25. Centelha

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Jillian estava em seu escritório, fitando a mesma página do livro por mais de dez minutos, absorta em seus pensamentos. A ideia de que Vincent era um traidor ainda parecia inacreditável.

Ele era um homem tranquilo, com poucas palavras e muitos arrependimentos. A médica conhecia as desconfianças de Suzanna, mas, mesmo assim, não conseguia compreender como havia se deixado enganar tão profundamente.

Ela fechou o livro com um suspiro, deixando-o de lado na mesa. Seu olhar perdido atravessava as páginas, refletindo a confusão e a decepção que sentia. Embora tivesse se aproximado dele a pedido de Suzanna, ela sentia que os meses juntos os haviam aproximado genuinamente, e a médica não conseguia esquecer os sorrisos trocados e das promessas feitas.

Promessas que ruíram no dia em que ele decidiu abandonar Cats Cradle para se juntar aos serviços de Kristian Schaefer, conforme as últimas informações que ela havia recebido. Ao se levantar da cadeira, ela caminhou até a janela, sentindo um aperto no peito e então notou uma procissão se aproximando.

A Tenente Coronel Lilith liderava o grupo, sua expressão carregada de dor, acompanhada por outros, incluindo várias crianças, entre elas Diego. A atmosfera ao redor deles era de pesar, e o caixão que seguia na procissão confirmava o que Jillian temia.

Alguém havia morrido.

Jillian permaneceu junto à janela, observando quando Suzanne correu em direção a Lilith, mantendo-se de costas para ela. Os lábios da Tenente se moviam, revelando algo que fez Suzanne parecer desabar. Diego, com prontidão, correu até ela, oferecendo apoio para que se mantivesse em pé enquanto absorvia a notícia.

E assim, como tantas vezes antes, Jillian viu o caixão seguir adiante, sem dúvida em direção ao cemitério próximo do casarão, onde tantas outras guerreiras da OCS haviam sido colocadas para descansar. Mas apenas como quando todo o grupo passou, é que ela notou a ausência de uma figura chave. Shannon não estava em nenhum lugar a vista. E naquele instante, ela soube o que aquilo significava.

**



Shannon foi enterrada ao lado de seus pais, sob forte comoção de todos. Diego e Frankie estavam lado a lado, de mãos dadas, confortando um ao outro. Diversas outras crianças e soldados, alguns acompanhados por seus parceiros, outros solitários, observavam em um silêncio sepulcral o caixão ser abaixado para a terra.

Não havia ninguém ali que Shannon não tivesse ajudado de alguma forma. Todos deviam algo a ela. Todos, à sua própria maneira, a amavam.

Lilith e Suzanne eram as únicas que mantinham os olhos secos. A mais velha observava o caixão sendo enterrado com uma expressão de absoluta contrariedade. Não era apenas a falta de crença no que estava acontecendo, mas também a incapacidade de se conformar com a cruel realidade.

A Tenente, por outro lado, só expressava raiva e pesar. E todos sabiam o que isso significava. O luto de todos era profundo, mas a indignação e a dor de Lilith e Suzanne refletiam não apenas a perda de uma companheira, de alguém da família, mas o peso do que a perda de Shannon realmente significava.

Menos de uma hora depois, uma mensageira foi despachada para avisar Beatrice do que havia ocorrido. Ninguém ousou pronunciar o nome de Mary. No dia seguinte, Lilith e um grupo de soldados partiram, certamente para se certificar de devolver aos Tarasks, na mesma moeda, pelo que havia acontecido.

Nada daquilo surpreendeu a médica.

No entanto, o que finalmente conseguiu abalá-la foi o fato de que, dois dias depois, Suzanne foi procurá-la. "Apronte suas coisas, estamos partindo," ela comandou, firme.

A coroa de espinhos (A Warrior Nun fanfic)Onde histórias criam vida. Descubra agora