Capítulo 1: Você.

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N/A: ⚠️ TW: A fanfic vai ser uma adaptação (não necessariamente 100% fiel) à série YOU, disponível na netflix, e do livro de mesmo nome (Caroline Kepnes). Irão ser mostrados tópicos (em algum momento) como abuso psicológico, perseguição, agressão doméstica, assassinatos e entre outros assuntos que podem ser considerados sensíveis para alguns (muitos) leitores. Então, desde já: se você não gosta, não leia.

Eu não sou de dar avisos, mas recomendo que procurem ler a respeito da série (que vai ter uma season 4 lançada no mês que vem, inclusive) antes de lerem a fanfic. Eu sei que a grande maioria aqui é adolescente (eu inclusive sou), e como sei que dizer "leiam apenas se forem +18" não adianta: não recomendo pessoas com menos -15 lerem!! Desde já, eu agradeço :))

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O sol já havia nascido. As buzinas ao lado de fora da minha janela eram barulhentas e a gritaria dos condôminos do apartamento ao lado era quase ensurdecedor, um alarme natural imperfeito que me despertava todos os dias. Abri meus olhos, ainda sonolentos e cheios de remela pelas abundantes horas de sono que havia tido na noite passada, e me permiti ficar deitada por mais alguns minutos, antes de realmente me levantar e me preparar para o dia – nem tão – exaustivo que me aguardava. Falando sério, que horas deveriam ser mesmo? Rolei entre meus lençóis finos, e pude ver o relógio de cabeceira ainda marcar 6:57. Touché.

Quando meus pés tocaram o frio piso ladrilhado de cerâmica, senti meus ombros se encolheram levemente e um arrepio percorrer minha espinha com o choque térmico. Meu corpo ainda estava quente, pois os lençóis ainda me aqueciam, e quando me desvinculei dos mesmos, andei sem pressa até o banheiro do cubículo em que morava, em Bed-Stuy, no Brooklyn, arrastando meus dedos do pé pelo chão. A pia era de porcelana, branca, e eu me permiti observar-me por um segundo no pequeno espelho multiuso que havia embutido na parede, antes de abri-lo e pegar minha escova de dentes em mãos. Eu trabalho como gerente de livraria, a meia hora de carro de onde moro, para variar, no Lower East Village, e, apesar de as vendas dos últimos meses não estarem tão boas, — afinal, quem diabos compra livro físico hoje em dia quando pode ler em kindle? — é uma livraria popular. Me olhei no espelho, podendo observar a lubrificação mucosa e nojenta que saía por seus canais lacrimais — e céus, estou péssima! Talvez não devesse ter passado tanto tempo relendo O morro dos ventos uivantes, para variar.

Abri a torneira levemente enferrujada de metal, ela estava fria, e deixei que a água que saiu da encanação velha de meu apartamento enchesse minhas mãos, de uma água surpreendentemente límpida, antes de levá-las ao meu próprio rosto e enxaguá-lo. A água estava fresca, meu corpo estava quente, senti meus pelos se eriçarem e a sensação de sonolência ir embora. Olhei-me novamente no espelho e me perdi encarando meus próprios olhos, escuros e penetrantes, e as pequenas sardas de cor marrom na região em minha pele levemente bronzeada. Eu estava pálida, e talvez ter passado quase o dia anterior inteiro sem ingerir nenhum tipo de líquido, ou sequer comido uma barrinha de Snickers para forrar o estômago, depois dos rolinhos primavera que havia comido no almoço, tivesse me feito mal. Respirei fundo, e funguei o cheiro de amaciante que saía da toalha de rosto, que antes estava pendurada em um guincho ao lado da pia, e, agora, em minhas mãos. Merda de cheiro tão bom…

E pensando em amaciante, muito bem lembrado, deveria colocar minhas roupas para lavar. Olhei para o cesto ao lado da pia cheio de minhas roupas sujas, mas eu não tenho tempo suficiente para realizar a ação agora, precisava trocar minhas roupas e me preocupar unicamente em não chegar atrasada para abrir a ‘‘Faster's’’, e talvez se eu não tivesse perdido tanto tempo deitada, tentando pregar os olhos por mais dois ou três minutos, não estaria com tamanha necessidade de correr contra o tempo agora.

E em algum momento entre as 7h33 da manhã e às 8h17, cheguei na loja, que tinha sua fachada de tintura cor verde musgo e letreiro chamativo, a tempo suficiente de varrer o chão levemente empoeirado do lado de dentro e mudar a placa de ‘Fechado’ para ‘Aberto’, às 8h30. Às 9h10 em ponto, Marilyn Thornhill passou pela porta, com seus cabelos fogosos chamativos e botas de mesma cor. Podia sentir o cheiro do famoso perfume da Lancôme, ‘La vie est belle’, levemente adocicado e de aroma floral, pêra e cassis, sobrevoando o ar por onde a mulher, que estava quase na faixa dos seus quarenta anos, passava.

— Oi. — Sorriu. — Estou muito atrasada?

— Não, eu acabei de abrir. — Sorri de volta, vendo a mulher de cabelos ruivos e franja olhar brevemente em seu relógio de pulso, um casio, e assentir com a cabeça levemente aliviada.

Eu estava com um espanador em mãos, tirando poeira dos livros de biografia de A-E, usando uma camiseta branca de gola careca por debaixo da minha camisa azul marinho de botões e manga longa favorita; o minúsculo crachá dourado com meu nome estava bem preso no avental de cor verde que rodeava minha cintura, e cobria quase todo o meu corpo — mas eu era baixinha, mal consegui anos 1,60m de altura, então ‘cobrir quase todo meu corpo’ nunca seria realmente uma surpresa. Meus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo levemente mal feito e despojado que havia feito no caminho para cá, quando entrei dentro do metrô levemente lotado, e, apesar de meu jeito ainda meio sonolento, sentia que estava bonita, mesmo que Joyce Finnegan, ou alguma loira estúpida de nome similar, tivesse feito bullying e aterrorizado minha vida acadêmica com palavras maldosas durante todo o meu ensino primário, pois, aparentemente, ter ‘traços latinos’ era algo ruim no meio estadunidense — mesmo que eu tenha sido nascida e criada na América do Norte, na própria cidade de Nova Iorque. E porque diabos estou remoendo ‘Joyce Finnegan’ se isso há mais de dez anos? Balancei a cabeça levemente em negação, tentando espantar os pensamentos intrusivos e rancorosos.

(...)

Algum tempo se passou, e às 10:06 a livraria estava mais movimentada, haviam sido vendidos sete livros para quatro pessoas diferentes, e devia haver algo entre uma e três pessoas perdidas por entre as estantes cheias da loja, mas não saberia dizer com precisão, pois a quantidade de pessoas era entediante, seus padrões previsíveis eram entediantes. Agora, estava inclinada no balcão e cuidando da caixa registradora, substituindo o lugar de Marilyn que havia pedido ‘educadamente’ para ir ao banheiro.

Até que você entra na livraria e mantém a mão na porta para garantir que ela não bata. Sorri, constrangida por ser uma garota legal, suas unhas estão sem esmalte, seu suéter gola V bege torna impossível saber se está usando sutiã, mas suponho que não. Você é tão limpa que chega a ser suja, e murmura sua primeira palavra para mim — “olá” — quando a maioria das pessoas simplesmente passaria por mim, ainda sentada no balcão e mexendo na caixa registradora, e me ignoraria, mas não você em seu jeans rosa largo, um rosa saído de A menina e o porquinho. E de onde você veio? Sua blusa está larga, o suficiente para eu saber que não quer ser cobiçada, mas suas pulseiras… elas estão balançando. Você… você gosta de um pouco de atenção, quer ser vista. E eu quero te ver, te agradar. Ok, vamos lá, então.

obsessive love (YOU × wenclair a!u)Onde histórias criam vida. Descubra agora