As janelas estão abertas

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Lançarote estava deitado confortavelmente, sendo abraçado por patas que ele nunca imaginou que teriam a força que havia sido apresentada e com a respiração leve contra seu cabelo. Ele estava encarando o teto cheio de teias de aranha e evitando ao máximo se mover, como se ele sequer fosse capaz de sair do abraço apertado que estava recebendo. Tamborilou os dedos na grande pata ao redor do seu quadril, se perguntando o que ele havia feito para parar naquela situação.

Ah, sim. Ele decidiu ajudar o veterinário.

Alguns dias depois dos exames terem sido realizados, o homem havia retornado e contado sobre como, após o contato com uma fêmea que estava prestes a entrar no cio, o corpo de Destino havia iniciado os hormônios para se preparar para cortejá-la e, como era a primeira vez que isso acontecia e ele não conseguia ter acesso algum a tal fêmea, isso o deixou frustrado e agressivo.

Odeio como ele fala do Destino como se ele fosse só um bicho. — Morderete resmungou para Lançarote. Isso era surpresa, já que o jovem ator não gostava muito da besta.

— Eu também quero solicitar um espermograma. Entendo que ele é estéril, mas é um exame que eu gostaria de realizar para ter uma melhor noção do quadro geral da besta.

O dono do teatro simplesmente fez um gesto, ignorando seu pedido.

— Então, ele nos tem dado dor de cabeça por quase um mês, por que queria uma namorada? Honestamente, se eu soubesse disso não teria deixado ele trancado lá em cima de castigo, teria contratado alguma moça bonitinha no prostíbulo e resolvido isso no primeiro dia.

— Eu acredito que isso passará com o tempo, se continuar isolado. — murmurou o veterinário, realmente parecendo não gostar da ideia.

Nhe, eu vou passar lá quando estiver aberto e vou ver qual delas será boa para aguentar o bicho maluco. Obrigado pela ajuda, doutor. É sempre bom tê-lo por perto.

O homem continuou parado ali, mas logo entendendo que foi dispensado, saiu com uma carranca. Lançarote pensou por alguns momentos, mas logo o seguiu, andando lado a lado com o doutor.

— Boa tentativa.

— Se veio zombar de mim, pode esquecer. Já entendi que nenhum de vocês artistas ligam pra ciência.

O ator segurou seu ombro, parando-o.

— Ei, ei, relaxa. Não vim zoar com a sua cara, juro. Só que eu te avisei, se você tentasse sugerir isso, só iriam ignorar e procurar uma solução mais fácil do que um exame que a gente sabe que vai voltar dizendo o óbvio.

O veterinário gesticulou com as mãos, agitado. Seriamente nervoso.

— Mas, e se tiver uma porcentagem que indicaria que ele é capaz de se reproduzir? Como seria se ele acabasse cruzando com uma fêmea que o aceitasse de bom grado? Tantas perguntas, perguntas que não podemos tentar repetir com qualquer outro experimento porque ele é único e esse idiota não vê isso! Seria um grande avanço!

Lançarote revirou os olhos, tirando a mão de perto do homem.

— É, uma pena que ninguém vai te ajudar nisso. Mas quem sabe uma próxima vez...

— Você precisa me ajudar.

— Quê? Eu não vou fazer nada disso!

— É fácil! Apenas o drogue como sempre fazem quando preciso fazer exames e colete o que for necessário! Eu tenho um pote na minha mala, me dê um segundo.

Abriu a mala e começou a vasculhar, o que deixou o ator mais aterrorizado.

— Você quer que eu faça isso? Eu já falei que não ia te ajudar!

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