O substituto

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Encaminhei-me para a aula com a mente já ocupada pelo que aconteceria após as lições. Evitava a possibilidade de encontrar aquele professor em minha residência, pois me sentia cada vez mais obrigada a suportar sua presença diária devido a Morgan.

Ela claramente nutria uma paixão não correspondida por ele; o substituto apenas a usava como instrumento para me infernizar, porque senti desde o primeiro momento após a troca olhares que ele não simpatizava comigo.

Desde o jantar, ele tem ocupado meus pensamentos incessantemente, e sendo bem honesta, isso me deixava inquieta. As revisões das tarefas revelaram equívocos que me desconcertaram; as correções marcavam erro em aspectos que eu tinha absoluta certeza de estarem corretos ao resolver, o que me deixou apreensiva com uma possibilidade rondando minha mente...

Ele não seria capaz de tal coisa... não. Não teria motivo... Mas então, perceber que isso seria pura tolice me trouxe alívio. Não havia motivo algum, absolutamente nenhum.

Acomodei-me na carteira e passei as mãos pelo rosto. Infelizmente, a matéria ministrada seria sob sua orientação, e, para ser franca, não tinha o menor interesse em envolver-me em cálculos. Já bastava lidar com a vida em casa, imagine ter de enfrentar mais problemas. Bufei e abri meu caderno na disciplina. Não tive escolha.

Os passos ecoaram pela sala quando o Sr. Depp entrou, segurando sua clássica pasta preta, repleta de atividades e trabalhos. Estávamos nos momentos finais do ano letivo, e temia sinceramente pela possibilidade de não passar na recuperação. E se eu tivesse que repetir? A mera ideia me causava mais dores de cabeça. Consultei meu relógio de pulso; o professor estava adiantado naquele dia. Observei-o colocar a pasta sobre o birô e organizar os materiais para a aula. Segui seu exemplo, preparando todos os meus materiais também.

— Bom dia, alunos. Hoje iniciaremos o último tópico do semestre. Peço-lhes que prestem atenção, pois no final serão recompensados — disse ele, esboçando um sorriso leve para a turma. Então, seus olhos pousaram em mim de maneira peculiar. Ele apoiou-se no birô, girando uma caneta na outra mão, mantendo-se assim por alguns instantes, o suficiente para me deixar desconcertada.

Engoli em seco, e ele percebeu. Voltou sua atenção para o quadro e começou a anotar os temas a serem abordados, marcando também as datas das recuperações e provas para aqueles que estavam com dificuldades na disciplina — eu era uma delas. Tomei nota de tudo, e então ele prosseguiu com a explicação incessante do assunto. Tentei me manter acordada, mas minha qualidade de sono vinha sendo precária ultimamente. Forçava-me a manter os olhos abertos, mas acabei cedendo e cochilando levemente. A voz do substituto ecoava como uma névoa em meus ouvidos.

Quando finalmente despertei, percebi que todos estavam me observando.

— Srta. Zayra, há algo que gostaria de compartilhar sobre o sonho que acabou de ter em minha aula? — perguntou ele, provocando risadas e cochichos ao meu redor. Encolhi os ombros e olhei ao em volta, enquanto a porta se abria e um aluno adentrava, extremamente atrasado. Parecia que estávamos no meio da aula.

E assim, o protagonista desse estranho episódio revelou-se ser ninguém menos que Erick. Sua expressão contida contrastava com a situação, enquanto ele ainda segurava a maçaneta. Uns riam descaradamente, outros observavam em silêncio, e eu — entre eles — ponderava sobre a difícil posição em que se encontrava, porque o Sr. Depp não nutria simpatia alguma por ele.

— Vejam só quem resolveu aparecer — o tom do professor adquiriu um toque irônico.

— Me desculpe pelo atraso, Sr. Depp...

— Espero que tenha uma justificativa plausível, Sanches.

Sanches, o segundo nome de Erick, despertava-lhe uma aversão intensa, cuja origem ninguém compreendia. Recordava-me dos tempos em que todos desgostavam do professor, sendo ele a vítima. Suspirei diante da falta de sensatez. O Sr. Depp sabia do desprezo de Erick por esse nome, percebido nos corredores e nas conversas dos alunos. Ao menos, não me enganava mais.