༆☣ Cressida Alordew era o que muitos poderiam chamar de boneca de porcelana, qualquer um que olhasse para ela de longe pensaria que no mínimo toque poderia se desfazer em cacos. Mas para conhecê-la realmente seria necessário uma lupa para observar o...
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
12.
Essa era a quantidade de vezes que o nome dela estava naquela urna, a chance de seu nome ser chamado era minúscula, tendo em vista dos milhares de outros papéis dentro da urna, assim como a chance de seu distrito ganhar os jogos. Porém isso não impediu a ansiedade de dominar meu interior, trazendo calafrios à minha pele, minhas mãos tremiam levemente, o bile subia e descia em minha garganta, além de não precisar de um espelho para saber que estava pálida.
O suor escorria de minha nuca traçando um caminho por minhas costas enquanto esperava aquele filme característico de toda colheita chegar ao fim. Já havia assistido à aquele vídeo 5 vezes e a cada ano que se passava o filme não mudava, mas sua perspectiva sim. E meu ódio pela Capital só aumentava, tudo aquilo que eles representavam, suas roupas, seu modo de viver, seu gosto sádico de entretenimento, tudo me causava repúdio. Apesar de tudo, dentro de meu ódio estava incutido a inveja, pois não poderia negar, eles eram odiosos, mas sua qualidade de vida comparada a vida nos distritos era de causar inveja em qualquer cidadão que não tivesse a liberdade de desfrutar dos benefícios do Capitólio.
Assim que o filme acabou, a voz estridente da representante da Capital, Ahiete, soou, perfurando seus tímpanos de tão irritantemente fina. Aquela mulher era quase como a representação de uma realidade quase ilusória, cheia de luxo e cafonices, porque se eu fosse ser honesta, a maioria dos habitantes do Capitólio que eu já havia visto em todos os meus 16 anos de vida, todos se vestiam como palhaços.
Porém não é como se ela estivesse prestando realmente atenção, tinha aprendido que a melhor forma de controlar sua ansiedade era se afundando em seu próprio subconsciente, impedindo de barulhos externos serem processados por seu cérebro. Se afundou em memórias que lhe serviam como calmante, os sons de sua própria cabeça substituindo a voz da mulher que mais parecia um cupcake de tão colorida, chegava a ser quase uma poluição visual.
Olhava para um ponto fixo enquanto esperava o tempo passar para voltar para casa, mas quando eu senti o caminho abrir e os olhos das meninas ao meu redor se voltarem para mim o estupor se rompeu e a voz da mulher cupcake falou pelo que pelo visto seria a segunda vez:
--- Cressida Alordew!
Consegui ouvir os gritos histéricos de meu irmão e minha mãe na multidão, as faces aliviadas mas que continham pena das pessoas à minha volta. Minha mente parecia ainda estar processando a informação quando meu corpo se mexeu quase que involuntariamente, indo em direção ao palco. Não chorei, sequer demonstrei reação, minha expressão como mármore. Andei com uma postura impecável enquanto subia graciosamente os degraus parando ao lado da animada representante da Capital --- tomando plena ciência de meu vestido laranja que embora tivesse sido feito com muita dedicação por minha mãe já estava um pouco maltrapilho, assim como minhas sapatilhas que se encontravam um pouco gastas, a trança feita horas antes ainda permanecia impecável, caindo em minhas costas até o meu quadril.
Sabia que se demonstrasse fraqueza já teria um alvo em minhas costas e eu não precisava disso, não, eu precisava de patrocinadores, e eu teria que conquista-los a partir de agora se eu quisesse sair viva. Um personagem era isso que eu seria, um personagem que encantaria a Capital, o suficiente para eles quererem me manter viva lá dentro.
--- Aqui está o nosso tributo feminino, que linda, minha querida! --- Comentou Ahiete animadamente, enquanto tocava levemente meu ombro e me oferecia um sorriso inapropriadamente grande para a situação, para o qual eu somente retribui com um leve e quase imperceptível acenar de cabeça. --- Agora vamos para o nosso tributo masculino!
Ela colocou a mão novamente na urna, mexendo enquanto fazia algumas caretas em uma tentativa decadente de fazer um mistério. Finalmente, ela tirou um.
--- Kal Meyl!--- A alegria na voz do cupcake ambulante não correspondia em nada ao clima fúnebre que estava instalado no distrito 8. Os gritos dos pais desamparados eram como uma facada no peito, mas não me permiti vacilar, não como o meu parceiro distrital , que derramou lágrimas durante todo o percurso. Não podia culpá-lo, o garoto não parecia ter mais do que 14 anos, dois anos mais jovem que eu e quase 15 centímetros mais baixo.
O meu parceiro distrital era magro o suficiente para eu conseguir observar claramente a anatomia dos ossos que escapavam de suas roupas esfarrapadas, não era alto, sequer chegava a 1,65 de altura, não possuía músculos e seu rosto me lembrava muito o de um rato, tanto pelo formato, quanto pela expressão amedrontada. Sua pele era de um branco quase doentio, enxergava suas veias que se destacavam em sua pele alva, que se encontrava suja com alguns resquícios de lama e poeira. Os dedos de suas mãos são calejados como os meus e de quase toda a população do distrito por causa do uso constante das mãos no trabalho manual na fabricação de tecidos.
Assim que ele terminou sua marcha até o palco, paramos um em frente ao outro e apertamos as mãos --- aquilo era como um ritual que todos os parceiros distritais tinham que fazer, era como uma aliança obrigatório --- consegui enxergar o medo e a intimidação em seus olhos mediante ao meu olhar e aperto de mão firmes. Sentia pena do garoto, mas me lembrei que minha família dependia de mim e se eu morresse naquela arena, eu poderia causar a morte deles também, então eu tinha que sair viva, custe o que custar, portanto minha pena de nada valeria agora.
--- Que a sorte esteja sempre ao seu favor!
Ela nunca estava. Mas eu não precisava dela para sair viva dessa merda.
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
~01➜ Esse capítulo foi propositalmente pequeno, os outros serão maiores, mas é como se esse capítulo fosse como um complemento do prólogo. Mas eu espero que vocês tenham gostado.