E quando a lua subir ao céu...

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Eu já estava em Lawrence a quase um mês, faltavam 2 dias para que a lua estivesse no exato local onde precisava estar para que o feitiço fosse revertido. John me chamou no fim do dia para dizer que não precisava voltar, os meninos não iriam mais precisar de uma babá. Por um lado foi bom não ter precisado pedir demissão do 'emprego', por outro os meninos ainda precisavam… bem, talvez eu tenha me apegado um pouco demais a versão criança deles, não queria me despedir ainda.

No dia seguinte voltei a casa de Mike, não para cuidar dos meninos, mas para me despedir apropriadamente. Para a minha surpresa eles não estavam mais lá, Mike disse que haviam desaparecido pela manhã, provavelmente saíram no meio da noite e não sabia dizer para onde John os levou… que pena.

Voltei para a casa de Missouri ao pôr do sol, a lua já estava visível no céu, ainda não estava na hora, mas já podíamos começar com os preparativos.

Desenhei os circulos no chão enquanto Missouri preparava as ervas, o céu estava lindo essa noite, as estrelas brilhavam enquanto a lua assumia sua posição.

Me despedi de Missouri antes de entrar no círculo, ela executou o feitiço e aconteceu a mesma coisa que dá última vez, o sigilo brilhando sob meus pés, uma luz intensa que penetrava meus olhos enquanto me levava devolta para onde nunca deveria ter saído. O tempo tende a ser uma estrutura complexa quando você faz uma viagem como essa, estive no passado por um mês inteiro, no entanto para os rapazes se passaram apenas 72h… eles estavam preocupados com o meu breve sumiço, não era como se houvesse algum lugar para onde eu pudesse ir. De qualquer forma é bom abraçar meu pai com a sua idade normal outra vez.

Enquanto eu estava sumida eles descobriram que o que estávamos caçando era uma bruxa (agora isso estava bem óbvio), e com base na imagem que eu vi pouco antes de ir para 1983, pude ver que na verdade era um bruxo. Contudo ainda precisávamos descobrir a identidade da tal figura misteriosa, as suspeitas estavam obviamente sobre o instrutor de trilha do acampamento, ele conhecia bem a mata em volta do local, seria fácil armar uma emboscada no meio da floresta, porém ficando cara a cara com ele, vi que não, ele era diferente da silhueta que vislumbrei, minha memória pode estar um pouco bagunçada depois de um mês, mas tenho certeza que o homem que vi na floresta era mais baixo e tinha o corpo menos torneado. Quem era aquele homem afinal?

Os rapazes me levaram até o carro onde me mostraram algumas fotos dos arquivos dos funcionários do acampamento, arquivos esses que eles haviam roubado do escritório do lugar um dia antes. Passamos por pelo menos cinco imagens até encontrarmos, no momento em que o vi me veio um flashback e aquele estranho frio no estômago, era um dos instrutores, ele dava aulas de literatura, o que quer dizer que ele tem acesso aos livros que quiser, desde literatura clássica a qualquer nível de bruxaria. Apesar de não termos provas contra ele haviam formas de averiguar… só precisaríamos do bom e velho gris-gris.

Se a um bruxa por perto ele não vai se sentir bem no mesmo ambiente que panos de couro repletos de ervas protetoras, entre elas; agrimonia, amaranto, arruda e corriola.

Dito e feito, o cara correu para fora do escritório do acampamento agonizando de dor como se tivesse acabado de tomar um banho de ácido sulfúrico. Os rapazes conseguiram pegá-lo, e descobrimos que suas intenções ao me mandar para outra linha temporal era me afastar dos rapazes, ele deve ter achado que ainda tenho meus poderes… de qualquer forma os rapazes enfiaram uma bala de beladona na cabeça dele, e assim nosso caso nesse acampamento estava finalmente resolvido.

Enquanto saíamos meu pai e meu tio  conversavam sobre algo que meu pai lembrou enquanto estavam investigando.

— Esse acampamento me lembrou de quando éramos crianças… — Ele comentou.
— Não lembro de termos acampado alguma vez na infância… pelo menos não por diversão ou algo que não fosse relacionado a caçar.
— Foi logo depois que a mamãe morreu, nossa babá acampou com a gente no quintal de casa. — Meu pai disse com um sorriso, ele lembrou quase 40 anos depois de algo que para mim havia acontecido a algumas semanas. — Você não lembra porque só tinha 4 meses.
— Eu nem sabia que tínhamos tido uma babá! 
— É mas tivemos, por um mês… mas ela deve ter ido embora de Lawrence, não a vi na outra vez que estivemos lá.

Talvez ela esteja mais perto do que você pensa pai.



Um mês no passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora