O gosto de ferro na minha boca é inconfundível. O corte no meu lábio arde como fogo, uma dor intensa que me mantém presa à realidade cruel do momento. Passo a língua pelos dentes, o toque áspero me tranquiliza um pouco ao confirmar que ainda estão todos no lugar. Minha respiração é vacilante; o medo e a adrenalina se misturam, me deixando indecisa. Não sei se devo correr, me afastar o máximo possível desse pesadelo, ou se devo ficar, enfrentá-lo. Mas a vontade de fugir lateja dentro de mim, um instinto de sobrevivência que grita em meus ouvidos.- Vadia! Não presta nem para satisfazer um homem! - a voz do homem soa como um trovão, carregada de ódio, antes que o punho dele atinja meu rosto com uma força brutal.
Eu não deveria sorrir, mas sorrio. É um sorriso amargo, sarcástico, a única resposta que posso dar à sua tentativa de me diminuir.
- Não tenho culpa se o seu pau é minúsculo.
Minhas palavras saem com uma estranha mistura de desprezo e resignação. A cena que se desenrola diante de mim não é nada bonita. O sangue escorre pelos meus lábios, pintando meu sorriso de vermelho. Sei que minhas palavras só vão agravar a situação, que ele vai bater mais forte, que a dor vai aumentar. Mas, de certa forma, não me importo. Se ele me matasse agora, seria um alívio.
Então, de repente, a escuridão toma conta de mim.
Acordo com um sobressalto, meu coração batendo descompassado como se quisesse sair do peito. Minha respiração é rápida e ofegante, e o suor cobre meu rosto, me fazendo sentir como se ainda estivesse presa naquele pesadelo horrível.
- Eva, querida, foi só um pesadelo.
A voz suave e reconfortante de Max atravessa a névoa do medo, trazendo-me de volta à realidade. Um alívio imediato me invade ao reconhecer a voz dele, ao lembrar que estou segura. Ainda que o quarto esteja mergulhado na escuridão, sei que ele está ali, ao meu lado, como sempre.
- Princesa, vou acender a luz, tudo bem?
Sinto a mão dele tateando o criado-mudo ao lado da cama, procurando o interruptor. Quando a luz finalmente se acende, ilumina seu rosto bem esculpido, revelando suas feições preocupadas. Ele me observa com atenção, como se tentasse ler cada detalhe da minha expressão.
- Você está bem?
O tom da voz dele é terno, mas também carregado de preocupação. Ele não apenas pergunta por perguntar; realmente quer saber se estou bem. Seus olhos analisam meu rosto, cada detalhe, buscando qualquer sinal de dor ou desconforto. Sua testa franze e seus olhos apertam, refletindo a angústia que ele sente ao me ver assim.
- Você está suada - ele comenta, estendendo a mão para tocar minha testa. - Você está queimando de febre.
A rapidez com que ele se levanta me surpreende, e por um breve momento, tenho um vislumbre de seu corpo, apenas de cueca. Mesmo febril, sinto meu corpo aquecer ainda mais, desta vez por uma vergonha repentina. Não sei por que me sinto assim; Max já me viu tantas vezes, mas, talvez por causa do pesadelo, sinto-me mais vulnerável.
- O dia está quase amanhecendo - digo, olhando para a janela, onde o céu começa a clarear, dissipando as sombras da noite.
- Eva, com o que você sonhou?
A pergunta não parece uma mera curiosidade, mas uma preocupação genuína. Balanço a cabeça, tentando afastar as lembranças do pesadelo, como se negá-las as fizesse desaparecer.
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Herdeiros de Sophia . Eva
RomanceLivro 0 Sophia Livro 1 Herdeiros de Sophia . Eva . Não é necessário ler o livro Sophia para entender a história de Eva. Eva uma garota que teve a vida destruída por quem devia ter cuidado e amado , abusada desde a sua infância carrega trau...