1.1

13 1 0
                                    

Giovani sempre foi meu companheiro para tudo, esteve na minha infância, na minha primeira luta, no meu casamento e até mesmo no enterro de Stella. Ele é bem mais do que um criado, é família, mas consegue ser o homem mais descoordenado que já vi, principalmente se Antonieta estiver por perto.

-Aqui está, majestade! Possui um selo real. Trocamos a carta pela taça.                                              -Obrigado. Poderia verificar se Verano está alimentado?                                                                                          -Ele foi alimentado logo que o sol nasceu, senhor. Disse solícito.                                                                            -Contate o artesão para saber se ele já terminou o escudo que pedi.                                                                -Já o enviei um cordial lembrete, senhor.                                                                                                                -Apenas deixe-me sozinho por algum momento, certo? Tentei ser o mais claro possível.                                                                                                       -Oh, claro, majestade, perdão. Disse se retirando com minha taça incompleta. Essa que ele certamente derramaria em algum lugar. Giovani é contra tudo o que tira a capacidade de alguém raciocinar.   
Abri a carta sabendo que seria mais um pedido do Duque de Vierno, para que eu retornasse ao reino, afinal, era o único que ainda se importava com o reino.

Vossa majestade, venho através desta carta informar que o reino encontra-se em ruína. Os rebeldes resolveram nos atacar por estarmos vulneráveis sem vossa presença. Imploramos veemente que regresse o mais rápido possível, pense nos súditos e nas crianças de Verona. Não podemos desapontá-los. Os rebeldes saquearam nossos cofres e depósitos de comida, nos deixando sem reservas. Os guardas temem não conseguir conter todos sem uma ordem oficial. Sabemos da sua situação, mas o reino precisa de você, nos chamam de “O reino do rei fantasma”, Stella ia querer que você retornasse.

-Com tremenda angústia, seu pai.

                                                                                                       Duque de Vierno, Palácio Real de Verona.

-GIOVANI, GIOVA…                                                                                                                                                           -Sim, Majestade? Assustou-me de repente.                                                                                                                                      -Faça as malas, retornaremos a Verona. O Duque de Vierno informou que o reino está sendo saqueado por rebeldes.                               -Devemos nos preparar para quanto tempo, Majestade? Perguntou ainda espantado com a notícia.                       -Um mês será o suficiente, logo voltaremos.                                                                                                   -Certo, irei em busca do cocheiro agora mesmo.  Exclamou em completo alvoroço.                                                                                               -As malas primeiro, Giovani.                                                                                                                                    -Oh, certo, senhor. Tem razão. Disparou até os aposentos.
Enquanto aguardava, aproximei-me das janelas e vi como a neve caia tão pesarosa, refleti em como a vida me tirou tanto, e em como já tentei tirá-la também. Mas me veio uma estranha certeza de que as coisas terminariam bem. Desde o dia em que minha esposa morreu, sinto-me sufocado, sem ar o suficiente para respirar, até mesmo o meu pesar é silencioso. Meu peito dói pela ausência de sua presença. Por pouco teria abdicado do trono, mas ela é…, ela era uma rainha tão magnífica, que jamais poderia tirar isso dela.                       Eu me isolei em nossa antiga casa de campo, porém, agora com os súditos exigindo meu retorno pelos acontecimentos recentes, não vejo outra forma de lidar com isso a não ser voltando.
-Está tudo pronto, majestade. Quando ordenar, podemos partir. Informou Giovani, me tirando de devaneios.
-Se é dessa forma, irei apenas banhar-me e partiremos.
-Certo, senhor. Saiu em direção a cozinha.
Vejo que o reino se tornou alvo de zombaria. Penso comigo mesmo. “O reino do rei fantasma”, algo drástico motivou os rebeldes a atacarem o palácio. Termino de vestir os trajes reais, considerando me declarar morto para não precisar voltar ao palácio.
Depois de um tempo, saímos na carruagem em caminho a  Verona. Conforme a viagem segue, paro para pensar em tudo aquilo que minha rainha costumava amar naquele lugar. Observo desde o verde tão vibrante da floresta, até o amarelo radiante do sol refletido no lago. Que tolo por não apresentar-me, sou o Rei Dominic Volpe Bracco Fasano di Leoni Vierno, nascido e criado para ser o rei do glorioso reino de Verona, intitulado por muitos como o rei sem coração! O frio, insensível e apático Sir Vierno. Se tivessem conhecido minha Stella como eu o fiz, saberiam o porquê! É impossível perder o propósito de vida e continuar sendo a mesma pessoa. Bom, tendo esclarecido tudo, espero  não ter que enfrentar alguns Viernos na minha recente chegada.
Passadas algumas horas, escuto um anúncio.
-Meu senhor, chegamos ao palácio! Avisou o cocheiro enquanto tratava de manusear os cavalos.
Assim que desci, caminhei apressado para chegar aos meus aposentos, temendo ser visto por alguém, estava tão perto de conseguir, mas senti um leve impacto contra mim e de maneira brusca a outra pessoa foi ao chão.
-PRENDAM-NA POR TENTAR ALGO CONTRA O REI! Ouvi um dos guardas gritar.
-Não o façam, eu pude ver que ela apenas tropeçou, não houve ataque. Tive de intervir enquanto mirava a pequena criatura encolhida no chão. Uma máscara me impedia de ver seu rosto por completo, deixando apenas os seus olhos âmbar, e bem marcados, expostos.

TURNING PAGEOnde histórias criam vida. Descubra agora