É o quê?!

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Lançarote limpou o chão e o ninho o melhor que conseguia, e esperou um pouco para conseguir sair do sótão sem ser visto. Havia esquecido dos sanduíches batizados e Destino não acordou a noite quando trouxeram a mulher besta, o que fez todos entrarem em pânico e chamarem o veterinário; Galvão estava aos prantos, abraçando o corpo nu da besta, mesmo quando Destino acordou e ficou o encarando por diversos minutos até alguém perceber. Recebeu uma bronca pelo susto que deu, beijos, mais uma bronca, um abraço muito forte, mais duas broncas, e um petisco depois que o veterinário recolheu o sangue e não o atacou.

Não contou o que havia acontecido entre ele e Lançarote, mesmo quando questionado do motivo de estar nu e dormindo de forma tão pesada. Simplesmente disse que não queria comentar sobre isso. Seu parceiro poderia sofrer sérias consequências se descobrissem o que ele tinha feito e não estava afim de perdê-lo por isso, então guardou segredo sobre isso, e quando Lançarote voltou querendo outras vezes, aceitou, e manteve o segredo entre eles. O dono do teatro iria, no mínimo, demiti-lo. Mas, mesmo quando Lançarote estava com ele para fazer companhia, se pegava olhando para a janela e esperando ver alguma coisa e sempre acabava decepcionado quando não via o que queria.

Quando viu apenas a dona Madalena sozinha, ao invés do grupo de dançarinas, achou estranho. Deveria estar ajudando Lançarote com o ensaio, como sempre, mas seus olhos não desgrudavam da rua. Quando a mulher finalmente sumiu de seu campo de visão, virou a cabeça para o homem ainda recitando suas falas e se movendo de forma dramática.

— Você é um excelente ator. Não sei por que precisa de mim. — comentou, piscando os olhos algumas vezes de maneira adorável.

O homem gesticulou, parecendo muito frenético.

— Porque eu preciso que me critique! Não serei bom de verdade se me elogiar todas as vezes que eu pedir ajuda!

— Está exagerando.

Isso, onde estou exagerando?!

— Eu digo na sua necessidade por críticas. E na forma que anda. — tombou a cabeça pro lado. — Parece um herói arrogante, que teve uma vida vazia porque não conseguia ficar em um só lugar e se apegar a uma pessoa só por muito tempo e está se escondendo da própria morte.

Lançarote ficou o encarando, em silêncio. Destino piscou outra vez.

— Menos floreios. E para com esse sotaque forçado. — continuou.

— O personagem é estrangeiro!

— E você soa como um espanhol. O personagem é francês.

— Você não sabe o que é sotaque espanhol!

— A dona Imelda é espanhola.

— Não ela não- de onde é que você conhece ela?

Destino voltou a encarar a janela e não deu uma resposta imediata.

— Meu pai ia para entreter as crianças do orfanato, vez e outra me levando.

Notou o homem sentando perto, olhando para seu rosto. Manteve os olhos na janela.

— Você bem que podia ir de novo. Você tem jeito.

— Tem certas coisas que são melhores do jeito que estão. E o orfanato fechou.

— Sério? Eu não sabia. Imelda era uma boa mulher.

— De onde a conhece?

Lançarote encolheu os ombros.

— Muitos órfãos vão pro exército. Sem condições de ir pra faculdade.

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