Prefácio

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Contemplei os portões daquela instituição educacional com a turbulência ansiosa assolando meu ser interior. Antecipei a expectativa de ser cumprimentada por várias pessoas ao passarem por mim, no mínimo com um gesto de saudação. A cortesia elementar. Entretanto, não. Nem isso. Eu estava socialmente invisível.

E isso me deixou em desespero, pois me senti solitária. Envergonhada. As pessoas com as quais eu costumava conviver não eram mais tão próximas. As férias me deixaram ainda mais isolada do que eu poderia conceber. Antes, eu já não era tão habilidosa socialmente. Imagine agora.

Aquela mochila era um fardo em minhas costas. No entanto, nada comparado ao peso de estar passando por uma vergonha imensa em meio à multidão. Sem amigas. É claro, considerava-me diferente das demais pessoas. E ao dizer isso, posso parecer egocêntrica; e asseguro que não é a impressão que desejo transmitir. De fato, sou como as outras pessoas. Mas não aqui.

Deste estabelecimento educacional, só posso afirmar que os estudantes tendem a excluir muitos de nós. Apertei a alça da mochila. Suspirei e adentrei o local. Os professores até me cumprimentaram. Mas foi o mínimo do mínimo. É claro. Sou apenas uma aluna do ensino médio que não merece respeito por ser somente uma estudante. Que aborrecimento! Sentia-me perdida ali. Nem sabia para qual sala ir. Percorri todos os corredores e, após muitas direções mencionadas, encontrei minha sala designada para o restante do ano. Observei aquele papel em minhas mãos. Terceiro ano.

O último ano neste inferno.

O último ano que devo suportar.

Mal posso esperar para sair daqui e ser admitida em alguma universidade. Aceitei meu destino: entrei na sala e dirigi-me à primeira carteira que avistei. No entanto, antes de colocar minha mochila e cadernos sobre a mesa, alguém foi mais ágil. Era uma garota. Só percebi que era a Rose quando vi sua pequena bolsa rosa sendo colocada ali de forma brusca e o som das chaves de prata. Olhei para ela, que me encarou com seriedade.

— Este lugar já está ocupado.

Ignorei o tom áspero e afastei-me. Em seguida, busquei com os olhos um local mais adequado e que se encaixasse melhor em minha situação. Sentei-me ali mesmo, tentando não relembrar o momento em que todos me observaram de cima a baixo naquele instante preciso.

Que vergonha.

A última cadeira da última fileira era humilhante. Ainda mais para mim, que não possuo uma visão privilegiada.

Por um instante, pude ouvir risadas internas; e era de se esperar que fosse apenas um produto de minha imaginação, considerando que meu mundo estava distante da realidade. Suspirei novamente e retirei os materiais da mochila. Analisei o horário. A chegada do professor estava próxima. Química. Detesto essa disciplina e tudo que envolve cálculos e matemática.

Após me preparar adequadamente para a aula, o diretor Ednaldo Gonzales chegou antecipadamente. Imediatamente, vislumbrei a oportunidade de não haver aula dessa disciplina; o diretor informou que o professor estava em estado vegetativo devido a um grave acidente hospitalar. Embora lamente pela situação do professor, fiquei satisfeita com a perspectiva de não ter aulas de química por várias semanas consecutivas - pelo menos em minha mente. No entanto, minha alegria foi efêmera. O diretor logo anunciou a chegada de um substituto e o chamou para entrar. Ele aguardava do lado de fora da sala. Para minha desgraça, deparei-me com um indivíduo de estatura mediana. Inicialmente, não prestei muita atenção nele, apenas percebi que usava óculos e estava vestido de forma socialmente questionável. Ele vestia uma camiseta sobreposta a uma listrada, com mangas longas e calçava sapatos sociais. Ele demonstrou uma postura contida ao engolir em seco e ser apresentado pelo diretor. Sua idade aparentava estar entre 38 e 40 anos. A meu ver, ele era peculiar e estranho.

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