Capítulo 3

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Sento-me no trabalho escrevendo nomes e atendendo ligações. Me esforço duro para me concentrar nas tarefas em mãos, mas não posso deixar de pensar em Joshua, ou em seu corpo, ou seu cabelo loiro. Ou na forma como senti seus lábios em minha mão. Ou seus olhos azuis.

Sacudo a cabeça.

Debaixo desse meu estranho e abrupto desejo por Josh, o desconhecido da academia, há um sentimento de culpa que gira ao redor do meu estômago como se eu tivesse feito algo errado.

Terminei com Pedro ontem à noite então tecnicamente sou uma mulher solteira... Então, por que me sinto tão suja?

Eu gosto de trabalhar como recepcionista, mas estive olhando ao redor da mesma sala de espera espaçosa e estéril pelos últimos dois anos e parece que não posso encontrar motivação suficiente para sair daqui. Espero que algum dia possa fazer algo realmente diferente com minha vida, como me tornar uma escritora ou dirigir filmes. Sempre quis ser capaz de contar uma história de algum jeito. A escrita parece mais acessível e, se tivesse opção, eu gostaria de ser uma famosa escritora de romances.

Há algo a respeito de um final feliz e de amor que me inspira. É obvio que minha mãe não considera a escrita uma carreira real, tampouco Pedro.

"Escrever é uma carreira sem saída. Ficará sem histórias irreais eventualmente. Seja uma terapeuta ou psicóloga, então sempre estará ocupada. As pessoas têm intermináveis problemas que querem discutir todo o tempo", dizia minha mãe.

Ao menos ela tinha um ponto, não quer dizer que estou de acordo com isso. Pedro dizia coisas como: "As pessoas já não leem mais", ou "Isso não presta".

Desde quando ler não presta? Quem diz isso?

Se eu governasse o mundo, as pessoas que não lessem seriam as primeiras a irem.

Boom.

Tiraria todos de sua miséria.

Passo uma folha de papel através do triturador e minha mente volta para Joshua Kyle Beauchamp. Ainda sinto suas mãos sobre minha pele e seus lábios sobre meus dedos. Nunca fui tão cativada pelo sexo oposto antes. Estou um pouco zangada por ele paquerar abertamente comigo quando sua namorada estava no mesmo recinto. Isso não está certo e me odeio por ser tão fraca. Nunca quis ser a garota com quem um cara trai, porque sei o que se sente ao ser traída e isso é uma merda. Entretanto posso fantasiar e o olhar de forma pervertida na academia, não?

Quero dizer, o que tem de mal nisso?

A forma com que ele me observou com esse olhar sem censura me faz sentir tonta e inconscientemente aperto minhas coxas. Ele é sem dúvida o tipo de homem sobre o qual as mães advertem suas filhas; o tipo que quebra corações e deixa uma longa lista deles para trás.

Curiosamente, não parece o tipo de pessoa que alguém possa evitar. Imagino que ele seja implacável em busca do que quer.

A quem estou enganando?

Não há maneira nenhuma dele me querer. Tenho uma imaginação muito ativa... Talvez seja só isso. Golpeio minha caneta contra a mesa em um ritmo desigual. Mas ele me puxou contra o seu corpo...

Uma mulher diante de mim limpa a garganta, exigindo minha atenção, mas continuo olhando através dela, imaginando todas as coisas doentes e sexys que deixaria Josh fazer comigo.

- Com licença? - pergunta ela. Seu tom de voz é
grosseiro e esnobe.

Seu rosto enrugado e envelhecido entra em foco então estou olhando para seus lábios cor de cereja franzidos em uma linha aborrecida. Seu cabelo branco se arma na parte superior de sua cabeça, como se fosse um poodle.

Consumido | Beauany |Onde histórias criam vida. Descubra agora