Capítulo 4

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ANNA

- Você está muito bonita.

Anna se ajeitou no banco ao ouvir aquele sotaque mexicano e pela primeira vez sentiu um incômodo ao ouvir um elogio vindo de Abigail.

- Obrigada. - ela respondeu sem alegria.

- Posso? - ela apontou para o banco, especificamente para o espaço vazio ao seu lado.

- Claro.

Quando Abigail se sentou, ela pôde sentir o cheiro do perfume dela. Era o mesmo que ela usava na noite em que elas...

- Então você está com o meu pai. - Abigail cortou seus pensamentos.

- Sim, esta noite. - porque a vontade de chorar ainda estava em sua garganta? Anna se perguntou.

- Ele a contratou?

- Sim.

Abigail respirou fundo e olhou para a árvore da frente quando se encostou no banco duro de madeira, o que deixou Anna curiosa. Não entendia o motivo de sua visível chateação e duvidava muito que seria pelos mesmo motivos que ela.

- Qual o problema? - ela franziu as sobrancelhas.

- Eu pago o dobro que ele pagou para você ir embora.

E essa frase doeu tanto quanto uma facada em seu peito, mesmo sem saber o porquê. Mas Anna não demonstrou, ela esticou a coluna e manteve a falsa postura.

- Eu não vou fazer isso. O Martin é meu cliente há muito tempo e nunca deixou de me contratar em um só mês.

Abigail voltou a olhá-la com aqueles olhos brilhando e a testa franzida.

- Todos os meses?

- Sim, sem exceção.

- Sempre na data de hoje?

- Todo dia 18 do mês, sim.

- Há quanto tempo?

- O qu...

- Há quanto tempo? - Abigail repetiu, com mais firmeza.

- Eu não sei, um ano, talvez.

Abigail pareceu devanear um pouco, seus olhos se perdendo em pensamentos que Anna daria tudo para decifrar.

- Não estou entendendo, o que ele...

- Não se preocupe. Apenas vá. Cuidarei para que todos os dias 18 de todos os meses você receba o pagamento, mas nunca mais pode vê-lo.

Anna sentiu seu ego ferido por algum motivo e apertou a bolsinha que segurava, como se estivesse se controlando para não dar um tapa na cara dela.

- Você não pode aparecer e simplesmente me controlar.

- Não estou tentando fazer isso.

- E o que está tentando fazer?

Abigail apoiou os braços em seus próprios joelhos e desviou o olhar para a árvore novamente. Anna se pegou observando seu perfil, o pescoço longo, o queixo e o maxilar definidos e angulados, o nariz desenhado com uma pequena elevação na dobra entre a testa, todo aquele conjunto era bonito demais de se ver, por mais furiosa que ela estivesse ficando.

Deus... Ela nunca esteve tão confusa em sua vida. O mix de atração e raiva que ela sentia por aquela mulher era algo que ela nunca sentiu antes por ninguém e não sabia explicar de onde vinha.

- Me responda. - dessa vez o tom de ordem veio de Anna e ela quase se encolheu quando Abigail virou lentamente o rosto em sua direção para olhá-la novamente, mas manteve sua postura.

Garota de Programa (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora