regras e tivemos que fugir. Tivemos uma boa vida, longe de qualquer sobrenaturalidade. Mesmo após anos eu ainda sei reconhecer uma besta, eu soube o que você era desde o início, Nolan, soube também que apesar de tudo, você possuía bondade, mas sinceramente, não há nada de bondade nessa sua ideia maluca. - Nolan baixou os olhos envergonhados, então eu disse:

- Professor Clyde,a ideia de trazer caçadores até aqui foi minha, eu sei que não é uma boa mas nós estamos tentando encontrar a família de Nolan. Eu não sei o que fazer, por favor nos ajude.

- O objetivo pode ser o melhor Srta. Lavinne, inclusive eu sinto muito seja lá o que aconteceu com sua família, Nolan, mas não podem fazer isso, nem mesmo eu. Não sou bem visto pelos caçadores.

Professor Clyde olhou em seu relógio e disse:

- Desculpem, eu preciso ir agora, mas escutem bem: Não façam nenhuma besteira. - Ele nos olhou minuciosamente, pegou sua pasta e saiu. Eu sentia os olhos de Nolan em mim, esperando que eu dissesse algo mas tudo que eu conseguia fazer era olhar pro nada enquanto minha mente tentava digerir tudo que estava acontecendo.

O vento soprou frio e eu puxei um pouco mais o suéter que estava usando, ali naquela escuridão sentada no chão do estacionamento da faculdade me perguntava se o Sr. Clyde demoraria ainda mais. Eu brincava com uma pedrinha na terra fria quando uma voz grave chamou meu nome:

- Kristel? - me assustei e levantei-me prontamente - O que você faz sentada aqui?

- Eu precisava falar com o senhor

- Mas não precisava fazer plantão aqui no estacionamento - ele abriu a porta do carro e começou a guardar seus livros - está frio e é noite, você sabe que é perigoso

- É dela, não é? Digo, o livro. - Sr. Clyde paralisou, ele se virou e pôde ver o livro que eu tinha em mãos. - O senhor falava com tanta adoração deste livro que eu me sentia desumana só por nunca ter lido-o, lembro que disse que não me emprestaria porque era uma versão especial, ele havia sido escrito à mão. Depois disso eu saí procurando "O voo das borboletas" feito louca, procurei em cada canto da internet, em todas as livrarias e bibliotecas, mas nunca encontrei. Até que o senhor me entregou dizendo que iria viajar e precisava que alguém cuidasse - sorri - Lendo-o eu imaginei ter encontrado o motivo para tamanho amor, afinal, ele é simplesmente mágico. Mas hoje quando cheguei em casa eu enxerguei. A autora é I. Annie que quer dizer Isabel Annie, a sua esposa, não é mesmo? E eu nunca encontrei o livro porque ela fez somente para o senhor. Eu nem consigo imaginar a tamanha importância que este livro tem e o senhor o confiou a mim.

- Aonde você quer chegar Kristel?

- Nolan também confiou em mim, mas eu não sei se consigo. O senhor mesmo disse que vê bondade nele, eu só quero que Nolan veja a família outra vez. Por favor professor, me ajude. - Houve uma longa pausa até que por fim ele suspirou e olhando nos meus olhos, disse:

- Tudo bem, eu ajudo.

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