Reforço

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Cheguei em casa hoje bem cansada. Depois de encarar um monte de tarefas da escola e me preocupar com química, mesmo estando no terceiro semestre, aceitar o convite do Erick pareceu-me uma boa ideia.

Pensei que seria legal, pelo menos para dar uma relaxada longe do clima meio chato daqui de casa. Joguei a mochila no sofá e soltei um suspiro ao perceber que não tinha ninguém. Morgan provavelmente estava no trabalho e meu irmão, claro, na escola.

Gosto de ficar em casa, mas não curto depender da Morgan. Mal posso esperar para crescer e me livrar desse mundinho adolescente que ainda depende dos pais. No meu caso, só da minha mãe. Não sou muito de falar do meu pai.

Sentei um pouco, passei a mão no cabelo, meio como uma terapia. Encarar essa realidade pareceu bem triste. Olhei ao redor e tudo pareceu tão passageiro que quis que as coisas andassem logo. Já não encontro mais graça nas coisas simples que antes eram tão legais; chegar em casa e assistir ao desenho favorito, comer chocolate depois das refeições, aquele mundo perfeito de criança. Depois dos dezoito, tudo começa a complicar na cabeça da gente. Os livros já não têm o mesmo brilho dos dezesseis, mas ainda gosto de me perder nas palavras.

Fui à cozinha e me surpreendi ao ver o meu celular na bancada. Morgan provavelmente tinha se arrependido de me dar o castigo de "sem celular por um tempo". E sinceramente, nem mesmo foi ela quem havia me dado o telefone. Peguei-o e liguei a tela. Bateria 20%. Ao menos, um pouco de carga. Só não o beijei porque com somente outra discussão com ela, eu me afastaria dele novamente. Portanto, nada de comemoração tão cedo.

Abri a geladeira e procurei algo de bom para comer. Assisti um pouco de TV, e, apesar de estar gostando desta solidão temporária, não vi nada de interessante. Consequentemente fui passando de canal em canal. Ficar de frente à TV ocasionou em um grande tédio. Lá estava eu, com a cabeça apoiada no punho com o cotovelo sobre o sofá, e os pés na mesinha de centro. Perguntei-me brevemente se era esta vida que eu teria pelo resto da vida. Deveria estar me preocupando com química. O que poderia eu fazer para fugir dessa realidade?

{...}

O tempo passou e a hora do encontro com o Erick havia chegado. Me encarava no espelho do meu quarto depois de passar um batom vermelho, blush e um rímel. Para mim, pareceu-me suficiente para aquela noite, somente para um cinema com um cara como o Erick. Dei uma última olhada no meu vestido vermelho e passei perfume.

Minha mãe estava no quarto dela, esperando alguma ação negligente minha para ter o direito de reclamar ao pé do meu ouvido. No entanto, eu não daria esse gostinho. Liguei o meu celular e haviam chamadas perdidas de um número desconhecido. Confisquei o número e entrei no bate-papo.

"Ei", visualizei. "Estou aqui fora".

Era exatamente quem inicialmente pensei que fosse. Dei um breve sorriso e desliguei o aparelho, perguntando-me como ele havia conseguido o meu número.

Passei pelo corredor. Para minha desgraça, a porta do quarto de Morgan estava aberta e ela me viu, enquanto ainda estava sentada na cama, lendo algum jornal.

— Zayra — ela chamou quando eu passei direto, sem me importar. Parei um momento e, ao me virar, estava ela de braços cruzados, entre os espaços da porta. — Aonde você vai?

— Vou sair.

— Sair com quem? Arrumada desse jeito? — disse de forma ignorante, erguendo uma sobrancelha.

Revirei os olhos.

— Com um amigo.

— Que amigo é esse?

— Um amigo da escola, Morgan. Vou só ao cinema — tentei ser mais breve possível, temendo alguma discussão e, no fim, ser impedida de sair.

— O seu professor de química virá hoje pra te ajudar. Não deveria fazer essa desfeita. Sequer me avisou que iria sair.

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