INUTILIDADE

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Inspirado na poesia "tabacaria" de Fernando Pessoa

Sou inútil
Não, somos inuteis.
Não posso querer agir como inútil.
Me contradizendo,
Tenho toda a capacidade de ser útil.

Palavras das minhas poesias,
Poesia de mais uma dos milhoes de poetas do mundo,
Poesias escritas sem assinatura,
Poesias que ninguém sabe de quem são,
Mas se soubessem, respeitariam?
Dais a fama de artistas recordaveis para leigos como eu.
Inuteis? Definitivamente,
Bons? Desconhecidamente.
Com os mistérios de suas artes escondidos dentro da própria mente pensante.
Com a morte transformando poesias em enigmas,
e colocando duvidas nos homens.
Com a solução desconhecida por qualquer alma.
E assim será, pois é para ser.

Me conheço por ser feliz,
como se soubesse o que é felicidade.
Me conheço por viver bem,
como se não desejasse morrer.
Declaro que sou como a paz,
Que nunca existiu nos homens.
Senão uma falsa sensação,
Junto de uma decepção.
Minha decepção, que vem junto da minha falsa felicidade,
E começa a tremedeira no corpo e as dores de cabeça,
O nervosismo toma conta, eu o transformo em frases.

Recentemente me sinto realizada, como se não fosse inútil.
Recentemente me sinto confusa entre seguir para o lado útil da vida,
Ou para a galeria de obras do outro lado da vida,
O lado visto apenas por olhos de gente como eu, inúteis.
Utilidade é poder, sensação de que tudo é obrigação.
Sonho é fraqueza, sensação de que tudo é fantástico.

Decepcionei a todos,
Pais, professores, amigos, todos.
Como também não pedi para criarem expectativas,
Criaram porque quiseram,
Se decepcionaram porque quiseram.
Talvez esse fosse o erro, expectativas.
A inutilidade que me deram nome,
Que me chamaram de inútil
Com todas as letras,
Essa inutilidade
transformei em criatividade,
Enchi o peito e soltei palavras em uma sala repleta de gente.
Mas lá, ninguém me deu ouvidos.
E quando me escutavam, riam.
Soltei o ar, e prometi para mim mesma que nunca mais pisaria em palcos.
Cá estou eu.

Como deixar de ser inútil aos olhos de gente?
Ser o que não quero?
Mas eu não quero ser muitas coisas.
E são tantas as coisas que não quero ser,
Que chega ser ridículo comparar com a única inutilidade que quero ser.
Boa poeta? Nessa vírgula de circunstância do momento.
Milhões de poesias sendo escritas e cem mil melhores que essa.
E as pessoas escutaram no máximo duas ou três.
Como foi agora e da última vez.
Não haverá se não mendigos injustiçados pelos sonhos não realizados.

Não, não confio na minha única qualidade,
Da mesma forma, não confio em nada.
Em todos os filmes de terror existem doidos malucos que vão atrás do barulho, com medo!
Seriam eles confiantes ou curiosos?

Não, eu não confio nem se quer em mim mesma,
Quem dirá confiar em gente.
Já espalhei confiança e a tornaram despedaçada.
Em quantos papéis velhos do planeta não estão escritas poesias muito melhores que as minhas.
Mas por serem em um papel velho, nunca terão o mesmo reconhecimento de uma poesia declamada.

A utilidade pode existir até para os artistas,
Basta viver em uma realidade que o artista saiba conquistar.
Talvez com um pouco de carisma,
Um sorriso maior,
Uma expressão contagiante.

Não importa o que um artista faça.
No final, mesmo que tenha sucesso,
continuamos sendo "os inúteis".
Continuamos sendo "os que nasceram para pedir esmola",
Continuamos sendo "os que poderiam ter se dado bem"
Continuamos sendo "os que acham que a vida é mar de rosas"
Mesmo se ouvir a voz de Deus, dizendo siga em frente,
Acha mesmo que vão crer em mim?
Óbvio que não.
Mas não cobro crença referente aos outros.
Quem quiser acreditar, que acredite, mas acredite se quiser ou se tiver, ou se não nem acredite.

Sou mais uma poetiza no mundo os inúteis,
Escrevo poesias, antes mesmo de ir dormir
E logo após acordar.
Sou inútil, não.
As pessoas vêm poetas como inúteis.

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