ᴄᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ 20

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CAPÍTULO 20:
A culpa é dele


Chega a ser engraçado como nada é minimamente fixo. Tudo pode escorregar entre seus dedos, não importa o quanto você segure. Como tudo o que foi construído há muito tempo se desmorona em segundos.

Eu diria que é quase a mesma sensação de você mandar alguém pro coma por excesso de velocidade.

Não, isso é bem pior. Porque não estava no meu controle.

Estava no dele. Não havia forças no mundo em minhas mãos para segurá-lo que fizesse esse cenário ser diferente. Foram as decisões dele que ditaram seu destino. O meu. O da minha mãe. Foram as decisões dele que foderam com a nossa vida.

— Eu estou indo agora, de madrugada. Espero que fique bem — minha mãe diz, após explicar cuidadosamente que meu pai está sob custódia. Eu não consegui dizer uma palavra desde que vi a foto.

Ela precisa encontrá-lo para descobrir se há possibilidade de ele ser liberado sob fiança. Enquanto isso, tenho até às nove horas da manhã para sair de casa, segundo ela, porque ela será investigada.

Elizabeth ainda não me disse qual foi o crime.

Eu só estava dormindo no peito de Aidan e agora minha vida virou de cabeça para baixo. Estou esperando ela dizer que é pegadinha. Pensei várias vezes se não é um mal entendido, assim como aconteceu com Aidan, mas minha mãe mostrou o mandato de busca para a nossa casa. É tudo verdade.

— Aidan, querido, sua mãe te contou? — pergunta Elizabeth, e ele confirma balançando a cabeça. Ele também sabia. Minha mãe me dá um beijo na testa, levando sua mala para porta, parando apenas para perguntar a Aidan, tocando em seu ombro: — Cuida dela pra mim?

— Não se preocupe.

Cuida dela. Vincent disse isso mais de uma vez quando esteve nesse quarto. Ele sabia que não iria voltar? Aquele abraço exagerado numa manhã de segunda-feira era porque ele não sabia quando poderia fazer isso de novo?

Meu Deus, como eu não percebi que era uma despedida?

Minha mãe não parecia tão surpresa quanto eu. Ela provavelmente sabia, o que quer que Vincent tenha feito. Isso me dá raiva, e a ficha vai caindo conforme eu junto as peças. O crime de Vincent era o segredo que tinha na minha família?

Os passos de Aidan se aproximam de mim. A foto do meu pai ainda está na minha mente, mas não parece real. Tantos policiais em volta dele. Estou saindo e entrando do estágio de negação. O rosto de Aidan entra no meu campo de visão quando ele se agacha.

— Por que não me contou? — eu falo, pela primeira vez depois que descobri. Uma lágrima escorre.

— Me desculpa. Eu não queria estragar seu dia.

Meu dia.

Era para ser o meu dia.

Vincent não podia mesmo escolher outro dia para ser pego?

Meu celular ainda está com Aidan. Ele sabia desde o momento que pegou meu celular? Me afastou de todos; me levou para a sala de cinema; e ainda me fez dormir perto dele. Não são atitudes de alguém com má intenção, Aidan tentou me proteger do que era inevitável.

Eu balanço a cabeça, compreensiva. Não posso ficar brava com a única pessoa que me restou, e que ainda pensa em mim.

Não vi quando ele saiu, mas Aidan reaparece com um conjunto de pijama meu. Meu queixo treme e não consigo segurar mais, as lágrimas simplesmente caem uma atrás da outra.

ʀᴇᴘᴜᴛᴀᴄ̧ᴀ̃ᴏ ᴇᴍ ᴊᴏɢᴏ - Aidan GallagherOnde histórias criam vida. Descubra agora