TEATRO POÉTICO

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Deixei sobre a mesa todos os remédios da minha casa,
Junto com a bebida,
forte, como a dor da perda.
Eu sentei nessa mesa, e escrevi mais uma carta para você.
Se isso é tristeza,
Porque continuo desejando?
Porque busco por mais?
Me sinto mal,
Tonta,
Sinto uma ânsia,
Que parece incessante.
Não aceito dizer que sou poetisa,
Também não aceito escrever mais,
Porque em poucos anos de vida,
Já perdi o sentido da poesia,
Que antes me ajudava a superar as dificuldades,
Agora poetizar se tornou uma das dificuldades,
E eu não sei mais pra quem e o porque escrevo.
E todas as poesias são sobre angústia.
Pois toda minha tristeza eu coloco no papel.

Abri a janela para o ar entrar,
Nem um vento entrou.
Abri a porta para alguém entrar,
Mas na minha casa ninguém entrou.
A sala 'ta vazia,
Sem ninguém.
E eu desisti de esperar por alguém.
Mas a janela continua aberta,
Porque ainda resta esperança do ar entrar.
A porta também continua aberta,
Mesmo tendo desistido de esperar.

Ao invés de esperar,
Vou pegar o papel e escrever uma carta,
É melhor do que ficar aqui até cansar.

Manu, queria te ver essa noite,
Você deixa a brisa suave,
Trás de volta a minha vontade de cantar,
E de poetizar.

Manu, te escrevo porque a tristeza me pegou hoje,
E na minha cabeça só se passava escrever para alguém,
Não tenho muito sobre o que falar,
Depois que essa carta eu terminar,
Vou sair pra' passear,
Pra tristeza se afastar.

Eu vou tomar um café,
Vou escrever pro José,
E vou ouvir pela última vez a nossa música.
Eu queria que a minha vida fosse como a divina comédia pra' minha cabeça se dividir entre força, fé e medo.
No entanto sou como um girassol murcho que cheira tristeza
Estou com saudades de você.
Assinado: Ana Lívia.

Acredito que alguns poetas escrevem aquilo que enxergam,
E acredito que alguns pintores pintam aquilo que ouvem,
Por isso pintores cortam suas próprias orelhas,
E os poetas furam seus próprios olhos.
Espero que quem pense isso, vulgo eu mesma, esteja completamente errado.
Da mesma forma,
Espero que os poetas que ficaram cegos de poesia, escrevam com a emoção e não com os olhos,
Mas se eu não explicar, ninguém nunca vai me entender.

As poesias perdem sentido com o tempo,
Os poetas também se perdem com o tempo.
Poetas também morrem.
Já parou pra pensar nisso? Na morte.
A morte para alguns pode ser o consolo, o descanso,
E para os poetas o alívio, de não se decepcionar com as próprias escritas,
E com os versos nunca lidos nas gigantes bibliotecas de poesias.

Eu sou alguém inconsolável,
Com obras escritas com repúdio,
E são delas que todos os sentimentos são escritos,
Como as flores desabrochando.

Eu percebi que a minha vontade de escrever morreu,
E após a morte não tem destino,
Não há céu ou inferno para poesias,
Não há purgatório para salvá-las.
E as cartas, nunca mais escreverei?
Não, já não há mais motivo pra isso.

Vou permitir que morra junto a mim o meu sonho de escrever poesias eternas,
Pois poesias eternas não sou capaz de escrever.
Não aguento, pois nem todo o meu amor foi o suficiente para escrever uma poesia esquecida,
E nem toda minha tristeza é capaz de lembrar as pessoas das minhas poesias não terminadas.
Mas porém, meus textos são o que me movem adiante,
E eu sinto, que em meus textos estão meus sentimentos,
E nos meus olhos, minhas lágrimas.

Não quero escrever porque se não escrevesse isso tudo estaria acabado,
Quero apenas desfrutar da minha tristeza, relendo versos do passado.
Para que eu possa lembrar das memórias de mais um desesperado,
Nesse mundo de esquecimento,
Que ninguém se lembra mais.

Eu permito.
Tu adorarás e escreverás outras poesias de outras poetisas.
Teus versos serão sobre outro alguém,
Como os meus também,
E tu amará outro amor sem nem se lembrar de mim.
Mas você se lembrará que quem te amou fui eu.
Porquê eu fui a grande poeta da sua vida,
Porque eu usei da minha caneta e do meu papel para escrever sobre você,
Porque eu enxuguei suas lágrimas,
Enquanto segurava as minhas.
E eu acolhi em minha vida a amarga tristeza da falta do seu abraço.

Eu ficarei sem mais um motivo para escrever,
Mas em meus antigos versos sempre terá seu nome,
E eu finalmente poderei dizer que escrevi algo sobre alguém que nunca irei esquecer.
E lembrarei desses versos até que a morte apague minhas memórias.

E todas as outras poesias sobre quaisquer assunto,
Ainda sim serão sobre você,
Pois até no brilho das estrelas enxergo seus olhos,
E no meu coração cravo um poema com seu nome.
E todas as poesias serão meus sentimentos recentes,
Sentimentos indecentes,
Sentimentos apagados,
Pela perda das memórias do passado.

Anali R.

Todas as poesias não lidasOnde histórias criam vida. Descubra agora