PRÓLOGO - NO BAILE DA ESCOLA

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LISBETH SULLIVAN

— Mae, você pode arrumar a minha gravata? — Ele irrompeu para dentro do quarto, sem nem bater na porta. De costas eu estava e de costas permaneci. Ainda estava me sentindo estranha naquele vestido. Continuava olhando-me no reflexo da janela sem conseguir me reconhecer.

Aquele falando era Beckett Stanford.

Quarterback do Tigers, garoto de ouro da Mount Pleasant High School, irmão da minha melhor amiga...

— Ela ainda está no banho — respondi sem vontade e sem me dar ao trabalho de virar em sua direção.

— Ah, é você que está aqui — disse com a voz carregada de reprovação. Desdenho fingido. Ele adorava fazer isso comigo.

Esqueci de mencionar, Beckett Stanford era também um pé gigantesco no meu saco.

— E quem seria, Beckett? Maenna tem outros amigos que praticamente vivem na casa dela e não estou sabendo? — questionei ainda meio que hipnotizada com a minha roupa, tentando não demonstrar o quanto estava admirada com o meu reflexo no espelho. Me sentia bonita. Eu estava bonita.

Mae me fez comprar aquele vestido, disse que seríamos sêniors no próximo ano e tínhamos que causar uma boa impressão no baile de formatura. Era um longo vestido branco de lantejoulas, digo, paetês, como minha melhor amiga já corrigiu algumas vezes, furta-cor. Era uma vestimenta que contrastava com o meu estilo. Eu era toda sobre tatuagens e piercings. Tinha poucas ainda, faltava pelo menos dois anos para que eu pudesse adquirir mais sem que entrasse em problemas, como entrei quando meus pais descobriram as primeiras flores coloridas que fiz combinando em meus ombros ou o piercing estilo ferradura que carregava em meu septo.

Tampouco combinava com meus cabelos e as pontas cor de lavanda. Entretanto, minha produção mostrava uma versão totalmente diferente de mim. Uma mistura de quem eu costumava ser com a garota linda que se apresentava naquele exato momento.

— Não estou com paciência para você, Lisbeth, só queria ajuda com a minha gravata, voltarei quando Maenna estiver pronta. Grossa! — Resmungou a última palavra mais baixinho. Acho que jamais entenderei o irmão da minha melhor amiga.

— Também não estou com paciência para você, Beckett... — disse me virando para ele, seu rosto estava vidrado na tela do telefone e ele digitava freneticamente, o que me deu uma boa oportunidade de olhá-lo.

Ele vestia um terno preto com risca de giz, um tanto antiquado para a sua idade, mas ideal para o tema do baile de formatura. Al Capone — eu sei, adolescentes e seu péssimo gosto para escolha de festas. Seus cabelos, sempre bagunçados, estavam arrumados e metodicamente penteados para trás com gel. Parecia tão homem daquele jeito...

— Posso arrumar a sua gravata — avisei, ouvindo minha voz tremer um pouco. A presença dele tinha essa mania irritante de me fazer tremula com a voz completamente falhada. Minhas cordas vocais pareciam se desintegrar.

Os olhos dele ergueram-se em confusão e finalmente me encarou, parecia ter perdido a fala, sua boca chegou a se abrir, porém, ao colocar sua atenção em mim e ter seus olhos passeando por todo o meu corpo, nenhum som foi emitido.

Tentando evitar me mostrar afetada, mais ainda, pela forma com que ele me analisava, andei até onde estava e ergui minhas mãos para arrumar a sua gravata. Imediatamente ele deu um passo para trás, como se tivesse medo que eu o tocasse.

— Não seja um bundão, Stanford, não vou morder você. Deixo isso para a sua namorada. — Joguei as palavras com deboche enquanto meus dedos trêmulos tomavam o tecido da gravata para ajeitá-la — Aquele ser de luz e boas energias.

UM AMOR DE BABÁOnde histórias criam vida. Descubra agora