5 - Onde tudo começou

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POV Wednesday

Hoje faz exatamente uma semana que minha filha foi estudar fora, eu não imaginei que fosse sentir falta até da insolência daquela garota.

A casa está quieta, a não ser pelo barulho da televisão que estava ligada, mas nada atraia minha atenção, até que passei por um canal onde passava um desenho animado que minha filha amava quando pequena e sempre pedia para que eu assistisse com ela, mas como sempre estava enfiada no trabalho dizia que não podia, e meus olhos marejaram instantaneamente, quanto tempo da vida da minha filha eu não havia perdido? Como me arrependo disso.
        

Ouvi o barulho ensurdecedor do meu celular, preciso fazer uma nota mental para colocar no silencioso ou pelo menos abaixar o volume desse aparelho.

Olhei o número e constatei que a ligação era de fora, atendi mais do que de pressa pois pensei ser Olívia.

Ligação On

- Alô. – Falei em português mesmo.
        
-Alô. – Esse veio em inglês, e eu não podia acreditar que depois de 5 anos eu estava ouvindo aquela voz, como eu sentia falta dela.

- Freeman, quanto tempo. – Falei feliz por falar novamente com minha amiga, de todos da minha época de intercâmbio era a única que eu mantive contato, até 5 anos atrás quando passei a me dedicar as pesquisas no hospital e não ter tempo para nada.

- Quanto tempo mesmo branquela, esqueceu que tem amigas?

- Muito trabalho Amber, mas me conta a que devo a honra?
        
- Então, Sam e eu estamos indo ao Brasil, queríamos marcar algo.
 
- Nossa e vocês chegam quando?

- Daqui 3 dias.      

- Mas estão vindo para o Rio?   

- Sim, Sam insistiu. Sabe como ela adora praia né?
   
- Sei sim, cancelem hotel então e fiquem aqui em casa. Não aceito não como resposta.

- Vou ver o que conseguimos fazer e te aviso.

- Ok, fico aguardando.

Ligação Off

Seria bom ter minhas amigas aqui em casa, confesso que sinto falta delas. Sam e Amber estudavam na mesma universidade que eu, Amber estudava na mesma turma que eu e Sam estudava com Enid, e acabaram se conhecendo através de mim e Enid e estão juntas até hoje.

Passaram-se 3 dias e minhas amigas chegariam hoje, elas conseguiram cancelar o hotel sem pagar multa e seriam minhas hospedes.
Sai de casa as 09:00, não morava longe do Galeão.

Estava distraída em meu celular quando senti alguém se jogar em minhas costas, me virei e encontrei minha velha amiga de guerra Amber e ao seu lado Sam.

- Hey vadia, fica 12 anos sem me ver e eu não mereço nem um abraço?
  

- Primeiro preciso me recuperar desse baque, eu tenho 37 anos e não 19 para aguentar esses trancos. – Falei e abracei minha amiga, como senti falta dela.

- Pois parece que o tempo não passou para você, olha esse corpo e essa pele. – Foi a vez de Sam se pronunciar e me abraçar.

- Vocês também estão ótimas, vamos vocês devem estar cansadas, precisam descansar.

- Realmente, tudo que mais preciso é de um banho e tirar um cochilo. – Sam falou e foi arrastando sua mala.

Chegamos em casa e levei as duas ao quarto de hospedes para que tomassem banho e fui preparar algo para comermos.

Assim que terminei levei para a mesa da varanda elas desceram admirando a decoração, modéstia à parte eu tenho bom gosto.

- Onde está sua filha Wed? – Sam perguntou quando chegou a porta da varanda.

- Está estudando fora, depois de muito insistir acabei por deixar ela ir.

- E para onde ela foi?

- EUA, tentei convence-la a ir para o Canadá e sabe qual foi a resposta?

- Se ela tiver puxado você, eu imagino que tenha vindo uma resposta atravessada. – Dessa vez foi Amber quem falou.

 
- Ela disse que não era a Luiza para ir para o Canadá. – Falei e as duas caíram na gargalhada, afinal quem não viu aquele comercial ridículo que virou febre no mundo inteiro.
 

- E a Enid, você tem falado com ela? – Amber perguntou.

- Não, desde que eu vim embora nunca mais nos falamos.
 

- Fomos à festa de aniversário do Logan, ano passado.

- E como ele está? - Perguntei curiosa.

- É a sua cara, não tem o que tirar nem colocar. – Amber falou e eu sorri, gostaria de ter meu garoto por perto.

- Até hoje não entendi o motivo do divórcio de vocês. – Sam que estava quieta até o momento se pronunciou.
 

- Rotina Sam, nada desgasta mais um relacionamento do que a rotina.

- E você como esta? Pegando todas né?

- Acreditem, após meu último relacionamento que acabou a cerca de 2 anos, não me envolvi com ninguém, meu tempo é dedicado apenas ao trabalho e a minha filha, perdi muito tempo e agora só quero aproveitar minha menina.

- Não sente falta da Enid? – Sam perguntou.

- No início foi muito difícil, eu sentia falta dela constantemente. Eu a amava com todas as minhas forças, na verdade eu a amo, mas amor não é tudo. Talvez estivéssemos bem hoje, mas na época era demais para minha cabeça.

O assunto sobre Enid morreu ali, falamos sobre o trabalho das minhas amigas e sobre a vida delas de casadas, ainda não tinham filhos e pretendiam adotar, Amber já estava com 36 anos e Sam com 35 e não pensavam em inseminação.
 
Durante o assunto Amber me falou sobre a escassez de profissionais na área de Cardiologia no Hospital New York Presbyterian, confesso que isso me atraiu.

Sou o tipo de profissional que faço meu trabalho mais pelo amor do que pelo dinheiro. O dinheiro é importante, porém, meu comprometimento e a satisfação de salvar uma vida vinha em primeiro lugar.

Ficamos mais um tempo conversando e logo elas subiram para descansar, e eu fiquei pensando na possibilidade de voltar para a cidade que nunca dorme.

Amber e Sam passaram uma semana comigo e depois foram curtir o restante das férias no Nordeste, confesso que morando aqui nunca me interessei, dizem que é lindo.

Quando elas foram embora minha rotina voltou ao normal, fiquei pensando sobre o que a Amber comentou sobre o hospital dos EUA e conversei com meu superior e com papai e manifestei meu interesse em ir para os EUA novamente, eles ficaram animados e meu mentor pesaroso pois é ruim perder alguém que trabalhou por mais de 10 anos em sua equipe, mas acima de tudo me deu total apoio e desejou muita sorte nessa nova jornada. Fiquei feliz com o apoio deles.

Depois de enviado meu currículo, era só esperar a resposta, que para o meu espanto veio de imediato, eles estavam mesmo precisando de profissionais por lá.

Os tramites foram muito rápidos, quem diria que apenas um mês depois de me despedir de minha filha eu iria encontra-la novamente. Preciso lembrar de ligar para ela e contar a novidade.

Após um mês resolvendo as papeladas e visto, que pelo fato de já ter morado e estar indo trabalhar foi relativamente fácil, estava mudando novamente minha vida, não poderia estar mais feliz, estaria perto da minha menina novamente e minha filha? Não se continha de tanta felicidade, estava contando os dias para que eu chegasse.

Então era isso, eu estava retornando para onde tudo começou.

Continua...

       

When There's Love | WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora