Do Paraíso ao Inferno: Almas que amam

Água e Óleo

São Petersburgo, 15 de dezembro de 2000...
-Eva! Levanta daí, já cansei de te falar para sair dessa vida. Vamos, anda logo , vamos para casa. Samara dizia aborrecida enquanto levantava Eva que estava no chão tão  bêbada que  mal lembrava o próprio nome.
-Ahh, para de ser chata e fuma um comigo, deixa de ser careta! Senta aqui vai... Respondeu Eva rindo e falando com a língua toda enrolada.
Quando chegaram em casa, Samy deu um banho quente em Eva e a colocou para descansar, como habitualmente fazia pois Eva era uma garota muito difícil de lidar, ela saía e bebia até se acabar, depois voltava cambaleando pelas ruas de uma forma deplorável, sozinha, fedendo e sem o mínimo de dignidade.
Apesar de todo esse trabalho, Samy sempre cuidava de Eva e nunca deixava ela largada por aí , onde quer que ela estivesse.
O dia começou e Samy estava sentada em uma poltrona, com sua caneca de café quente, olhando pela janela a nevasca, com uma feição séria, muito pensativa enquanto Eva dormia.
Chegou a hora de ir para o trabalho, ela pega um caderno de anotações e deixa um recado para Eva: " Estou indo trabalhar, por favor fique longe de problemas em minha ausência, cuide-se e fique bem. Deixei o café pronto para você. Beijos"
Saiu tentando não fazer barulho, depois de ficar olhando fixamente para Eva dormindo.
"Gostaria tanto que elas tomasse jeito na vida, parasse com os vícios e ficasse bem"
Era o que Samy pensava quase sempre, enquanto ia  à caminho da Biblioteca onde trabalhava...
Apesar de tamanha preocupação com a rebeldia e o caos que era a vida de Eva, Samara se sentia atraída pela personalidade caótica que ela possuía.
Era como o yin e yang, água e fogo. As duas tinham naturezas diferentes, eram completamente incompatíveis.
Uma tinha um grande senso de responsabilidade, enquanto a outra, vivia como se não houvesse amanhã.
Desde a infância elas eram amigas, estavam  sempre juntas.  Quando Eva era mais nova, era uma boa amiga, fazia companhia a Samy e elas saiam juntas para vários lugares, claro que sempre tinha aquele humor escandaloso fora de hora, que Samy achava bem idiota, mas se divertia muito.
Com o passar dos anos, Eva começou a ser abusada pelo padrasto, se tornando uma menina mais fria, traumatizada e rebelde.
A família de Eva era humilde porém feita de aparências , sua mãe era uma mulher ríspida, religiosa fanática, vivia na igreja e deixava os filhos em casa, enquanto seu pai biológico havia se mudado para os Estados Unidos , exatamente por não suportar mais a atitudes de Ivana, sendo assim, ele constituiu uma nova família e se mudou para o outro país.
Ele deixou seu passado para trás e juntamente nele, deixou Eva... Que cresceu sem notícias e contato com o pai.
Ela teve uma infância difícil e a única coisa que diminuía essa dor e os traumas, era a presença e o amor  de Samara.
Eva se escondia debaixo da cama e chorava baixinho , se sentia sozinha e desprotegida.
Samy ia até o quarto da amiga e sabia onde encontrá-la.
Ela entrava debaixo da cama com Eva e sempre levava um pacotinho de balas para confortar Eva.
-Toma. Come, eu sei que você não saiu daqui para se alimentar Eva, come um pouquinho de bala comigo amiga.
Dizia Samy enquanto limpava o rosto sujo e molhado de lágrimas de Eva.
Eva sentia o carinho de Samara  sem precisar dizer uma palavra, ela abraçava a amiga e se sentia acolhida naquele instante, como se fosse o melhor abraço do mundo, o mais quentinho e mais importante que ela pudesse ter.
Elas sabiam que uma precisava da outra e Eva sabia que Samy jamais a deixaria, por nada e nem ninguém.
Mesmo estando focada no serviço, Samara estava com a cabeça em casa , pensando onde e como estaria Eva, se ela teria saído ou se estava tudo bem.
Ficava com seus olhos castanhos arregalados olhando o ponteiro do relógio passar lentamente a cada número , com ansiedade e agonia para ir embora.
Enquanto isso, Eva estava em casa, sóbria e deprimida, esperando dar a hora para sair e se encontrar com os camaradas fora da lei que ficavam escondidos pelos becos da cidade.