Capítulo 22

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ANNA

Um dia inteiro se passou até que Anna pudesse visitar Abigail na prisão. Ela não havia dormido, mal havia comido e teve que aguardar horas naquela maldita sala de espera até que a liberassem para a visitação.

Depois de todo aquele choque, Juan a levou para casa e disse para ela aguardar o contato dele, o que foi uma tortura. Ela não queria ser deixada de fora de nada, queria saber dos detalhes, queria ser atualizada da situação de Abigail em tempo real, mas Juan parecia estar lhe privando de tudo isso. Ela tentou não culpá-lo. Essa era uma situação delicada que Abigail provavelmente nunca havia passado e levaria algum tempo até que as coisas se ajustassem... Se isso realmente fosse possível.

Agora que estava prestes a vê-la, Anna não parava de tremer. Ela não sabia o que iria falar, não sabia o que iria perguntar, só queria vê-la com seus próprios olhos e assim ficar pelo menos um pouco mais tranquila depois de um dia tão infernal.

Depois de uma revista minuciosa, Anna foi levada até uma sala pequena e viu Abigail sentada do outro lado de uma separação de vidro. Quando Anna se aproximou e se sentou na sua frente, ela viu de perto uma Abigail que nunca tinha visto antes.

Suas roupas finas e elegantes foram substituídas por um macacão laranja numerado. Seu olhar estava cansado e fundo, provavelmente ela também não havia dormido nada. Seus cabelos estavam bagunçados e a feição feliz e sorridente que ela tinha se acostumado a ver nos últimos dias não estava mais ali. O que não era de se surpreender, Anna provavelmente estava pior do que ela parecia, sequer havia se olhado no espelho durante esse tempo.

Abigail pegou o telefone de comunicação e colocou no ouvido. Ela fez o mesmo.

- Hola, mi Anna... - Abigail falou com a voz fraca e rouca. - Como você está?

- Ah, Abigail... - Anna suspirou e segurou firme um choro quase incontrolável ao ouvir aquela voz. - O que está acontecendo? Eu não dormi nada essa noite sem saber como você estava, foi um inferno...

- Eu estou bem... Quando você sair daqui, a Martina, minha advogada, vai estar te esperando e ela vai te explicar tudo com detalhes, sí?

- Quanto tempo você vai ficar aqui?

- Devo estar sendo liberada amanhã depois do pagamento da fiança, não se preocupe com isso.

Apesar do alívio que sentiu, Anna a observou e percebeu que enquanto Abigail falava para ela não se preocupar, ela parecia extremamente preocupada. Seu lábio inferior estava visivelmente machucado, muito provavelmente resultado de mordidas de estresse que ela ainda fazia, mesmo sem perceber.

- Promete que vai me ver quando sair?

- Arrume suas coisas, sí? Hoje mesmo o Juan vai te ajudar e te levar para minha casa. Eu não vou poder sair de lá por algum tempo, provavelmente vou ficar em prisão domiciliar até o processo se desenrolar.

- Oh meu Deus, Abigail. O que está acontecendo?

Ela suspirou e esfregou a testa por um momento.

- Você vai entender tudo em breve... Mas eu preciso te contar algo que eu fiz. Preciso que me ouça com atenção, temos pouco tempo. As dúvidas que você tiver a Martina vai te esclarecer, está bem?

O coração de Anna deu um pulo nesse momento. Porque nada era simples com essa mulher?

- Ok. - ela respondeu sem saber o que pensar, mais uma vez esperando o pior.

- Eu sabia que isso iria acontecer em algum momento. Eu não sabia quando, mas eu sabia que meu pai estava tramando algo pra me tirar do poder da empresa. Depois que a Luara se foi, eu sabia que ele não descansaria até tirar tudo de mim e me deixar no fundo do poço. Então eu tomei algumas providências e me adiantei antes que tudo isso acontecesse. - ela pausou por um momento e olhou para Anna no fundo dos olhos. - Lembra dos papéis que eu dei pra você assinar? Os papéis da viagem?

- O seguro viagem?

Abigail assentiu com a cabeça.

- Bom... Aqueles não eram só os documentos da viagem. Eu passei todos os meus bens materiais para o seu nome. As casas, os apartamentos, os carros, tudo, menos a empresa, porque não tinha como fazer isso sem a aprovação do Martin.

Anna olhou fixamente para Abigail e sequer conseguiu piscar. Espera... Ela tinha ouvido direito? Pelo que ela entendia, isso se resumia a milhões e mais milhões de euros.

- Você está falando sério?

- Sí. Eu tive que fazer isso, me desculpe por não ter te falado nada, mas eu não queria te colocar na posição de cúmplice de alguma forma. Eu pretendia esclarecer as coisas quando a gente voltasse de viagem, mas não deu tempo. Se eu tivesse esperando um pouco mais eu teria perdido muito mais do que eu perdi. E você é a única pessoa além do Juan que eu confio.

Apesar de se tratar de muito dinheiro, tanto dinheiro que ela nunca teria mesmo se trabalhasse a vida inteira, Anna sabia que nada daquilo era dela. Eram os bens de Abigail.

- E o que... O que eu faço? Isso vai trazer algum tipo de problema pra mim?

- No. Não. Eu jamais faria isso se te prejudicasse de alguma forma. A Martina vai te guiar. Eu acabei de ter uma reunião com ela e estamos no processo de vender alguns bens que estão no seu nome para o pagamento da fiança. Ela precisa de sua assinatura para isso. Você pode confiar nela, sí?

Anna não teve nenhuma reação a não ser concordar com a cabeça.

Alguns poucos segundos de silêncio se formaram, mas Anna o quebrou.

- Você pode confiar em mim, ok? Eu também nunca faria nada que te prejudicasse. Vai ficar tudo bem. - ela colocou a mão no vidro, desejando tocá-la e acalentá-la, e Abigail fez o mesmo. - Eu não vejo a hora de te abraçar de novo aqui fora.

- Logo, logo, mi Anna... - ela falou com uma voz baixa. - Não conte nada para a Mía, sí? Só diga a ela que eu estou viajando e que volto logo.

- Claro... Claro. Não se preocupe. Eu te amo...

O policial que acompanhou Anna abriu a porta, indicando que estava na hora de ir.

- Eu também te amo. Até logo, mi amor. - Abigail sorriu de forma triste e tirou a mão do vidro, desligando o telefone.

Essa com certeza foi uma das cenas mais tristes que Anna já presenciou em sua vida.

Garota de Programa (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora